Então

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Intervozes - Levante sua voz

"Deixa, deixa, deixa, eu dizer o que penso desta vida, preciso demais desabafar..." (Marcelo D2)

Intervozes - Levante sua voz from Pedro Ekman on Vimeo.


Vídeo produzido pelo Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social com o apoio da Fundação Friedrich Ebert Stiftung remonta o curta ILHA DAS FLORES de Jorge Furtado com a temática do direito à comunicação. A obra faz um retrato da concentração dos meios de comunicação existente no Brasil.

Roteiro, direção e edição: Pedro Ekman
Produção executiva e produção de elenco: Daniele Ricieri
Direção de Fotografia e câmera: Thomas Miguez
Direção de Arte: Anna Luiza Marques
Produção de Locação: Diogo Moyses
Produção de Arte: Bia Barbosa
Pesquisa de imagens: Miriam Duenhas
Pesquisa de vídeos: Natália Rodrigues
Animações: Pedro Ekman
Voz: José Rubens Chachá

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Quando Deus acorda


Foto Juliana Camargo Macedo

por Samara7days


Os pretos, as mulheres e os viados viraram crianças! Num mundo de homens heteros brancos é mais fácil sentir dor quando a carne não tem cor ou sexualidade definida. Quando crianças sangram na tela, a dor dói nas gavetas, nos segredos de todos.

É óbvio que há o interesse evangélico de jogar o Papa e padres na sarjeta. Eu, particularmente, acho merecido. Mas nenhum pastor é cordeiro neste inferno, nem rabinos, pais-de-santo ou qualquer "sacerdote" de qualquer religião que usa deuses para vampirizar poder.

Padre ou pastor são bois de piranha, só desviam a atenção dos mesmos atos cometidos por primos, por pais, por tios, por irmãos, por padrastos, por vizinhos ou a qualquer lobo mau real, que devora carnes pelo poder, em silêncio, no medo.

Tratar-se padres como se fossem os seres mais demoníacos, como se a pedofilia fosse um crime anormal e raro é cretinice. Nunca foi! É tão normal como acordar. A questão é como tratar um ato que ultrapassa todos os limites de raça, religiões e culturas.

E nem precisa ser criança para se ter a carne seqüestrada. É uma questão de poder, medo e vergonha. Vivemos em uma humanidade doente sexualmente, poucos sabem o que é o prazer sem neuroses.

O sexo, que deveria ser um momento de libertação, transformou-se numa batalha de seres inseguros que nem sabem onde querem chegar. Como se pode dar prazer ao outro quando nem eu sei onde está o meu?

Quase todos somos platéias viciadas de filmes pornôs ou de homéricos contos eróticos de amigos. Um mundo de homens e mulheres vergonhosos por seus paus e peitos pequenos, disputando com homens e mulheres que escondem suas grandes vantagens, timidamente.

Como relaxar no meio de tanta crueldade? Poucos entendem que sexo bom, às vezes, nem é tão sexo! Talvez se toda essa neurose não fosse construída ninguém precisaria ser espancado num lustre, vestido em couro de cabras albinas, criadas por freiras manetas da Mesopotâmia.

Quem sabe o mundo fosse melhor, se lembrássemos que somos tão animais como os peixes que devoram ( pela boca) os filhotes, por puro instinto. Meu respeito e minha insegurança em relação à humanidade está no limite em que me reconheço como um animal.

Eu acredito em Deus para dar um sentido nobre à minha existência, e mesmo sabendo que a possibilidade Dele não existir seja óbvia, continuo acreditando. Deus é a melhor invenção dos macacos, e, embora, Ele seja a maior prova da nossa ignorância, eu rezo!

Se existir um inferno, sei que irei para lá. Quem sabe seja um lugar verdadeiro, de gente que arriscou acreditar em suas loucuras. Nunca busquei um mundo perfeito, só quero ficar à vontade e me divertir com pessoas que sabem rir de si mesmo.

Amém.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Hoje eu acordei índio



Os índios devoravam o corpo. Os brancos devoram a alma...



Mas na realidade o Brasil é um só e de todos nós!
Enquanto nós permitirmos que o planeta seja explorado desgovernadamente, sem respeitar os limites da natureza, em se recompor para poder suprir as nossas necessidades, nós estamos colocando as nossas próprias vidas em perigo.
A natureza vem dando sinais de cansaço por essas explorações violentas, percebe-se que se não cuidarmos dela, todos nós vamos pagar as conseqüências.
Ela está reclamando da nossa impiedosa exploração, e não é pela nossa sobrevivência, mas sim pela ganância dos homens.
Se continuar nesse ritmo desenfreado, não vai levar cinqüenta anos, vai ser bem mais cedo, nós já estamos assistindo essa reação da natureza!
A natureza é verdadeiramente socialista, ela não diferencia a riqueza da pobreza, todos nós vamos pagar com o seu desequilíbrio, provocada pela exploração cruel e desenfreada, seja por quem for!





ndios
Legião Urbana
Composição: Renato Russo

Quem me dera
Ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha

Quem me dera
Ao menos uma vez
Esquecer que acreditei
Que era por brincadeira
Que se cortava sempre
Um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda

Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ninguém
Consegue entender
Que o que aconteceu
Ainda está por vir
E o futuro não é mais
Como era antigamente.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Entender como um só Deus
Ao mesmo tempo é três
Esse mesmo Deus
Foi morto por vocês
Sua maldade, então
Deixaram Deus tão triste.

Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do iní cio ao fim.

E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Acreditar por um instante
Em tudo que existe
E acreditar
Que o mundo é perfeito
Que todas as pessoas
São felizes...

Quem me dera
Ao menos uma vez
Fazer com que o mundo
Saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz
Ao menos, obrigado.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado
Por ser inocente.

Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!

Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.

E é só você que tem
A cura pro meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Nos deram espelhos
E vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.

domingo, 18 de abril de 2010

Gabriel Celaya

POEMA EN NEGRO DE GABRIEL CELAYA



Gabriel Celaya en el programa A Fondo ==>> Link AQUI

MONTEIRO LOBATO



"Um país se faz com homens e livros"

Monteiro Lobato


José Bento Monteiro Lobato nasceu a 18 de abril de 1882 —mas jurava de pé junto ter nascido em 1884— na cidade de Taubaté.

Filho do fazendeiro José Bento Marcondes Lobato e de dona Olímpia Augusta Monteiro Lobato, ele foi, além de inventor e maior escritor da literatura infanto-juvenil brasileira, um dos personagens mais interessantes da história recente desse país.

Cético, tinha como um de seus ditos preferidos o de "não acreditar em nada por achar tudo muito duvidoso". Porém, contrariando sua frase predileta, acreditou em muitas coisas durante sua vida e uma delas foi a indústria brasileira do livro, fundando, em 1918, a "Monteiro Lobato e Cia", a primeira editora brasileira.
Antes de Lobato todos os livros eram impressos em Portugal; com ele inicia-se o movimento editorial brasileiro.

