Então

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Cora Coralina – 123º Aniversário ~ Desertor.org

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Slava Fokk



Fokk Slava nasceu na Rússia em 1976. Graduou-se na Escola de Arte em Krasnodar, Rússia. Slava Fokk é um artista de um talento raro que combinou elementos do pós-modernismo e simbolismo russo.















Slava Fokk was born in Russia in 1976. He graduated from the Art School in Krasnodar, Russia. Slava Fokk is an artist of a rare talent
who combines elements of postmodernism and Russian symbolism.


"Slava Fokk was born into a family of artists in 1976 in Krasnodar in the south of Russia. A creative atmosphere has surrounded him since childhood – art workshops, studios and creative summer residencies. In 1997 he completed his training at Krasnodar Art School, also known as the Repin. Declared to be one of the brightest graduates of his class, Mr. Fokk graduated with high honors.

Some years later the reflective Slava decided to move to Moscow. In his words, “I felt that the atmosphere where I was living was pressing on me. At some point everyone needs to leave… to live somewhere else, far away. As a native of Krasnodar, I knew I would have to work to adapt to another city, another culture – and that it would be very useful.” The ancient Greeks said: “Only when you come back and realize that nothing has changed do you realize how much you yourself have changed.” In Moscow, where he became very productive, Slava was exposed to the “old” Russia, a combination of bourgeois and art.

“The greatest challenge an artist faces is to adequately channel his first bursts of creative energy. It is necessary to constantly work at improving one’s skills in order to effectively tackle this challenge.” “I combine practically obsolete concepts with modern decorative themes. In the present body of work, I wanted to create a slightly nostalgic atmosphere.”

His main focus is art of the “northern revival.” He is attracted to the oil paintings of the Netherlands schools. These provide a soft light and shadow with a sometimes internal light that seems to envelop the subjects and figures.




fonte: Artodyssey  

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Abismo de Rosas



- Mina ....Se a mão falasse, a minha mão diria : pude apertar a sua mão de leve.
- Beijo* Joana.




quarta-feira, 18 de julho de 2012

'Granta' - Francisco Bosco


O repúdio à valoração é um sintoma quase onipresente na cultura


Francisco Bosco


A revista inglesa “Granta” acaba de lançar a versão brasileira de sua já tradicional antologia dos melhores escritores abaixo de 40 anos. A seleção tem provocado reações exaltadas, sobretudo no sentido de questionar a legitimidade da antologia (e sobretudo na internet, claro). Na semana passada fui a um debate no IMS que reuniu o editor da “Granta”, John Freeman, e o da “Serrote”, Paulo Roberto Pires. Logo que a conversa foi aberta à participação da plateia, Freeman teve que responder a uma série de questionamentos sobre, no fundo, o seu direito de declarar que tais e tais autores são os melhores do Brasil. Desvencilhou-se sem dificuldade, com o irrefutável argumento de que qualquer pessoa tem o direito de fazer e defender suas escolhas, assim como qualquer pessoa tem o direito de discordar delas. O argumento deveria ser óbvio a todos, mas o fato de que é preciso sempre repeti-lo revela um problema (para além das evidentes motivações ressentidas): atualmente, toda distinção hierarquizante é percebida como um ataque à ideia de democracia. Isso, por sua vez, baseia- se numa ideia equivocada de democracia.


É preciso que se defenda a existência de dois movimentos simultâneos numa sociedade democrática. Um movimento horizontal e outro vertical. O princípio da igualdade é horizontal; segundo ele, todas as pessoas são iguais perante o Estado, perante as leis. O princípio da diferença é vertical; segundo ele, todas as pessoas devem ter garantidas as condições objetivas para seu aperfeiçoamento próprio, para o seu engajamento no processo de se tornar melhor — melhor que si mesmo e melhor que seus pares. A ideia de diferença, numa sociedade democrática, deve portanto ser penetrada pela ideia de valor. A diferença não pode ser percebida e defendida apenas como se pertencesse ao mesmo movimento horizontal da igualdade, mas também como movimento vertical de distinção,de separação, de superação da  igualdade.


Em outras palavras, o que aí está em jogo é a coexistência de demos (povo) e áristos (o excelente, o melhor). É muito importante que a igualdade não procure anular a distinção. É somente por meio dos movimentos de autoaperfeiçoamento, que certos indivíduos se propõem como tarefa, que uma cultura avança — não no sentido do “progresso”, mas no sentido da ampliação da experiência humana, de revelar aos homens aquilo de que eles próprios são capazes.


O advento do mundo digital trouxe potencialidades democráticas inestimáveis de descentralização e igualdade. Mas a internet não deve ser defendida como o espaço-modelo da democracia sem hierarquias, e sim como o espaço-modelo do acesso mais livre, logo mais democrático, ao mundo dos valores. Que críticas como essas à legitimidade da “Granta” encontrem sua trincheira na internet, isso relembra o seu potencial de livre expressão e cultivo do ressentimento — agora ideologicamente justificado por essa ideia democrática equivocada.


Paulo Roberto Pires lembrou, durante o debate no IMS, de uma boutade que revela precisamente o fundo fisiológico desse questionamento pseudocrítico: “O título da ‘Granta’ deveria ser ‘Os vinte escritores brasileiros mais odiados pelos 200 outros que não entraram’”. Os duzentos outros, ou quantos forem, deveriam fazer como o escritor Felipe Pena, que organizou a sua própria antologia (embora ela não deixe de revelar, em seu subtítulo, uma nota de ressentimento com “a crítica”). Se essa antologia for boa, ela acabará por provar seu valor na cultura. Os processos culturais de hierarquização são múltiplos, contam com vários agentes. Nunca se deve questionar o direito de valorar desses agentes, mas sim os valores afirmados.


