Então

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A despedida de Scola


O diretor. Com Massimo Troisi, no set de Capitão Tornado - Divulgação
O diretor. Com Massimo Troisi, no set de Capitão Tornado

Grande diretor italiano explica em entrevista por que decidiu se aposentar

Você está preparado para receber a notícia? Nunca mais os filmes de Ettore Scola! Não, o cineasta está vivo, e bem, mas como o polonês Krszystof Kieslowski, anos atrás, Scola tornou pública sua decisão de abandonar o cinema em caráter irrevogável. O anúncio foi feito numa entrevista à revista Il Tempo, após a projeção, em Pesaro, do curta 1943/1997. O filme trata das detenções feitas pelos nazistas no gueto de Roma, em 1943. Scola despede-se do cinema após mais de 50 anos de atividades como roteirista e diretor. Ele não apenas colaborou com grandes autores - Dino Risi, principalmente -, como deixa o legado de uma obra rica e complexa.


Justificando sua decisão, Scola disse que não quer fazer como "aquelas velhas senhoras que colocam saltos altos e muito batom para estar com os jovens e sentir-se como um deles". Para não vir a ser uma caricatura de si mesmo, ele se aposenta. "Tudo começou de forma casual e foi uma decisão natural", explicou. Scola escreveu o roteiro e fez a pré-produção de um novo filme com Gérard Depardieu. Quando estava tudo pronto para iniciar a rodagem, deu-se conta de que não queria mais fazer o filme - nem nenhum outro. "É finitto", acabou, disse.
O fato de estar acabando com o cinema não significa que o cinema esteja acabado, para ele. "Hoje, o mercado é que faz as escolhas. Não que antes ele não fosse importante, mas havia mais espaço de autonomia e de exceções. Os próprios produtores estavam mais dispostos a arriscar. Existem jovens eficientes que continuam dando dignidade ao cinema, mas são justamente eles que me fazem entender que é preciso uma energia e um tipo de contatos que não tenho mais."
Scola nasceu em 1931, o que significa que, neste ano, completa 80 anos. Ex-militante do Partido Comunista Italiano, sua obra é marcada por temas políticos e sociais. Já era assim desde os tempos em que escrevia esquetes para Alberto Sordi no rádio - Il Teatrino - e, depois, no próprio cinema, na parceria com Dino Risi. Sua estreia na direção foi em 1964, com Se Permette, Parliamo di Donne. Seis filmes depois, ele descobriu o seu tom e estourou no Festival de Cannes de 1970 com Ciúme à Italiana, que deu o prêmio de interpretação masculina para Marcello Mastroianni.
Os anos 1970 assistiram à sua grande fase, com obras como Nós Que Nos Amávamos Tanto, Feios, Sujos e Malvados e todas as demais que se seguiram. Com O Baile, em 1983, Scola descobriu uma espécie de fórmula. O filme passa-se inteiramente num salão de baile e conta décadas de história italiana sem diálogos, simplesmente acompanhando as mudanças de figurinos e preferências musicais dos personagens que dançam, sem parar. Cada crítico ou espectador é livre para escolher o "seu" Scola do coração. Três filmes terminam por se impor, naturalmente - Um Dia Muito Especial, de 1977; Casanova e a Revolução, de 1982; e o muito particular A Viagem do Capitão Tornado, de 1990, que, se fosse para escolher um só título, talvez fosse o preferido do autor do texto.
O dia especial é aquele no qual, durante a 2.ª Guerra, Adolf Hitler e Benito Mussolini se encontraram em Roma. Esses são os personagens da grande História (com H). São ditadores, de regimes que desprezam o humano. Na versão de Scola para este dia, eles estão no segundo plano. O primeiro é ocupado por outros dois personagens que também se encontram no prédio vazio - porque a maioria da população está nas ruas. Uma dona de casa, Sophia Loren, e um homossexual, Marcello Mastroianni. Ambos usados, abusados, quando não marginalizados pelo regime.
Casanova e a Revolução reconstitui a chamada "noite de Varennes", quando duas carruagens deixaram Versalhes, levando uma o rei e a rainha e a outra, figuras representativas da corte, naquela tentativa meio desesperada de fugir ao que já era inevitável - a Revolução Francesa. Luís XVI e Maria Antonieta não aparecem, só os seus sapatos, porque este era o ângulo do qual a plebe, sempre de olhos voltados para o chão, podia vê-los. Na outra carruagem, Casanova/Mastroianni e Restif de La Bretonne conversam sem parar e dão seu testemunho das transformações históricas.
Capitão Tornado, Capitan Fracassa em italiano, é sobre saltimbancos no seu pequeno teatro itinerante. Na tela e entre eles, expressam a fragilidade, mas também a grandeza da condição humana. Na época, Scola deu uma entrevista que Jean Tulard cita no Dicionário de Cinema. "É esquisito, mas tenho a impressão de estar fazendo sempre o mesmo filme. E não unicamente do ponto de vista do estilo, mas dos temas. O que são todos os meus filmes? O reflexo da formação do garoto meridional que eu era, vindo a Roma depois de ter convivido, na minha infância, com marginais e oprimidos." Este foi o universo que Scola escolheu filmar em suas tragicomédias. Ele se despede, como diz, "sem lamentações". Seus admiradores terão sempre as obras-primas, para rever. 
fonte: Estadão.com.br

Le Bal, Ettore Scola, 1983 - # 2

A genialidade de Ettore Scola fala num filme sem palavras.