Em 1917, Lobato publicou o contundente artigo "Paranóia ou Mistificação?'', no qual criticou uma exposição de Anita Malfatti e a influência dos "futurismos'' nas obras da artista. Para ele, cada arte, como as ciências, tem suas leis (proporção, simetria etc.), e Malfatti era excelente artista quando as cumpria, tinha um "talento vigoroso, fora do comum", porém, o escritor não gostava quando a artista se deixava seduzir pelas vanguardas européias, assumindo, segundo ele, "uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso & Cia.".

Em 1926, ao comentar, no Diário da Noite, o lançamento de um livro de Oswald de Andrade, escreveu: "apareceu em São Paulo como o fruto da displicência dum rapaz rico (...): Oswaldo de Andrade''.

Em seguida a este artigo, Mário de Andrade publicou um artigo no jornal "A Manhã" no qual decretou a morte de Monteiro Lobato, porém, na década de 30, Lobato, Mário e Oswald fizeram as pazes e ele chegou a defender Mário em carta enviada a Flávio Campos na qual afirmava que "Mário, pelo seu talento no analismo criticista, tem direito a tudo, até de meter o pau em você e em mim''.


Jeca Tatu em charge feita por Belmonte

Nos anos seguintes, Lobato publicou seus primeiros livros: "Urupês", "Cidades Mortas" e "Negrinha". Segundo Marisa Lajolo, Lobato nestes livros traz o melhor de sua literatura, principalmente em "Urupês'' e "Negrinha'', nos quais, segundo ela, "comparecem os diferentes brasis que até hoje, sob diferentes formas, assombram as esquinas da nossa história. Os contos contam do trabalho do menor, do parasitismo da burocracia, da violência contra negros, imigrantes e mulheres, da empáfia dos que mandam, do crescimento desordenado das cidades, da degradação progressiva da vida interiorana; enfim, os contos contam do preço alto do surto de modernidade autofágica que desemboca na crise de 30."
Os dois livros mostram a "aguda sintonia de Lobato com um tempo que reclamava novas linguagens" e marcam a vigorosa entrada no mundo literário brasileiro de um grande escritor que, segundo ele mesmo disse, "talento não pede passagem, impõe-se ao mundo".

Logo depois ao glorioso início da carreira literária, Lobato viajou para os Estados Unidos, voltando somente em 1931. Lá enfrentou sérios problemas. Seu livro "O Presidente Negro e o Choque de Raças" —uma história que narra a vitória de um candidato negro à Presidência dos EUA— não foi muito aceito e acabou por custar-lhe grandes desgostos, mas aqui, sempre foi um ardoroso defensor daquele país, chegando a afirmar, em carta enviada a Érico Veríssimo, que considerava os "Estados Unidos como uma dessas famosas composições musicais que são impostas a todos os grandes executantes a fim de tirar a prova dos noves fora do seu valor real, a rapsódia húngara de Lizt (sic), certas fugas de Bach".

Nessa mesma carta, ao comentar o novo livro de Érico, Lobato afirmou: "Escrever bem é mijar. É deixar que o pensamento flua com o à vontade da mijada feliz."

Quando regressou ao Brasil, em 31, Lobato chegou com mais uma crença: acreditava piamente nas riquezas naturais do país e na sua capacidade de produzir petróleo.



Charge feita por Belmonte, na qual Lobato faz uma "Campanha" pelo petróleo no Brasil

Sofreu por isso. Foi um dos maiores defensores de uma política que entregasse à iniciativa privada a extração do petróleo em solo brasileiro. Chegou a remeter uma carta ao presidente Getúlio Vargas na qual denunciava o interesse estrangeiro em negar a existência do "ouro negro" no Brasil e acabou detido no presídio Tiradentes de onde ele enviaria a seus amigos em todo o país cópias da carta que Getúlio considerara "ofensiva".

Monteiro Lobato seria preso novamente pelo mesmo motivo em 1941. Esta luta pelo petróleo acabaria por deixá-lo pobre, doente e desgostoso.

Foi também um dos mais fervorosos adeptos do "georgismo" (jornalista e economista norte-americano Henry George que propôs o imposto único sobre o valor da terra, conforme teoria exposta em seu livro "Progress and Poverty", publicado em 1879). No ano de 1948 publicou pela editora Brasiliense um folheto intitulado "O Imposto Único", no qual Lobato sintetizava a "maravilhosa solução" proposta pelo teórico norte-americano.

Grande parte da literatura de Monteiro Lobato sempre foi direcionada aos leitores pequeninos. Produziu durante toda sua carreira literária 26 títulos destinados ao público infantil. É um dos mais importantes escritores da literatura infanto-juvenil da América Latina e também do mundo.
Sua obra completa foi , em 1946, publicada pela Editora Brasiliense. Esta edição foi preparada e reformulada pelo próprio Monteiro Lobato, o qual, inclusive, reviu diversos de seus livros infantis.

Sua genialidade foi sempre à frente de seu tempo, pois se Laura Esquivel é atualmente famosa pelo seu "Como Água para Chocolate", onde faz da culinária um arte revolucionária dentro da sua literatura, Lobato, por sua vez, e muito antes de Esquivel, tem uma passagem genial na qual inventa livros comestíveis para serem devorados pelos leitores e uma outra onde Narizinho e Pedrinho perdem-se na floresta e, para não morrerem de fome, cortam uma palmeira e comem palmito com mel. Prato moderníssimo.

Também foi um defensor do cinema, de Walt Disney e da frenética velocidade da vida e da cultura norte-americana. Segundo ele "a velocidade no transporte do pensamento" dessa cultura e seus "maravilhosos espetáculos da arte muda" são "uma lição de moral que, se fora aceita, tiraria ao Rio o seu aspecto de açougue do crime passional. O cinema americano ensina o perdão..."

Progressista inveterado, Lobato escreveu certa vez a respeito daqueles que são contrários às coisas novas a seguinte frase: "O grande erro dessa casta de homens é confundir corrupção com evolução. Condenam as formas novas de vida, que se vão determinando em conseqüência do natural progresso humano, em nome das formas revelhas. Logicamente, para eles, o homem é a corrupção do macaco; o automóvel é a corrupção do carro de boi; o telefone é a corrupção do moço de recados".

Monteiro Lobato morreu, vitimado por um derrame, às 4 horas da madrugada do dia 4 de julho de 1948, deixando um legado de personagens que ficarão para sempre impregnados nas retinas de todos aqueles que tiveram e que terão contato com as histórias do Jeca Tatu, do Saci, da Cuca, da boneca Emília, do Visconde de Sabugosa, da Narizinho, do Pedrinho, da Tia Nastácia, da Dona Benta, entre outros tantos que habitam as obras deste que foi conhecido como "O Furacão da Botocúndia".