O repúdio à valoração é um sintoma quase onipresente na cultura. Arte interativa, programas do tipo “você decide”, a irritante “participação do internauta”, tudo isso revela um desejo segundo o qual é mais importante ser igual aos outros do que diferente de si mesmo. Pois eu recuso isso , e aqui exerço meu papel político de tentar convencer meus concidadãos a recusarem também.


A democracia é origem, não destino. Ela deve garantir o direito de todos os cidadãos à igualdade perante as leis e ao acesso a bens culturais e sociais (saúde, moradia, educação etc.). Mas essa igualdade deve ser o ponto de partida para que os sujeitos se engajem num processo de superação de si mesmos. Era assim na Grécia antiga, berço da democracia (é claro que se tratava de uma democracia falha, onde a “igualdade” era para poucos), como esclarece Hannah Arendt: “Pertencer aos poucos iguais significava ser admitido na vida entre os pares; mas o próprio domínio público, a pólis, era permeado por um espírito acirradamente agonístico: cada homem tinha constantemente de se distinguir de todos os outros, de demonstrar, por meio de feitos ou façanhas singulares, que era o melhor de todos.”


A hierarquia não ataca a ideia democrática; é antes parte constitutiva dela. Nesses tempos de “participação do internauta”, a postura provocativa e exagerada de Nelson Rodrigues ganha estatuto de antídoto: “Assim como o Zé Celso acha que o espetáculo nada tem a ver com o autor, eu entendo que o teatro nada tem a ver com a plateia. Só reconheço na plateia uma função estritamente pagante. Não devia nem ter o direito do aplauso. O aplauso já me parece uma exorbitância.”


fonte: O Globo 18/07/2012

domingo, 8 de julho de 2012

Presença - Folha de Arte e Crítica


A publicação Presença - Folha de Arte e Crítica foi uma das mais influentes revistas literárias portuguesa do Século XX. Foi lançada em Coimbra, a 10 de Março de 1927, sendo publicados 54 números até à sua extinção em 1940.


"Folha de Arte e Crítica", publicada em Coimbra, em 1927, sob a direção de José Régio, Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões. 
Foi editada em duas séries: a primeira, entre 1927 e 1939, com cinquenta e três números, e a segunda com apenas dois números, entre 1939 e 1940.
 Em 1977, saiu um número especial, comemorativo do cinquentenário do seu lançamento.
 Distinguindo-se por um cuidadoso grafismo, enriquecido com reproduções de trabalhos de Almada, Sarah Afonso, Mário Eloy, Júlio, Dórdio Gomes, entre outros, a Presença recebeu colaboração de José Régio, Branquinho da Fonseca, Edmundo de Bettencourt, António Navarro, Carlos Queirós, Adolfo Casais Monteiro (que entra para a direção a partir do n.° 33), Miguel Torga, Alberto de Serpa, Francisco Bugalho, Saul Dias, João Falco (Irene Lisboa), Fausto José e João Gaspar Simões, entre outros. 
Acolheu textos de autores do primeiro modernismo como Luís de Montalvor, Fernando Pessoa, Almada, Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, Ângelo de Lima, aí vindo a colaborar ainda Vitorino Nemésio, Teles de Abreu (Jorge de Sena), Tomás Kim, Mário Saa, António Botto, Pedro Homem de Mello, Afonso Duarte, António de Sousa, João de Castro Osório, José Gomes Ferreira, Fernando Namora, João José Cochofel, Mário Dionísio, ou Joaquim Namorado. 
No n.° 1, na primeira página, José Régio publicou o texto "Literatura Viva", que pode ser entendido como manifesto programático da publicação. Defende nesse texto inaugural que "Em arte, é vivo tudo o que é original. É original tudo o que provém da parte mais virgem, mais verdadeira e mais íntima duma personalidade artística", pelo que, "A primeira condição duma obra viva é pois ter uma personalidade e obedecer-lhe". Reclama, assim, para a obra artística, o carácter de "documento humano", os critérios de originalidade e sinceridade, definindo "literatura viva" como "aquela em que o artista insuflou a sua própria vida, e que por isso mesmo passa a viver de vida própria." Com efeito, a descoberta, pelas leituras de Freud e Bergson, "do inconsciente e a sua colaboração nas mais rudimentares manifestações psíquicas" (J. G. Simões - "Individualismo e Universalismo", Presença, n.° 4, 1927), inspirará o pendor psicologista da criação literária revelada pela Presença, marcada por um lirismo e dramatismo na exploração das inquietações mais profundas do Homem. 
Em prefácio à edição fac-similada da Presença, David Mourão-Ferreira enumera os valores defendidos pela publicação: "Primado absoluto [...] de uma liberdade de criação tanto mais ameaçada [...] quanto pretendia exercer-se em período político de crescentes limitações à mesma"; "preeminência, pelo menos aparente, ou mais visível na doutrina do que em obras concretas, do individual sobre o coletivo", e do "psicológico" [...] sobre o chamado "social"; "afirmada valorização do intuitivo sobre o racional [...]"; "assumido princípio, a cada passo posto em prática, da total independência da arte e da crítica em relação a qualquer poder"; "exercício, enfim, de uma tónica intransigência perante as expressões inautênticas, todas as glórias fáceis ou fabricadas artificialmente, todos os produtos e todas as manobras de mediocridade mais ou menos organizada". 
A história da revista foi marcada por uma cisão entre os colaboradores - em 1930, Adolfo Rocha (Miguel Torga), Edmundo de Bettencourt e Branquinho da Fonseca endereçam a José Régio e João Gaspar Simões uma carta de dissidência - e pela polémica aberta com publicações defensoras de conceções estético-literárias de sinal oposto.
 Por volta de 1935, declara-se um conflito entre o grupo presencista e a geração neorrealista, que desponta em publicações como Seara Nova, O Diabo ou Sol Nascente, o primeiro acusando a segunda de não servir a arte, mas ideais sociais e políticos, e esta acusando os primeiros de alheamento num esteticismo egoísta. Em 1939, a revista inicia uma segunda série, que reafirma, em editorial, a opção por uma arte não-empenhada, embora consciente de que "a alguns parecerá desumanidade, mania, esta prova de atenção e amor às questões da arte, da crítica, da cultura, quando a questão social, a questão política e a questão económica deveriam, segundo esses, absorver todo o interesse de todos.", interessando-lhe exclusivamente "as criações de arte, as pesquisas ou conclusões da crítica" (Presença, n.° 1, 2.a série, 1939, p. 1).
 Coube à Presença, entre outros méritos, o de reabilitar as propostas artísticas da geração de Orpheu (o n.° 48 é dedicado a Fernando Pessoa), consagrando a modernidade literária veiculada pelos homens de 1915, e a exigência de isenção e rigor no exercício da crítica literária.
 Ao mesmo tempo, a Presença desempenhou um papel cultural determinante na divulgação de autores estrangeiros, como Proust, Gide, Pirandello, Dostoievsky, Ibsen, ou os brasileiros Jorge Amado, José Lins do Rego, Cecília de Meireles, Ribeiro Couto e Jorge de Lima.


