quinta-feira, 17 de julho de 2008
Sombras na parede
Quando eu era apenas uma menina, e há quem até hoje duvide que eu tenha crescido,à noite, a nossa diversão era ouvir as histórias que minha mãe,e minha avó Dada, nos contava; sentávamos, eu, meus irmãos e, freqüentemente, primos e vizinhos que orbitavam nossa casa.E ela iniciava seus contos de forma direta, não havia "era uma vez...", as histórias que falavam de sacis e curupiras, de bois-tatás e cobras, fluiam de modo simples e contagiante e nos empolgava.
Quando a história terminava e chegava a hora de dormir, reclamávamos mais tempo e mais diversão e ela nos dava mais tempo. Com as mãos, colocadas à frente do abajur, fazia surgir magníficas formas na parede da pequena sala, minha avó, sentada a um canto sorria com a gente e entrava na brincadeira também; ao fundo, um rádio tocava músicas de Altemar Dutra ,formando a trilha sonora de minha infância...
As sombras na parede se transformavam em novas histórias e éramos convidados a criar, também as nossas formas, indios, patos, aves, rostos; tudo podia surgir na parede lá de casa e ríamos das tentativas fracassadas, dos animais deformados. Pedíamos mais, mas chegava a hora de dormir e a Vó franzindo a testa dizia: "Chega mulecada, todo mundo pra cama que tá na hora",e íamos dormir.
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