Fonte :Renato Roschel
do Banco de Dados da Folha De São Paulo

Dia de Monteiro Lobato e Dia Nacional do Livro Infantil

domingo, 11 de abril de 2010

Mitos, ciência e religiosidade por Marcelo Gleiser




É possível ser uma pessoa espiritualizada e cética

Começo hoje com a definição de mito dada por Joseph Campbell, uma das grandes autoridades mundiais em mitologia: "Mito é algo que nunca existiu, mas que existe sempre". Sabemos que mitos são narrativas criadas para explicar algo, para justificar alguma coisa. Na prática, não importa se o mito é verdadeiro ou falso; o que importa é sua eficiência.
Por exemplo, o mito da supremacia ariana propagado por Hitler teve consequências trágicas para milhões de judeus, ciganos e outros. O mito que funciona tem alto poder de sedução, apelando para medos e fraquezas, oferecendo soluções, prometendo desenlaces alternativos aos dramas que nos afligem diariamente.
A fé num determinado mito reflete a paixão com que a pessoa se apega a ele. No Rio, quem acredita em Nossa Senhora de Fátima sobe ajoelhado centenas de degraus em direção à igreja da santa e chega ao topo com os joelhos sangrando, mas com um sorriso estampado no rosto. As peregrinações religiosas movimentam bilhões de pessoas por todo o mundo. É tolo desprezar essa força com o sarcasmo do cético. Querendo trazer a ciência para um número maior de pessoas, eu me questiono muito sobre isso.
Como escrevi antes neste espaço, os que creem veem o avanço científico com uma ambiguidade surpreendente: de um lado, condenam a ciência como sendo materialista, cética e destruidora da fé das pessoas. "Ah, esses cientistas são uns chatos, não acreditam em Deus, duendes, ETs, nada!"
De outro, tomam antibióticos, voam em aviões, usam seus celulares e GPSs e assistem às suas TVs digitais. Existe uma descontinuidade gritante entre os usos da ciência e de suas aplicações tecnológicas e a percepção de suas implicações culturais e mesmo religiosas. Como resolver esse dilema?
A solução não é simples. Decretar guerra à fé, como andam fazendo alguns ateus mais radicais, como Richard Dawkin, não me parece uma estratégia viável. Pelo contrário, vejo essa polarização como um péssimo instrumento diplomático. Como Dawkins corretamente afirmou, os extremistas religiosos nunca mudarão de opinião, enquanto um cientista, diante de evidência convincente, é forçado eticamente a fazê-lo. Talvez essa seja a distinção mais essencial entre ciência e religião: o ver para crer da ciência versus o crer para ver da religião.
Aplicando esse critério à existência de entidades sobrenaturais, fica claro que o ateísmo é radical demais; melhor optar pelo agnosticismo, que duvida, mas não nega categoricamente o que não sabe. Carl Sagan famosamente disse que a ausência de evidência não é evidência de ausência. Mesmo que estivesse se referindo à existência de ETs inteligentes, podemos usar o mesmo raciocínio para a existência de divindades: não vejo evidência delas, mas não posso descartar sua existência por completo, por mais que duvide dela. Essa coexistência do existir e do não-existir é incômoda tanto para os céticos quanto para os crentes. Mas talvez seja inevitável.
A ciência caminha por meio do acúmulo de observações e provas concretas, replicáveis por grupos diferentes. A experiência religiosa é individual e subjetiva, mesmo que, às vezes, seja induzida em rituais públicos. Como escreveu o psicólogo americano William James, a verdadeira experiência religiosa é espiritual e não depende de dogmas. Apesar de o natural e o sobrenatural serem irreconciliáveis, é possível ser uma pessoa espiritualizada e cética.
Einstein dizia que a busca pelo conhecimento científico é, em essência, religiosa. Essa religião é bem diferente da dos ortodoxos, mas nos remete ao mesmo lugar, o cosmo de onde viemos, seja lá qual o nome que lhe damos.

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro "Criação Imperfeita"

Fonte : Folha uol.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Os sem-celular



Vanessa Barbara

O telefone celular não é apenas um artefato do Coisa-Ruim, assim como a televisão é a Besta encarnada. É um rastreador do governo/alienígenas/palhaços/Grandes Corporações que serve para manter cada indivíduo sob o domínio deles. Via satélite, eles controlam aonde o senhor 9999-9999 vai, o que fala, quanto tempo demora a digerir um rosbife e tudo o que está pensando, inclusive quando, silenciosamente, comemora: "Humm, rosquinhas".

Somos 37 os integrantes do combalido Grêmio Pan-americano de Repúdio ao Celular, organização com fins lucrativos que se dedica a imprecar contra o aparelho de telefonia móvel. No quadro de associados, figuram meu avô, o Elton John, um sujeito que mora ao sul de Tocantins, uma velha chamada Celeste que tem os dedos gordos e não consegue apertar as teclas individualmente, o Chico Buarque, o Matheus Nachtergaele, o tio de uma amiga minha, a cantora Stephany do Piauí, um andarilho chamado Ganesha Sol de Oliveira e eu.

Nos últimos meses, o número de membros só tem diminuído, devido à idade avançada dos fundadores e por conta de certos escândalos ― como telefones pessoais vibrando durante a reunião de diretoria.

Em dezembro do ano passado, o Brasil chegou a 169 milhões de celulares. São 88,43 aparelhos para cada 100 habitantes. É questão de tempo para que todos os terráqueos (menos nós, os 37) estejam sob o domínio deles.

É fácil reconhecer as vítimas deles. Vejam como ficam desorientados, remexendo suas bolsas diante de qualquer ruído, mesmo quando a gente imita som de telefone com a boca. Diante de um sinal preestabelecido, como o hino do Palmeiras ou Adocica, de Beto Barbosa, todos sairão correndo para atender seus respectivos telemóveis e receberão ordens de aplicar petelecos uns aos outros. A senha para a instauração da balbúrdia será: "É o meu! É o meu!", e nós, os 37, assistiremos ao espetáculo com um sorriso no rosto, tranquilos e gabolas.

Gostamos bastante de celulares que explodem. Apreciamos macabros ringtones que provocam sustos nos proprietários. Exultamos ao ver as filas à porta das operadoras, gente que tropeça no ônibus com o aparelho equilibrado entre a orelha e o ombro e, sobretudo, o semblante de pânico e prontidão no rosto de quem traz a maléfica engenhoca no bolso. Reagimos com euforia às pesquisas que dizem que o celular dá gota, tifo e problemas abdominais a esclarecer. Exemplo: a partir de 1994, a cidade de Londres registrou um declínio de 75% na população de pássaros, o que coincide com a popularização dos celulares na cidade.