fonte : Presença. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-07-08].
Disponível na www: .










Cântico negro
José Régio



"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio
, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

Revista presença (Coimbra 1927-1940), fundada por José Régio, Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões.
Neste número, de Julho de 1933, o poema «Tabacaria» de Álvaro de Campos, eng. naval.


    TABACARIA
    Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)

    Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.
    À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

    Janelas do meu quarto,
    Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
    (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
    Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
    Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
    Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
    Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
    Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
    Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

    Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
    Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
    E não tivesse mais irmandade com as coisas
    Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
    A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
    De dentro da minha cabeça,
    E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

    Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
    Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
    À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
    E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

    Falhei em tudo.
    Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
    A aprendizagem que me deram,
    Desci dela pela janela das traseiras da casa.
    Fui até ao campo com grandes propósitos.
    Mas lá encontrei só ervas e árvores,
    E quando havia gente era igual à outra.
    Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

    Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
    Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
    E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
    Gênio? Neste momento
    Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
    E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
    Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
    Não, não creio em mim.
    Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
    Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
    Não, nem em mim...
    Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
    Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
    Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
    Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
    E quem sabe se realizáveis,
    Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
    O mundo é para quem nasce para o conquistar
    E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
    Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
    Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
    Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
    Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
    Ainda que não more nela;
    Serei sempre o que não nasceu para isso;
    Serei sempre só o que tinha qualidades;
    Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
    E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
    E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
    Crer em mim? Não, nem em nada.
    Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
    O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
    E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
    Escravos cardíacos das estrelas,
    Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
    Mas acordamos e ele é opaco,
    Levantamo-nos e ele é alheio,
    Saímos de casa e ele é a terra inteira,
    Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

    (Come chocolates, pequena;
    Come chocolates!
    Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
    Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
    Come, pequena suja, come!
    Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
    Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
    Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

    Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
    A caligrafia rápida destes versos,
    Pórtico partido para o Impossível.
    Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
    Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
    A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
    E fico em casa sem camisa.

    (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
    Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
    Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
    Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
    Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
    Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
    Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
    Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
    Meu coração é um balde despejado.
    Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
    A mim mesmo e não encontro nada.
    Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
    Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
    Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
    Vejo os cães que também existem,
    E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
    E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

    Vivi, estudei, amei e até cri,
    E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
    Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
    E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
    (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
    Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
    E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

    Fiz de mim o que não soube
    E o que podia fazer de mim não o fiz.
    O dominó que vesti era errado.
    Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
    Quando quis tirar a máscara,
    Estava pegada à cara.
    Quando a tirei e me vi ao espelho,
    Já tinha envelhecido.
    Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
    Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
    Como um cão tolerado pela gerência
    Por ser inofensivo
    E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

    Essência musical dos meus versos inúteis,
    Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
    E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
    Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
    Como um tapete em que um bêbado tropeça
    Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

    Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
    Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
    E com o desconforto da alma mal-entendendo.
    Ele morrerá e eu morrerei.
    Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
    A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
    Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
    E a língua em que foram escritos os versos.
    Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
    Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
    Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

    Sempre uma coisa defronte da outra,
    Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
    Sempre o impossível tão estúpido como o real,
    Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
    Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

    Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
    E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
    Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
    E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

    Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
    E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
    Sigo o fumo como uma rota própria,
    E gozo, num momento sensitivo e competente,
    A libertação de todas as especulações
    E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

    Depois deito-me para trás na cadeira
    E continuo fumando.
    Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

    (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
    Talvez fosse feliz.)
    Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
    O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
    Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
    (O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
    Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
    Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
    Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.


    Álvaro de Campos, 15-1-1928







quinta-feira, 5 de julho de 2012

Diego e o mar...


Praia de Ponta do Mel em foto de Rachel Guedes.


Eduardo Galeano

Diego não conhecia o mar...
O Pai, Santiago Kovadloff, levou-o, então, para que  descobrisse o mar.
Viajaram para o sul...
O mar se encontrava do outro lado das dunas altas.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava de frente aos seus olhos.
Diante de imensidão do mar, o menino ficou mudo de beleza...
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
Pai, me ajude a olhar...!

sábado, 9 de junho de 2012

Morre aos 77 anos o escritor Ivan Lessa, em Londres


Do UOL
Ivan Lessa na redação da BBC Brasil, em Londres
Ivan Lessa na redação da BBC Brasil, em Londres


Escritor e jornalista, Ivan Lessa morreu na sexta-feira (8) de um enfisema pulmonar. Lessa, 77, que morava em Londres desde 1978, era conhecido pelo texto bem-humorado de suas crônicas para a BBC, onde  ele escrevia três vezes por semana.
Segundo o canal "Globonews", a mulher de Lessa, Elizabeth, o encontrou morto em seu escritório, ao chegar em casa à noite. Ao canal, ela disse que Lessa tinha dificuldades para sair de casa devido à doença, mas se recusava a ser internado.
Além dos textos para a empresa britânica, Lessa também colaborava com publicações brasileiras, como as revistas "Playboy "e "Piauí".  Foi um dos fundadores do extinto jornal "O Pasquim", célebre por sua resistência no período da ditadura militar. Ali, com o amigo e cartunista Jaguar, criaram o rato Sig, brincadeira com o psicanalista Sigmund Freud a partir da anedota "Deus criou o sexo, e Freud, a sacanagem". O ratinho virou um dos símbolos do Pasquim.
Filho do também escritor Orígenes Lessa, Ivan foi autor de quatro livros: "Garotos da Fuzarca" (1986), de contos; "Ivan Vê o Mundo" (1999), coletânea de crônicas suas para a BBC; "O Luar e a Rainha" (2005), também de crônicas; "Eles foram para Petrópolis" (2009), que reuniu os e-mails trocados publicamente entre Lessa e o jornalista Mário Sérgio Conti na coluna Correspondência, do UOL.

Última coluna zombava da morte

Em suas crônicas, Lessa costumava fazer piada de si próprio e da doença que o matou. "Um amigo erudito, que ocasionalmente vem visitar meu enfisema..." era o começo de um texto seu de 21 de maio.
Na última crônica para a BBC, inclusive, o escritor ironizava a própria morte. A inspiração, segundo o texto de Lessa, partiu do trabalho de um frasista francês. Confira algumas frases imaginadas por ele sobre sua própria morte:
"- Mas não se mata cavalos e malfeitores?
- Pelo menos eu driblaria o câncer.
- Milênio algum jamais me assustará.
- Apanhei-te horóscopo! Pura enganação!
- Levo comigo a reputação de meu terapeuta.
- Pronto, agora não voto mais mesmo! Chegou!
- Aí está: uma cura definitiva para a calvície.
- Enfim, ano bissexto nunca mais. Esses ficam para o Jaguar. O resto pro Ziraldo.
- Só quero ver quanta gente vai sincera no meu funeral.
- Pronto! Inaugurei estilo novo: Arte Morta.
- Custou, mas estou acima de qualquer lei que vocês bolarem aí.
- Levou tempo, mas cortei enfim meu cordão umbilical.
- Que desperdício nunca ter fumado em minha vida!
- Maioria silenciosa? Essa agora é comigo.
- Na verdade, nunca me senti à vontade nessa posição incômoda de cidadão do mundo.
- Agora é conferir se, do outro lado, sobraram tantas virgens assim."

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O mundo não é preto e branco, e sim colorido. Vamos falar de sexo?








Na época da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo sempre aumenta a minha percepção do quanto nós somos desinformados sobre a nossa própria sexualidade. E terreno sem informação é fértil para o brotar o preconceito e a discriminação, principalmente entre aqueles que acham que a vida é um preto e branco maniqueísta, homem e mulher, macho e fêmea e o resto é doença. Ignoram que há outras cores no meio do caminho que, por sua vez, podem ser tão específicas que apresentem tonalidades únicas e individuais. Sim, na prática, cada um tem sua própria cor. Assustador e maravilhoso isso, não?

Por isso, pedi para Claudio Picazio, psicólogo especialista em sexualidade, um texto que fosse didático para ajudar aos leitores deste blog a entenderem a questão. Ele não encerra o tema, claro. Muito pelo contrário, é um bom ponto de partida.