Outro dia, li numa revista institucional uma matéria definitiva sobre as benesses do celular, elaborada inteiramente a partir de um gerador automático de artigos: cinco páginas de puro senso comum, com estatísticas aleatórias e frases de efeito a cada fim de parágrafo. O texto, que de resto era profundo como uma bateria de telefone portátil, terminava, triunfantemente, da seguinte maneira: "Com ou sem radiação, símbolo de status, objeto funcional ou companheiro virtual, não importa: o celular mudou definitivamente as nossas vidas ― e o seu alcance ainda nem chegou perto de todo o seu potencial".

Como se pode ver, o celular realmente frita os neurônios. Em questão de minutos. "Com ou sem radiação" virou o mote do nosso grêmio, que se gaba de ter um telefone fixo, de disco, só para receber ligações dos advogados da Cooperativa de Telefonia Móvel. Também temos orgulho de haver eleito Edson Celulari como inimigo número um da classe, num congresso que durou três horas e terminou com uma feirinha de artesanato e papéis de carta.

Uma coisa que invejamos nos usuários, porém, é a capacidade de realizar complexas operações matemáticas e calcular variantes. Exemplo: a operadora X fornece 23% de desconto na franquia mensal para quem fala 280 minutos em ligações locais, envia 100 torpedos por mês, baixa três megabytes de dados e tem uma tia chamada Lourdes. Já a operadora Y cobra só depois do primeiro minuto, permite roaming gratuito, exige fidelidade de dezoito meses e libera sem custos o envio de fotomensagens. É preciso ter doutorado em estatística para computar esses dados. Pois bem, o detentor de um celular considera todos esses fatores simultaneamente e, no final, escolhe o pior plano, com os piores atendentes, e um sinal fanho que só melhora nas cercanias do Pico do Jaraguá.

Em geral, o dono de uma linha iniciada com 6, 7, 8 ou 9 costuma estrear a engenhoca no ônibus. A quem interessar possa, se é que isso algum dia interessaria a alguém, ele grita: alô? está me escutando? estou entrando num túnel. E em seguida passa a fornecer informações em tempo real sobre o itinerário. É esse o grande barato do telefone móvel: anunciar ao pessoal de casa que já vou chegar, estou na frente do castelinho, e, pouco depois: acabei de passar no ponto do frangão, mais uns cinco minutos... É comum mentirem: em Copacabana, dizem que estão quase chegando no Méier. Ou então engatam uma conversa íntima sobre o furúnculo do cunhado, a excursão feita pela Europa, as enchentes, a evolução das espécies. Quando menos se espera, o bate-papo já virou briga, com direito a descrição dos mais recentes escândalos extraconjugais. O chato é que ninguém está autorizado a levantar a mão e tirar suas dúvidas.

Há também os que atendem o telefone no cinema, gritando: agora não dá, estou no cinema (não diga!). Ou os que resolvem checar as mensagens durante os trailers, projetando um facho de luz celestial que cega temporariamente até o homem da projeção. Ou então aqueles que usam o aparelho como se fosse um walkie-talkie, no viva-voz, e nem têm a gentileza de anunciar antes: "Estou aqui na praça com mais cinco desconhecidos, uns bebês, a moça do sorvete, o varredor e o pessoal que saiu do filme por minha causa. Todo mundo está ouvindo. O que você queria me contar sobre a sua micose?".

Como se não bastasse, os proprietários de celular são comprovadamente culpados por acidentes de toda sorte, como o entupimento involuntário de privadas e o congestionamento de pedestres nas calçadas. O fenômeno ocorre quando um ou mais transeuntes atendem uma chamada e passam a andar mais devagar, descrevendo um movimento de cambaleante zigue-zague, para desespero dos que estão atrás. É ruim, mas nada é pior do que tentar conversar com alguém que está mandando mensagens. De quando em quando, o sujeito levanta a cabeça, faz a tradicional pausa de quem estava em outra era geológica e pergunta: "Quem?", alcançando o assunto com dois meses de atraso.

Nosso grêmio está aceitando novos membros. A prioridade é para quem nunca teve um celular e não pretende ter, nem sob o seu cadáver, mesmo que seja justamente para chamar a emergência e salvar a própria vida. Também podem se candidatar aqueles que possuem o aparelho mas desejam se recuperar, os ex-nomofóbicos (dependentes patológicos) e os que o deixam desligado na gaveta de casa, desde que não saibam "que botão eu aperto para atender".


Texto Originalmente publicado na revista Piauí de março de 2010.Fonte:Digestivo Cultural

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Tati Monteiro - Menina Poeta de Alma Nômade



Folhas perdidas

Surge um grande momento em toda a existência,
A árvore chora suas folhas, quase todas caídas,
Sente que cai um pedaço de toda sua experiência,
A árvore pensa que está sendo sempre traída,
Mas no mundo ainda prevalece a lei da sobrevivência,
Fica o mais forte, restam apenas folhas perdidas...
Se a árvore não soubesse que o mundo dá voltas,
Tudo aquilo que há na vida deve ao início retornar,
As folhas que caem são da sua música as notas,
Não adianta querer viver somente para cantar,
Se todos conservassem no coração suas revoltas,
Quando nós conseguiríamos nos reencontrar?...
Só assim conseguimos entender o sentido da vida,
No momento em que mais precisamos de alguém,
Quando no caminho pessoa alguma nos auxilia na lida,
Vamos em frente, mas junto conosco ninguém vem,
Seria nos nossos sonhos nossa pequena asa partida,
Sabemos que há muitos males que vêm para bem...
Todos no decorrer do tempo somos folhas na verdade,
Sentindo tudo o que há de triste nas nossas vidas,
Verdes, deveríamos procurar aos poucos a felicidade,
Deixar pra trás nossas mágoas, nossas feridas,
Amadurecemos no caminho de volta à realidade,
Quando amarelas, somos apenas folhas perdidas...
E se ainda houver tempo dentro da nossa geração
Vamos continuar o nosso caminho, sempre vivendo,
Pois as folhas às raízes e ao duro chão retornarão,
Se houvesse tanto ou pouco tempo aprendendo,
Se não houvesse um pouco de sofrimento no coração,
Seríamos folhas, simplesmente perdidas, morrendo...
O eu amigo ou o amigo eu
Eu sou aquilo que não gostaria que vissem,
Descobrem-me sem olhar-me nos meus olhos,
Sou a água, o vinho, antes que partissem,
Sou de você todos, todos os seus sonhos...
Sou dos sonhos desfeitos o que resiste,
Sou aquele que traz o vento mais forte,
Você é a rara beleza que ainda existe,
Você é mais forte do que a própria morte...
Sou a vida que não se acaba, se busca,
Sou compelida a buscar o que não quer vir,
Sou o vento, a palavra, a vida brusca,
Sou a lágrima que cai ao você sorrir...
Sou o seu sonho desfeito mais uma vez,
Sou a sua respiração, sou seu simples ar,
A vida que ao nascer sozinha se desfez,
Sou o que termina e o que vai continuar...
Sei que se um dia eu tiver que virar o pó,
Que o vento não o ventile sobre jornais,
Você foi uma pessoa que me desfez o nó,
Sou o que sou para você e serei sempre mais...
Poesia do poetizar
A linha espera um tracejado
De minha mão trêmula,
Sedenta,
Inquieta...
Abunda palavras indeléveis,
Desenrola carretéis
Em galhos à luz das estrelas...
A poesia que nasce
Está nos olhos de quem lê
E na alma de quem escreve...
Ah!
Poesia que nasce todos os dias,
Não se esqueça dos pobres mortais
A acompanhar a lenta agonia
E a saída sem razão de emoções!
Poesia amiga,
Cante sua forma mais bela,
Tatue-se em minha pele,
Faça-me tornar apenas sua,
Mas faça com que a marca seja eterna
E não saia de seu coração...
Poesia...
Seja a mais bela forma
De recomeçar uma vida perdida!
A vida espera o recomeço
Enquanto alguns esperam o fim dela,
Eu espero trazer o sorriso
Do momento brusco e esquecido,
Do sentimento enlutado
E da depressão enlouquecida...
Poesia,
Cante a escrita do poeta,
Seu amigo encantado,
Coração ensandecido
De amor e lágrimas...
Hoje é o seu dia
De todos os dias!
Dê-me o lápis, a caneta,
Deslize seus versos à beira do luar...
Poema encantado,
Hoje vim poetizar!