Para entendermos a sexualidade e por uma questão didática, vamos analisá-la sobre quatro aspectos diferentes e interligados: Sexo Biológico, Identidade Sexual, Papeis Sexuais e Orientação Sexual do Desejo. Repito essa divisão é didática, pois todos os aspectos se entremeiam, formando dentro de nós aquilo que chamamos identidade de gênero.
Sexo Biológico: Biologicamente falando quantos sexos existem? Dois, masculino ou feminino. Quando nascemos pelas características que nosso corpo possui, somos registrados como macho ou fêmea. Essa afirmação parece simplista e óbvia, mas não é bem assim, quando falamos de sexo masculino ou feminino estamos nos referindo às características dos órgãos sexuais e a predominância que este tem no nosso corpo.
Muitas pessoas nos anos 70, por uma questão de distinção ou até modismo, começou a chamar a homossexualidade de terceiro sexo. Isto não é verdade, só confundiu. Biologicamente falando, homens hetero, bi e homossexuais não têm a menor diferença, assim como as mulheres hetero, bi e homossexuais. Portanto, quando uma pessoa fala popularmente que um gay não é homem, esta incorreto, o gay é tão homem quanto qualquer outro, a única variação é por quem o seu desejo sexual se orienta. Há exceções, é claro. Por exemplo, uma pessoa hermafrodita nasce com uma dupla formação de características dos seus órgãos sexuais masculinos e femininos.
Identidade Sexual: Vamos definir como sendo o aspecto de onde guardamos a nossa certeza do que somos. Quando nascemos, somos registrados como menino ou menina. A partir daí somos tratados como tal e incoporamos a sensação de pertencemos a um gênero. Acreditamos que somos menina ou menino: a forma de como somos tratados é tão importante como o nosso sexo biológico para a formação da nossa identidade sexual. Mas a nossa identidade sexual não depende tanto do nosso corpo para se manter. Ele é importante para seu desenvolvimento, mas a sensação de quem somos é muito maior, e muito mais profunda do que o nosso corpo pode dizer.
Papeis Sexuais: Vamos entender como papeis sexuais, todos os comportamentos definidos como maneirismos, atitudes e expressões daquilo que chamamos de masculino e feminino. Papeis sexuais são variados de cultura para cultura de sociedade para sociedade e estão em constante transformação. Aquilo que era considerado há 20 anos como exclusivamente ao papel feminino, hoje também pode ser considerado do masculino. As mudanças sociais e econômicas, o movimento feminista permitiu uma flexibilidade e mudança das posturas rígidas de ser masculino ou feminino. Um exemplo: o uso de brincos por homens.
Ainda temos muito enraizado em nós os papeis sexuais e a analise que fazemos destes para julgar o outro. Uma mulher que não se identifique muito com os papeis femininos típicos, tenderá a ser “diagnosticada” pelos outros como lésbica. Mas papeis sexuais não determinam desejo erótico e sim ações e atitudes que incorporamos. Um garoto que não goste de futebol e de nenhum esporte violento, será interpretado como “mulherzinha, gay”. Pensando nesse exemplo, estamos dizendo que um homem heterossexual de verdade tem que ser violento assim como uma mulher heterossexual de verdade tem que ser passiva e meiga. Já estamos estabelecendo uma divisão entre os gêneros complicada, porque incentivamos um comportamento na criança que mais tarde brigaremos muito para retirar. Na verdade encontramos homens heterossexuais e gays violentos, assim como encontramos homens heterossexuais e homossexuais que não são violentos e nem se adaptam a essa postura.
Orientação Sexual do Desejo: Muita gente utiliza “opção sexual”, o que não é nada correto quando falamos da sexualidade. Quando falo em “opção” estamos falando em escolha e para ser considerada uma escolha teríamos que ter duas ou mais coisas de igual significado ou valor para quem escolhe. Se desejo erótico fosse opção teríamos que sentir desejos tanto por homens quanto por mulheres da mesma forma. Isso não acontece por ninguém. Nenhum de nós parou um certo dia, para pensar quem desejaria. Acredito que muitos gostariam que assim o fosse, por que isso o permitiria flexibilizar, variar, e não sofrer julgamentos e preconceitos tão doídos de serem combatidos. Dizemos Orientação Sexual do Desejo pois nosso desejo se orienta para um determinado objeto amoroso. Não optamos e sim percebemos o nosso desejo erótico, descobrimos algo que já parece instalado em nós.
O desejo erótico não é influenciável como se imagina ser. Se o fosse não existiram gays e lésbicas. A nossa sociedade é heteronormativa. Tudo que existe nela é feito pensando na heterossexualidade. Pais e mães educam seus filhos para a heterossexualidade. O preconceito social, a homofobia e as religiões ainda são muitos fortes na sua postura contra a homossexualidade. E mesmo com tudo isso os homossexuais não se influenciam pela heterossexualidade.
“Desejo sexual” é parte fundamental da orientação afetivo sexual, ao passo que uma “atitude sexual” pode existir interdependentemente da orientação do desejo. Por exemplo, na época da Segunda Grande Guerra muitas mulheres tinham relações sexuais entre si, assim como muitos homens, no campo de batalha. Estas mulheres sentiam falta de seus companheiros, a orientação de seu desejo era claramente voltada para homens, mas relacionavam-se sexualmente com outras mulheres. As mulheres motivadas por um desejo de descarregar a sua energia sexual. Com a volta de seus companheiros, essa atitude automaticamente deixava de existir.
Em muitos casos, homossexuais que não querem viver a sua orientação, vão à procura de igrejas, e/ou profissionais que estimulam atitude sexual desses homossexuais. Esses gays tentam viver anulando o seu desejo erótico e tendo somente atitudes sexuais heterossexuais. A dor psíquica é muito grande.
Muitos meninos têm uma relação que se chama “troca-troca” que está longe de ser considerada homossexualidade. Um dos motivos é porque para a maioria o objeto desejado internamente é uma pessoa do outro sexo. O que há é um exercício de sexualidade, um descarrego de energia que está vibrando nos corpos com toda a sua força e é vivido com um(a) colega. Em suma, todo ser humano pode ter uma atitude sexual com qualquer dos sexos, mas seu desejo interno, a libido, é o determinante de uma conduta homo, hetero ou bissexual.
O que seria então a bissexualidade? A bissexualidade não é termos uma atitude sexual por uma pessoa e um desejo erótico por outra. A bissexualidade é um fenômeno que algumas pessoas têm de desejar afetiva e sexualmente tanto homens como mulheres. Não podemos falar que um bissexual optou por homens ou por mulheres. Não escolhemos, conscientemente, por quem nos apaixonamos, assim como não escolhemos por que vamos desejar eroticamente.
Concluindo: podemos dizer que o desejo erótico, ou ele é homo, por uma pessoa do mesmo sexo que o nosso, hetero por uma pessoa do sexo diferente do nosso, ou bissexual que é o desejo erótico pela pessoa do mesmo sexo ou do sexo oposto.
E a Travestilidade e a Transexualidade, como se comportam? Uma pessoa hetero ou homossexual tem a sua identidade sexual correspondente ao seu sexo biológico. Uma travesti tem a sua identidade dupla, ou seja, ela se sente homem e mulher ao mesmo tempo. O leitor deve se lembrar quando falamos de identidade sexual? A sensação de pertencimento à identidade sexual feminina e masculina da travesti é o que lhe garante mais do que o desejo, a necessidade de adequar o seu corpo aos dois sexos que sente pertencer.
A Travestilidade também não é opção, muitas pessoas crêem erroneamente que a travesti é um gay muito afeminado que resolveu virar mulher. Além de simplista esta afirmação esta recheada de equívocos. Uma travesti diferente do gay tem uma identidade dupla: masculina e feminina. Uma travesti pode ter papeis sexuais tanto masculino como feminino, pois como já dissemos anteriormente esse é um processo de identificação com valores e costumes da sociedade. Quanto ao desejo erótico, uma travesti pode ser homo, hetero, ou bissexual.
A maioria delas se intitula homossexuais, mas não é bem assim. Quase a unanimidade dessas travestis sente-se mulher. Na grande maioria do tempo, elas não desejam eroticamente o seu amigo gay, elas desejam um homem típico heterossexual. Portanto se uma pessoa se identifica, sente-se mulher e sente atração por um homem, o seu desejo é heterossexual. Portanto a maioria das travestis tem o desejo heterossexual. Uma relação homossexual de uma travesti seria com uma outra travesti.
A Transexualidade, caracteriza se pela identidade sexual ser oposta ao sexo biológico é como se a sua “alma” fosse do sexo oposto do que o seu corpo a condena. A necessidade de correção do corpo para a identidade sentida se faz urgente. Muitos Transexuais se mutilam para poder fazer a cirurgia de adaptação genital. A força da identidade sexual é a tônica na construção da nossa identidade de gênero. Uma transexual também pode ser homo, hetero ou bissexual.
Para quiser se aprofundar, sugiro o livro “Uma outra verdade – Perguntas e respostas para pais e educadores sobre homossexualidade na adolescência”, de Claudio Picazio pela Editora Summus. A leitura é fundamental. Talvez com informação possamos inverter uma lógica perversa. Quando alguns pais “descobrem” que o filho é gay ou a filha lésbica, recebem suporte emocional de parentes e amigos. Mas deixam sozinhos seus filhos, que têm que passar sozinhos pela fase de sua própria descoberta. Isso é justo?