Biografia:



Tatiana Monteiro
nasceu em 28 de março de 1980, na cidade de São Fidélis, situada no interior do estado do Rio de Janeiro. Filha única de Adherbal Costa Neto e Joana Maria Ferreira Monteiro, começou a dedicar-se cedo às letras e à literatura, tendo enorme gosto por leituras e mais leituras dos mais variados tipos.

Quase Engenheira Química, estudou na Universidade Federal Fluminense, em Niterói-RJ e a trabalho passou por outras cidades do estado do Rio de Janeiro.

No ano de 2001 abriu, ainda em página gratuita, o site Prosa em Verso, progrediu para um blog e dele partiu para um domínio próprio, o Portal de Cultura Prosa em Verso - http://www.prosaemverso.com.br -, em 2006, cuidando de divulgar a cultura literária contemporêna brasileira. Em 2009, a parte de cultura literária se expandiu e se transformou em cultura nacional, fazendo o Portal de Cultura Prosa em Verso tomar uma forma maior.

Através do orkut expandiu-se na divulgação de seu website, passou a ser conhecida em muitas comunidades, assim começou a conhecer nomes da nossa escrita nacional e encontrar amigos.

Participou no 1º e-book da Comunidade 'Poemas à Flor da Pele', criada pela amiga e poeta Soninha Porto, ano de 2006. Colunista em vários sites e blogs na parte de cultura e literatura em geral. Em 2007 abraçou o Projeto da Antologia dos Poetas Virtuais, da amiga e poeta Magali Oliveira, participando do II Livro de Poesias da Antologia dos Poetas Virtuais. No ano de 2008, novamente no projeto, participou do 1º Livro de Contos.

Profissionalizou-se na escrita, passou a estar mais no meio da cultura.

Jurada de concursos literários, ganhou respeito da parte de muitos escritores e poetas brasileiros. Orienta na construção de livros, dá suporte para criação, desenvolvimento e análise de obras.

Além do Portal de Cultura Prosa em Verso passou a dedicar-se em 2008 na área de webdesigner, onde dá suporte de criação, área técnica e operacional, além de gerenciamento completo, desenvolvimento e otimização de websites como webmaster.

No ano de 2009, juntamente com Magali Oliveira, é sócia-proprietária do Jornal 'Palavras ao Vento...' e da Estrela Poética Editora, sede em Cordeiro-RJ.

Considera-se 'alma nômade', pois está sempre nas estradas procurando divulgar a cultura e a literatura, encontrando os amigos então virtuais que tornam-se mais do que reais.

+04 de Abril de 2010

domingo, 4 de abril de 2010

RESIDÊNCIAS DE PERSONALIDADES DA LITERATURA E DA MÚSICA QUE VIVERAM EM SÃO PAULO REVELAM A RELAÇÃO DOS ARTISTAS COM A CIDADE um poeta passou por aqui

por João Carlos Lopes

Os bastidores de uma obra literária, de um poema ou de uma canção podem estar registrados em uma rua qualquer, perdidos no cotidiano da metrópole.

Para encontrar alguns desses endereços em São Paulo, a Revista percorreu a cidade em busca da história de autores cultuados ou esquecidos, vasculhando arquivos públicos, ouvindo familiares, amigos e pesquisadores.

As casas e as rotinas paulistanas de poetas, escritores e músicos são um testemunho das mudanças que a cidade sofreu.

A negligência com os acervos e as casas que abrigaram importantes nomes da literatura e das artes do país é marcante, reclama Ana Luiza Martins, diretora do centro de estudos de tombamentos de bens culturais do Condephaat (órgão estadual de defesa do patrimônio).

"É com muito atraso que as cidades têm buscado suas casas históricas", afirma a historiadora. "Elas são importantes não só como marco físico, mas pelos conteúdos culturais que mantêm."

A seguir, um passeio por seis residências nas quais as marcas de seus ocupantes ilustres ainda se fazem sentir. O roteiro passa ainda por três endereços (leia mais à pág. 13), onde ficaram apenas registros etéreos de famosos moradores. Vestígios de uma Pauliceia que não existe mais.

álvares de azevedo (1831-1852)
praça almeida júnior, liberdade

Jefferson Coppola/Folha Imagem
O escritor Kizzy Ysatis, que se inspirou na obra de Álvares de Azevedo

"São Paulo parecia um enorme cemitério", diz Kizzy Ysatis, 33, sobre a capital paulista do século 19. Autor de livros de vampirismo, o escritor revisita o clima sombrio da cidade das cartas e peças do poeta Álvares de Azevedo.

Foi em encontros góticos que Ysatis entrou em contato com a obra do autor de "Lira dos Vinte Anos". Ali, Azevedo é cultuado como um pioneiro: pelas suas caminhadas noturnas, vestido de preto, e por escrever poemas sobre amor e morte.

Cercada de mistérios, a vida do poeta tornou-se uma obsessão para Ysatis, que o transformou em personagem de uma saga ficcional. A casa onde o poeta viveu é o palco do romance.