Os darwinistas estavam errados - por Rafael Garcia



Rafael Garcia


QUANDO UM JUIZ AMERICANO da cidade de Dover, na Pensilvânia, deu ganho de causa a um grupo de pais que processava uma escola pública por ensinar conceitos criacionistas a seus alunos, cientistas comemoraram. Apesar de ter ocorrido em em um tribunal local, o julgamento vinha sendo coberto por vários jornais dos Estados Unidos, e havia a expectativa de que a vitória, obtida em 2005, fosse se refletir na opinião pública reduzindo a influência de movimentos religiosos conservadores que tentavam sabotar o ensino da teoria da evolução no país.
Os biólogos que defendiam Darwin, porém, estavam errados em esperar um recuo dos criacionistas. Uma pesquisa de opinião divulgada na semana passada pelo Instituto Gallup mostra que, sete anos depois, 46% dos americanos acreditam que Deus criou a espécie humana do nada. O número é o mesmo de 30 anos atrás, quando o levantamento foi feito pela primeira vez.
O que os professores de biologia se perguntam agora é: o que pode ser feito? Por que as pessoas são tão refratárias à ideia da evolução por seleção natural? Por que esforços educacionais e as incontáveis obras de divulgação científica sobre o assunto têm sido inócuas na tentativa de manter o fundamentalismo religioso longe da ciência?
No Brasil, por enquanto, é difícil projetar a tendência de crescimento do criacionismo. Umapesquisa do Datafolha feita dois anos atrás mostra que 25% da população acredita na versão bíblica da origem da humanidade. Não sei se há dados mostrando quantos mais acreditam no “design inteligente”, a teoria criacionista que evita falar em Adão e Eva, mas defende o mesmo ponto.
Num país onde a educação ainda é um direito mal assegurado, dá medo. Muita gente confia que o curso natural da cultura humana fará com que ela abrace a ciência cada vez mais, mas nem sempre é assim. Um exemplo de que retrocessos ocorrem veio da Coréia do Sul, na semana passada. O país não apenas deixou de repelir a influência criacionista na educação como também aceitou demandas de religiosos para expurgar Darwin dos manuais de biologia.
A falta de pesquisas de opinião sobre criacionismo ainda torna difícil avaliar o problema em escala global, mas eu me arrisco a dizer que biólogos e educadores sérios, hoje, estão perdendo essa guerra.
Não vou discutir aqui o mérito de grupos conservadores em conseguir espalhar o evangelho do criacionismo. É inútil tentar convencer o inimigo de que sua causa é nociva. Mas acredito que nós, divulgadores da ciência, estejamos cometendo alguns erros.
Primeiro, não são julgamentos espetaculosos em tribunais que vão resolver esse tipo de problema. Cientistas já tinham tentado isso uma vez, em 1925, quando o professor de biologia John Thomas Scopes violou uma lei do estado do Tennessee que proibia o ensino de evolução. Scopes foi absolvido em última instância, mas com uso de uma manobra técnica (o primeiro juiz aplicara uma multa ilegal). O julgamento acabou com os biólogos cantando vitória, enquanto os criacionistas se consideraram “campeões morais”.
É necessário que haja segurança jurídica para o ensino da evolução, sim, mas suspeito que juízes e suas sentenças não têm o poder de mudar a cabeça das pessoas. Logo, acredito que aquilo que está faltando aos professores de ciências é uma estrutura mais proativa para fazer estudantes de fato entenderem de que se trata a evolução. A praga criacionista cresce no terreno fértil do analfabetismo científico. Ironicamente, talvez os educadores tenham algo a aprender com a tática de guerrilha dos grupos criacionistas, que atuam de forma descentralizada para espalhar suas ideias.
Segundo, é preciso evitar que o combate ao criacionismo se transforme numa cruzada contra a religião em si. Transformar o ensino de evolução em patrulha ideológica só vai fazer com que a rejeição a Darwin aumente. Richard Dawkins, possivelmente o maior porta-voz da luta anti-criacionismo no mundo, adotou essa abordagem ao escrever “Deus, um delírio” em 2006. O livro fez muito barulho ao ser lançado no mesmo ano de “Deus não é Grande“, do ensaísta Christopher Hitchens.
Sou bastante cético quanto ao potencial que tais autores têm de converter a turba criacionista. Particularmente, acho incômodo o fato de os dois textos basearem sua argumentação na crença de que a religião torna o mundo um lugar pior para se viver. Não é isso o que a própria ciência diz, e as evidências estão na maior revisão de estudos de sociopsicologia da religião já feita sobre o assunto, publicada em 2008 na prestigiada revista “Science”.
Para resumir, então, acredito que o combate ao criacionismo se beneficiaria de uma atitude mais ponderada dos biólogos. É preciso explicar que a teoria da evolução não está em conflito com uma compreensão religiosa mais sofisticada sobre a natureza, e não se pode embutir a pregação ateísta no ensino da biologia, porque a evolução não se trata disso. Além disso, é preciso mobilizar forças fora do âmbito oficial para dar fôlego ao ensino da biologia. Por que há tão poucas ONGs de educação se dedicando ao problema? Suspeito que as iniciativas para ensinar evolução fora do ambiente escolar estejam em falta. Quantas cidades têm o luxo de possuir um museu de história natural? Os criacionistas já estão começando a se mobilizar para montar osmuseus deles. Os biólogos precisam esperar o dinheiro do Estado para ampliar suas ações?
Não há como combater a ignorância sem investir na educação como um bem coletivo, e não há como frear o dogmatismo religioso tentando impor o ateísmo na marra. Se existe um desejo inconsciente dos cientistas de que todos se tornem ateus, talvez ele se realize num mundo onde as pessoas tenham bom repertório cultural e se sintam livres para pensar. Não vejo outro caminho.

Rafael Garcia, 37, é colaborador da Folha em Washington (EUA). Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), foi bolsista do programa Knight de jornalismo científico no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e editor-assistente na redação brasileira da revista “Scientific American”.

Relatório desaparecido por 147 anos conta morte de Lincoln




O testemunho de um jovem médico que correu para socorrer Abraham Lincoln, quando o presidente dos Estados Unidos foi assassinado em 1865, acaba de ser encontrado nos Arquivos Nacionais de Washington, depois de ter ficado "desaparecido" por 147 anos.
A cópia das 21 páginas de um relatório do médico militar Charles A. Leale, com 23 anos na época, foi descoberta por uma pesquisadora da associação "Documentos de Abraham Lincoln", Helena Ilhas Papaioannou, entre centenas de caixas de arquivos dos serviços médicos do Exército, anunciou a associação dedicada à obra escrita do 16º presidente dos Estados Unidos.
Charles Leale, formado em Medicina seis semanas antes do atentado, indicou em um depoimento escrito poucas horas depois do fato que ele se encontrava naquele 14 de abril de 1865 no Teatro Ford, em Washington, a cerca de 10 m de distância do presidente.
"A apresentação da peça Our american cousin (Nosso primo americano) seguia agradavelmente o seu curso, quando, de repente, ouvimos claramente um tiro. Um minuto depois, vimos um pequeno homem saltar (do camarote) no palco", escreveu o médico que desconhecia até então a identidade do assassino, John Wilkes Booth.
"Houve gritos: 'O presidente foi assassinado!', e depois 'Matem o assassino'", contou o jovem médico, que foi "levado às pressas para o camarote". "Assim que a porta se abriu e eu entrei, fui apresentado à Sra. Lincoln que disse: 'Oh doutor, faça o que puder por ele, faça o que puder'. Eu respondi que faríamos o nosso melhor", escreveu.
O jovem, o primeiro médico a chegar, descreve em seguida, de maneira muito clínica, o estado do presidente, como ele localizou a bala em sua cabeça e pediu por "água oxigenada e água". Os médicos oficiais chegaram ao local e decidiram levar Abraham Lincoln para uma casa próxima, onde "colocamos o presidente na diagonal em uma cama, que era muito pequena", escreveu Charles Leale.
Após examinar o ferimento, "nada mais foi feito, além de impedir a coagulação do sangue", prossegue o relatório, relatando o pulso intermitente do presidente e sua respiração cada vez mais difícil. "Às 7h20, ele deu seu último suspiro e sua alma voou para Deus", acrescenta a testemunha.
Para Daniel Stowell, diretor da associação, "este relatório é notável porque é um testemunho feito naquele mesmo momento, de maneira comovente. Podemos sentir como Leale e outros médicos sentiram-se impotentes, mas, ao mesmo tempo, não afundaram no sentimentalismo", disse.
Abraham Lincoln (1809-1865), um dos presidentes americanos mais admirados - e o primeiro a ser assassinado - foi eleito algumas semanas antes do início da Guerra de Secessão e morto cinco dias após o fim oficial do conflito entre o norte e o sul.
Ele permanece na história como aquele que assinou a emancipação dos negros, que levou à abolição da escravatura. O assassino John Wilkes Booth, morto a tiros duas semanas depois pelo exército, era um defensor do sul.
Charles Leale enviou, em julho de 1867, uma cópia do seu relatório, escrito pela mão de um secretário, para a comissão da Câmara dos Deputados encarregada de investigar o ataque, e nada mais foi dito sobre ele. Apenas uma alusão foi feita em 1909, 44 anos depois, em um discurso para marcar o centenário do nascimento do presidente assassinado. O relatório está dosónível no site da instituição..
fone:TERRA