Encontrar o antigo endereço foi um desafio. "Vasculhei livros raros, mapas antigos e fiz pesquisas de campo que me levaram até a atual praça Almeida Júnior", diz, sobre o local onde teria existido a Chácara dos Ingleses. Foi nesse imóvel que o poeta teria vivido em 1847.

Professora de literatura da USP, Cilaine Alves Cunha relata que o local era palco de rituais sinistros. "Nessa chácara ocorriam sessões nas quais Álvares de Azevedo e seus amigos cobriam as paredes com tapetes pretos e esqueletos, apagavam os candelabros e substituíam as taças de vinho por caveiras."

A casa que serviu de moradia ao poeta foi demolida no processo de urbanização do início do século 20. A única construção preservada é a capela dos Aflitos, erguida no cemitério que ficava em frente à residência. É uma rara conexão entre a província do poeta ultra-romântico e a metrópole de hoje.

paulo bomfim (1926)
rua rêgo freitas, 435, vila buarque
Arquivo Pessoal
A casa da família de Paulo Bomfim, que já não mais existe; abaixo, o poeta e seu retrato feito por Anita Malfatti

Um prédio residencial ocupa hoje o endereço que abrigou o mais importante salão liter

O local era frequentado pelos participantes da Semana de Arte Moderna de 1922. Foi ali que também nasceu o poeta e escritor Paulo Bomfim, o caçula da família.

"As reuniões eram tão impor-tantes que Vicente de Carvalho escreveu uma peça para ser apresentada ali por Mario de Andrade, Tácito de Almeida, Guilherme de Almeida e Paulo Setúbal", conta Bomfim. Aos 84 anos, ele se recorda das apresentações de músicos e compositores como Heitor Villa-Lobos, Madalena Tagliaferro e Camargo Guarnieri.

A historiadora Ana Luiza Martins, que prepara um livro sobre a história de São Paulo contada por meio da vida de Bomfim, diz que a casa foi um marco cultural. "Mas era diferente dos salões de Olívia Penteado e Veridiana Prado, onde havia uma ativida-de mais social", explica.

Paulo Bomfim guarda até hoje a antiga chave da morada e ainda se lembra do número de telefone instalado na década de 1950, época em que deixou o imóvel. Atualmente, o poeta caminha pelas ruas onde viveu na infância e não reconhece a paisagem.

A zona passou a ser chamada de "Boca do Lixo", desde que virou reduto de bares e boates a partir da década de 1960. E o imóvel virou um exemplo clássico da desfiguração histórica da cidade. A casa foi demolida e deu lugar a um edifício. "A rua foi recebendo construções sem a devida ordenação urbana", critica Ana Luiza.

guilherme de almeida (1890-1969)
rua macapá, 187, perdizes
Arquivo Pessoal
Guilherme de Almeida na sala preservada até hoje e que poderá ser visitada a partir de julho

A arma, as balas e o capacete utilizados por Guilherme de Almeida nos combates da revolução de 1932 ainda estão no mesmo cômodo onde o poeta e jornalista escrevia seus versos.

Mesmo esvaziada de vida cotidiana há mais de 40 anos, a casa em Perdizes, na zona oeste, mantém os móveis, a biblioteca, as obras de arte e todos os objetos. Virou museu biográfico do poeta em 1979. "Sentado na sala, ainda tenho a impressão de que Guilherme de Almeida vai descer as escadas", diz o poeta Paulo Bomfim, que era amigo do autor de "Meu" desde a juventude.

No pequeno quintal, uma lápide presta homenagem a Ling-Ling -o cachorro pequinês de Baby, mulher do poeta. E, em todos os cantos, surgem pequenos tesouros, assinados por Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Lasar Segall e Victor Brecheret.

"Hoje, a casa é um pequeno museu que reúne um acervo valioso, além de manter a identidade histórica e cultural de uma época", diz o coordenador Marcelo Tápia.

O espaço passou a abrigar um centro de estudos em tradução literária. "Por isso, a casa de Guilherme de Almeida é um corpo que não perdeu sua alma", afirma Paulo Bomfim. Fechado para visitação há quatro anos, o local deve ser reaberto em julho.

chico buarque (1944)
rua buri, 35, pacaembu
Jefferson Coppola/Folha Imagem
Casa onde viveu Chico Buarque

A biblioteca era o cômodo mais importante da casa de número 35 da rua Buri, em 1957. Ali, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda recebia os amigos: Manuel Bandeira, Florestan Fernandes, Fernando Sabino e Vinicius de Moraes.

Era lá que o jovem Chico Buarque descobria os romances franceses e os autores brasileiros que marcaram sua formação. "A biblioteca de papai e o ambiente de convivência com intelectuais influenciou o início da produção de Chico", explica o economista Sérgio Buarque de Hollanda Filho, sobre o trabalho do irmão.

No endereço, o cantor e com-positor produziu as canções do início da carreira. "Ele começou 'A Banda' de manhã e, na hora do almoço, já estava pronta", recorda-se Wagner Homem, amigo do cantor e autor do livro "Histórias das Canções - Chico Buarque".

Os companheiros da bossa nova também frequentavam a casa paulistana de Chico, especialmente João Gilberto, Tom Jobim e Baden Powell.

Hoje, o imóvel pertence à Prefeitura de São Paulo, embora seja objeto de disputa judicial entre uma ex- babá da família e os herdeiros. Na casa, desocupada desde novembro de 2009, a Secretaria de Educação planeja instalar um centro de referência em formação acadêmica.

"Nas maiores cidades culturais do mundo é comum que as residências de grandes escritores sejam preservadas", diz Sérgio. "São ambientes de valor simbólico, mas que representam um patrimônio da cultura."

mario de andrade (1893-1945)
rua lopes chaves, 546, barra funda
Jefferson Coppola/Folha Imagem
A residência de Maria de Andrade, onde hoje funciona um centro de literatura

Registrada em cartas, poemas e fotografias históricas, a casa da rua Lopes Chaves é sinônimo de Mario de Andrade. Cada canto da residência preserva uma parte da história do poeta modernista. No quarto, foi escrito "Ode ao Burguês", poema símbolo da Semana de Arte Moderna; no escritório, a "Pauliceia Desvairada".

Em 1921, o poeta passou a viver no local, acompanhado da mãe e da madrinha. Permaneceu no endereço até a morte, em fevereiro de 1945.

A casa, ainda preservada, não mantém qualquer acervo do autor. A mobília, manuscritos, obras de arte e objetos pessoais estão alojados no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros da USP). A antiga residência hoje é ocupada pela Oficina da Palavra, um centro público de cultura que oferece cursos de literatura. "A casa não tem mais nada dele, mas ainda tem tudo", afirma Rosa Artigas, coordenadora do centro.

Segundo ela, a temática dos cursos segue a diversidade e a inovação da obra do poeta. "É possível encontrar os fios que levam à vida de Mario de Andrade no cotidiano da cidade", constata Rosa. "Ele foi um poeta que viveu São Paulo."

paulo leminski (1944-1989)
rua ceará, 247, higienópolis
Mônica Vendramini - 1988/Folha Imagem
Leminski e Fortuna, no apartamento, da cantora em São Paulo

Brevíssima e irreverente, tal qual os haicais que produzia, foi a passagem de Paulo Leminski pela capital paulista. Em 1988, o poeta curitibano se hospedou durante quase todo aquele ano no apartamento da cantora Fortuna Safdié, 52, em Higienópolis.

Apresentados pelo compositor Itamar Assumpção, logo estabeleceram uma forte ligação. "Nós tínhamos uma cumplicidade conceitual e uma amizade verdadeira, um pouco de irmãos", diz a cantora, que espalhava os haicais do amigo por todos os cantos."Ele escrevia em guardanapos, em quadros, no que tivesse perto."

Os poemas produzidos nesse período estão reunidos em "La Vie en Close", livro póstumo do poeta, publicado em 1991.

Fortuna acredita que o auge da carreira de Leminski foi vivido na capital, embora aquele tenha sido o período mais triste da vida do poeta, depois da perda de um filho e do irmão. "Ele tentou uma sobrevida aqui, porque já estava bastante ferido."

Na época, Alice Ruiz, viúva do poeta, vivia com as filhas em Curitiba. Até hoje, ela sabe pouco sobre a vida de Leminski em São Paulo. Lembra, no entanto, que foi aqui, em setembro de 1988, que o poeta teve o diagnóstico de cirrose hepática, doença que lhe tirou a vida um ano depois.

quase anônimos
Descubra os endereços que foram ocupados por grandes nomes em São Paulo, cujas referências se perderam

Arquivo Pessoal


DORIVAL CAYMMI (1914-2008)
rua dr. cesário motajr, 254, vila buarque

A artesã Ilse Arns, 68, mora com as duas filhas no apartamento que em 1955 serviu de residência para Dorival Caymmi. O compositor baiano viveu apenas oito meses na cidade, mas foi ali que fez letra e música de "Maracangalha", que marca o auge da sua carreira. Ilse mudou-se sem saber que os Caymmi moraram no endereço. "Mas sinto orgulho e fico imaginando como teria sido a vida deles aqui."

CASTRO ALVES (1847-1871)
rua direita, hotel d'itália, centro

Ao chegar a São Paulo em 1868, Castro Alves instalou-se no Hotel D'Itália, entre as ruas São Bento e Direita. Viveu na cidade por quase dois anos, dividindo quarto com Rui Barbosa. Com a construção da praça do Patriarca, em 1926, o hotel foi demolido. "Castro Alves viveu intensamente em São Paulo", diz o historiador Cássio Schubsky."Foi um popstar, fazia duelos e declamações de improviso em público."

OSWALD DE ANDRADE (1890-1954)
rua aurora, 579, centro

A atual moradora do apartamento onde Oswald de Andrade era visitado em 1954 por Jorge Amado, Rubem Braga e Antonio Candido nunca ouviu falar do poeta e dramaturgo, figura central do movimento modernista. Assim acontece também em outros endereços ocupados por ele em diferentes bairros. Não há centros de cultura dedicados ao autor do "Manifesto Antropófago".

Fonte: Revista da Folha

sábado, 3 de abril de 2010

Para todos Vocês meus queridos amigos FELIZ PÁSCOA!!

FELIZ PÁSCOA







Francês
JOYEUSES PÂQUES


Tcheco
VESELE VANOCE


Alemão
SCHÖNE OSTERN


Espanhol
FELICES PASCUAS


Italiano
BUONA PASQUA


Macedônio
SREKEN VELIGDEN


Inglês
HAPPY EASTER


Grego
KALO PASKA


Chinês
FOUAI HWO GIE QUAI LE

Árabe
EID-FOSS'H MUBARAK

Croata
SRETUN USKRS


Húngaro

Boldog Husveti Ünnepeket

Polonês

Wesolych Swiat


Sueco

Glad Påsk

Holandês

Gelukkig Paasfest

Norueguês

God Påske


Turco

Mutlo (eller Hos) Paskalya


Português

Feliz Páscoa






Nina Simone - Feita de amor e ódio


A raiva que alimentava contra tudo e contra todos parecia ser o combustível de Nina Simone. Afinal, quanto mais revolta sentia, mais talento surgia de seu piano



Nina Simone achava que era a reencarnação de uma princesa egípcia. Seus fãs não precisavam dessa informação para reverenciar a cantora - tampouco a escritora Nadine Cohodas, que, mesmo assim, batizou sua biografia, recém-lançada nos EUA e ainda sem previsão de chegar ao Brasil, de Princess Noire - The Tumultous Reign of Nina Simone (Pantheon Books, 464 págs., US$ 30). As credenciais da biógrafa garantem a seriedade da pesquisa. Antes de Nina Simone, ela escreveu a biografia de outra diva do jazz, Dinah Washington (Queen: The Life and Music of Dinah Washington), sendo também autora da história de uma lendária gravadora de blues, a Chess Records. Em Princess Noire, Nadine Cohodas tenta ser discreta ao acompanhar a evolução da bipolaridade da grande cantora, que morreu, em abril de 2003, aos 70 anos, de um câncer no pulmão, diagnosticado dois meses antes. Acontece que Eunice Waymon (seu nome verdadeiro) teve uma vida nada discreta. Há, portanto, uma dissonância que perturba a intenção da biógrafa, a de dissecar - sem os instrumentos corretos de um psicanalista - essa personalidade perturbada, algo esquizofrênica, megalomaníaca e dada a acessos de agressividade.

Criada durante a Grande Depressão em Tryon, na Carolina do Norte, numa família de oito irmãos e pai pastor metodista, a idiossincrasia estilística de Nina Simone rivalizava com a pessoal. Quando criança, foi aluna de uma professora inglesa de piano, Muriel Mazzanovich, que a obrigava a tocar Bach sem parar - a primeira hora de aula era sempre dedicada ao compositor alemão. Miss Mazy, como Nina a chamava, era mais que uma professora de música. Seria uma espécie de Maggie Smith no filme A Primavera de uma Solteirona (The Prime of Miss Brodie), uma professora que ensinava às alunas tudo o que seus pais jamais ousariam aprender. Assim, Eunice Waymon adotou-a como sua "mãe branca". Como seus pais não podiam pagar pelas aulas, foi criado em Tryon uma espécie de fundo para custear seus estudos de piano. Miss Mazy, então, preparou a aluna para seu primeiro recital, em 1944, aos 11 anos, no auditório da Biblioteca Lanier, de Tryon. Foi o estopim do trauma que a acompanhou para o resto da vida.