sábado, 2 de junho de 2012

QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ FEZ ALGO PELA PRIMEIRA VEZ?





E ai, pensou quando foi a última vez que você fez alguma coisa pela primeira vez? Não é fácil, não é mesmo? Na rotina do nosso dia-a-dia, buscamos terminar as tarefas a fim de conseguir realizar alguma atividade prazerosa também. No entanto, as atividades que buscamos geralmente são as mesmas. Por que será?
Buscamos o mesmo, o conhecido, o certo, pois saber o que nos espera, saber o resultado de uma ação, o gosto de uma certa comida, é reconfortante. O estranho, o novo geralmente não é bom. Pode até ser interessante, mas o novo geralmente causa medo, receio, angústia.
Dificilmente uma criança gosta de mudar de escola. Para muitos, começar um novo emprego é algo excitante e, ao mesmo tempo, amedrontador. É algo comum as pessoas se hospedarem sempre na mesma rede de hotéis e, até mesmo na hora de trocar de carros, ficar com a mesma marca por anos.
Mudar, fazer algo novo envolve riscos, envolve disposição. É preciso motivação, estímulo e dedicação para conseguir sair do piloto automático em que vivemos a nossa vida, para escolher outro caminho.
Li em um artigo da FastCompany que muitas pessoas estão tentando sair um pouco da rotina e tentar coisas novas, porém estão encontrando mais dificuldade do que esperado. A ideia por trás disso tudo é a seguinte. A maioria das pessoas está tentando se beneficiar das promoções de compras coletivas comprando itens que normalmente não compraria, mas pelo valor atrativo, resolvem comprar. Ou seja, talvez eu nunca pularia de asa delta, mas por 50 reais, vale a pena, não é mesmo? Ou quem sabe, por 30 reais seja a minha chance de fazer uma tatuagem, ou experimentar uma aula de salsa, ou mesmo fazer uma massagem com vinho.
O motivo das mudanças não estarem dando certo, de acordo com as pesquisas do artigo, é que as pessoas estão tentando ser quem não são. Estão tentando mudar drasticamente suas personalidades, seus estilos. Nem sempre as mudanças precisam ser tão drásticas. O novo, não precisa ser tão diferente assim, pode, mas não precisa. Pequenas ações na nossa rotina podem ser modificadas e assim mudamos um pouco o nosso comportamento e oportunizamos novas descobertas. Querem ver um exemplo simples?
Ontem mesmo, saindo do supermercado encontrei diversos carrinhos deixados atrás de carros, cujos motoristas teriam uma desagradável surpresa ao retornar das suas compras. Custa levar o carrinho de volta ao seu destino? Aparentemente custa.

Se você é uma dessas pessoas, quem sabe da próxima vez, tente algo novo, e leve o carrinho de volta. Esse minuto a mais, não o atrapalhará, você não irá perder uma reunião ou algo pior. Quem sabe até não encontra alguém interessante no caminho? Dê chance ao acaso, permita que o imprevisível aconteça. Iniciamos o segundo semestre do ano, se dê de presente algo novo. Faça algo pela primeira vez, ainda hoje se possível.
Aline Jaeger

domingo, 27 de maio de 2012

Rubem Alves conta história do Caqui, no Japão



No Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, Rubem Alves conta a comovente história do caqui, no Japão.

domingo, 25 de março de 2012

Modesto Carone sobre Kafka









Modesto Carone traduziu para o português a obra inteira de ninguém menos que Franz Kafka, escritor tcheco, um dos maiores nomes da literatura mundial. Mas não se limitou à especialização. Escreveu ensaios e contos e foi duas vezes premiado com o Prêmio Jabuti.

Antônio Abujamra e Modesto Carone conversam sobre a vida e a obra de Franz Kafka. E o nosso convidado diz que Brecht é quem mais se aproxima da obra do tcheco.

Modesto já deu aulas em Praga mas diz que prefere a USP, em São Paulo, onde se formou em Letras. 



fonte: Digestivo Cultural