Os pais vestiram-se como se fossem para a igreja. Chegaram e sentaram-se na primeira fileira. Ao entrar no palco, a futura Nina, furiosa, observou que eles haviam sido deslocados para o fundo da sala. Encarou a plateia e pediu aos organizadores que instalassem os pais num lugar onde pudesse vê-los. Constrangidos, os anfitriões cederam ao pedido, contrariando as leis locais, que garantiam aos brancos a escolha dos melhores lugares. Anos mais tarde, os que assistiram às frequentes provocações da cantora ao público durante os concertos, como a de interpretar seu hino de guerra Mississippi Goddam, passaram pelo mesmo teste de resistência aos impropérios lançados do palco aos brancos. Estava lançada a semente da bipolaridade de Nina, uma intérprete de reconhecida sensibilidade, capaz de emocionar um canibal, e que chegava ao extremo de agredir seu público, dizendo que não precisava do amor dos fãs, mas de dinheiro para viver.

De fato, como conta sua biógrafa, ela foi explorada por agentes, empresários, gravadoras. Vingava-se na hora de pagar as contas. Deu calote em locadores londrinos, numa clínica suíça, no American Express e acumulou uma dívida com o Imposto de Renda americano que chegaria, nos dias de hoje, a quase US$ 500 mil, o que explica seu exílio voluntário em Barbados e na França, onde morreu. Nina gostava de vestir roupas de grife e tomar a champanhe Cristal Louis Roederer. E isso custa muito, muito caro (uma garrafa de Cristal de uma boa safra não sai por menos de US$ 500). Ainda assim, apresentou-se regularmente nos EUA nos anos 1970 e 1980, graças a um acordo com o Leão americano e à interferência de advogados, obrigados a representá-la como Dra. Simone - ela insistia na "doutora", por ter estudado música erudita na Julliard School, frustração maior, uma vez que não conseguiu se tornar uma pianista clássica. E, mais uma vez, ela culpou os brancos por isso, alegando ter sido rejeitada no exame de admissão no Curtis Institute of Music, aos 18 anos, por ser negra.


O sentimento de injustiça pessoal, vítima do racismo dos brancos, perseguiu a militante Nina Simone a vida toda, mesmo quando já era uma diva, adorada por fãs - brancos e negros -, dispostos a pagar uma fortuna para vê-la no palco e cantar apenas seis músicas - como no seu último concerto no Carnegie Hall, em 2001, dentro do Festival JVC. O organizador George Wein pagou a ela um cachê de US$ 85 mil, cobrando US$ 100 por ingresso. Ninguém reclamou. "Ela era adorada como uma deusa e havia se transformado num ícone", comenta o empresário. Não foi a mesma opinião do crítico Gene Santoro, do Daily News. Para ele, aquela havia sido uma noite em que Wein "tentou erguer Roma de suas ruínas". Afinal, no fim da carreira, a voz não era mais a mesma e Nina dava sinais de distúrbio de personalidade, tropeçando nos fios do microfone, falando com a voz empastada dos alcoólicos e deixando a alça do vestido cair como uma decadente diva de melodrama hollywoodiano. mais revolta sentia, mais talento surgia de seu piano


As várias faces da diva

RACISMO
"Toda a minha vida desejei exprimir meu sentimento de prisioneira, esse silêncio atroz que transforma todos os negros em encarcerados."

VERDADE
"Seja o que for que alguém possa concluir sobre minha música, seja o que for que alguém sinta por ela, saiba que a perturbação que ela provoca é também parte da perturbação do ouvinte. Tudo o que você ouve nessa música é absolutamente verdadeiro."

LIBERDADE
"Vou dizer a você o que significa liberdade para mim. Liberdade é realmente não sentir medo de espécie alguma. Todos deveriam ser livres e, se não o somos, é porque somos assassinos."

AMÉRICA
"Não estou no meu país. Nasci aqui, nos EUA, mas este não é o meu lar. Sinto estar à beira de ser crucificada aqui, só não sei dizer por quem."

MILITÂNCIA
"O que eu fazia não era música clássica, nem popular, mas música em defesa dos direitos civis. Todos os meus amigos foram exilados ou simplesmente assassinados. Fiquei meio perdida, amarga, paranoica, imaginando que podia ser morta a qualquer momento."

SEMELHANTES
"Dizem que eu e Billie Holiday somos parecidas. Suponho que seja porque tivemos vidas idênticas, sempre rejeitadas."

Por Antonio Gonçalves Filho

Fonte : Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S.Paulo /03 de abril de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A arte de criar o belo

FAZER RENDA NO LITORAL OU NO SERTÃO DO CEARÁ É OFÍCIO E, ACIMA DE TUDO, ARTE. NA SEGUNDA EDIÇÃO DA SÉRIE "MÃOS QUE FAZEM HISTÓRIA", O EVA MOSTRA A TRADIÇÃO DAS RENDAS DE BILRO, LABIRINTO E FILÉ, PASSADA, QUASE SEMPRE, DE MÃE PARA FILHA

Programa acompanha a Conferência Internacional das Cidades Inovadoras, em Curitiba

Representantes de diversos países apresentaram saídas para problemas de grandes centros urbanos, como poluição, saúde, desemprego e evasão escolar.

Durante a Conferência Internacional das Cidades Inovadoras, em Curitiba,
Cidades inovadoras conseguiram superar as dificuldades criadas pela grande concentração de pessoas e inúmeros problemas estruturais e o Cidades e Soluções foi conferir as iniciativas de sucesso que permitiram a melhoria na qualidade de vida, mobilidade, educação e segurança pública.


Entre os exemplos, está o movimento “Bogotá Como Vamos”, que conseguiu mobilizar população, empresas e políticos para melhorar o transporte público e reduzir os índices de violência da cidade colombiana, e inspira projetos semelhantes em várias cidades do mundo.

A cidade de Lyon, na França, melhorou muito os índices de mobilidade urbana incentivando o uso de bicicletas e reduzindo o espaço de circulação dos carros.

Curitiba, exemplo de planejamento urbano no Brasil, enfrenta os desafios do crescimento populacional e da manutenção das políticas públicas que fizeram a fama da cidade.

Saiba mais como foi a
Conferência Internacional das Cidades Inovadoras, que levou líderes e urbanistas de todo o mundo à Curitiba em março de 2010.

Conheça o movimento “
Bogotá Como Vamos” e entenda a metodologia utilizada para avaliar os diferentes aspectos da administração pública e incentivar mudanças.

Saiba mais sobre o projeto "
Grand Lyon", que se propõe a pensar o desenvolvimento urbano de uma das cidades mais importantes da França.