Biblioteca Pública do Paraná oferta oficina para narrativa de ficção


Escritor Michel Laub vai selecionar os participantes (Foto: Divulgação/ editora Companhia das Letras)



Curso será gratuito; inscrições podem ser feitas até 5 de setembro.
Oficina será do dia 12 ao 15 de setembro; vagas são limitadas.



A Biblioteca Pública do Paraná está com inscrições abertas para a oficina de Criação Literária - Narrativa de Ficção até o dia 5 de setembro. O curso é gratuito e será ministrado pelo escritor gaúcho, Michel Laub. 
Para se inscrever é preciso encaminhar um e-mail oficina@bpp.pr.gov.br, com um breve currículo e um texto de ficção em prosa de autoria própria. Não há restrições quanto ao tamanho da narrativa. O material será avaliado por Laub, que selecionará os participantes. As vagas são limitadas.
A oficina será nos dias 12, 13 e 15 de setembro das 14h às 18h, na Sala de Reuniões, no terceiro andar da Biblioteca Pública do Paraná que fica na Rua Cândido Lopes, 133, no centro de Curitiba.
Michel Laub 
O autor nasceu em Porto Alegre, em 1973 e além de editor é jornalista. Ele foi editor-chefe da revista BRAVO! e coordenador de internet do Instituto Moreira Salles. Também é professor de criação literária e colaborador de diversos veículos e editoras. Publicou cinco romances. Seu último, Diárioda queda, é finalista do Prêmio Zaffari & Bourbon. Laub recebeu o prêmio Erico Verissimo/Revelação, da União Brasileira dos Escritores, as bolsas Vitae, Funarte e Petrobras. Ele também foi finalista dos prêmios Jabuti e Portugal Telecom. Tem textos publicados na Itália e na Coreia.
Foto: Divulgação / editora Companhia das Letras 
fonte: G1

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Excelente entrevista com Luiz Felipe Pondé no programa Roda Viva.


Bloco 1


Bloco 2


Bloco 3


Bloco 4


Dica da Dody Fernández

Esquecer





Rubem Alves

Um amigo meu, nos Estados Unidos, comprou uma casa velha de mais de um século, conservada, como muitas por lá existem. Muitas coisas a serem consertadas. Tudo teria que ser pintado de novo. Antes de pintar com as cores novas ele achou melhor raspar das paredes a cor velha, um azul sujo e desbotado. Raspado o azul, debaixo dele surgiu uma cor rosa mais velha ainda que o azul. Raspou-a também. Aí apareceu o creme, e depois do creme o branco... Cada morador havia coberto a cor anterior com uma cor nova. E assim ele foi indo, pacientemente, camada após camada. Queria chegar à cor original, que apareceria depois que todas as camadas de tinta fossem raspadas. Finalmente o trabalho terminou. E o que encontrou foi surpresa inesperada que o encheu de alegria. Mais bonito que qualquer tinta: madeira linda, o maravilhoso pinho-de-riga, com nervuras formando sinuosos arabescos cor castanha contra um fundo marfim. Parábola: somos aquela casa. Ao nascer somos pinho-de-riga puro. Mas logo começam as demãos de tinta. Cada um pinta sobre nós a cor de sua preferência. Todos são pintores: pais, avós, professores, padres, pastores. Até que o nosso corpo desaparece. Claro, não é com tinta e pincel que eles nos pintam. O pincel é a fala. A tinta são as palavras. Falam, as palavras grudam no corpo, entram na carne. Ao final o nosso corpo está coberto de tatuagens da cabeça aos pés. Educados. Quem somos? “O intervalo entre o nosso desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de nós“, responde Álvaro de Campos.

Contra isso lutava Alberto Caeiro:

Procuro despir-me do que aprendi.
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar minhas emoções verdadeiras.
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
mas um animal humano que a natureza produziu.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
isso exige um estudo profundo,
uma aprendizagem de desaprender...

Barthes se descobriu atacado pela mesma doença que afligira Caeiro. Através dos anos seu corpo foi coberto por saberes que se sedimentaram sobre sua pele. Agora ele estava enterrado, esquecido de si mesmo. Só havia um caminho: desaprender tudo. “Empreendo, pois“, ele diz, “deixar-me levar pela força de toda forca viva: o esquecimento“. Esquecer é raspar a tinta. A fim de se lembrar do esquecido. E o que ele viu, depois de terminada a raspagem, encantou-o: lá estava a sua alma, o jeito original de saber — “sabedoria“. Diz o Tao Te Ching que os saberes podem ser somados (como as camadas de tinta). Mas sabedoria só se obtém por subtração, por raspagem e esquecimento.

Com isso concorda a psicanálise. Por isso ela não usa nem pincéis nem tinta, e não sabe somar. “Sem memória“, diz Bion. Dedica-se, ao contrário, às raspagens e lixações, na esperança de encontrar, para além do que sabemos, a sabedoria que ignoramos.

Digo isso como introdução a uma série de raspagens teológicas que pretendo fazer. Quero raspar as tatuagens de Deus com que cobriram os nossos corpos. Teólogos, sacerdotes, fiéis - todos eles se dedicam a essa arte perversa. Pensam que suas palavras são gaiolas para pegar Deus.

Com isso ofendem Deus: pintam-no como pássaro engaiolável. Mas Deus é Vento (é isso que quer dizer a palavra “Espírito“), não pode ser engaiolado como passarinho. “Tudo aquilo para que temos palavras é porque já passamos adiante“, diz Nietzsche. Em outras palavras: não adianta, quando a gaiola se fecha, é porque o sagrado já voou para outro lugar. Deus está sempre além das palavras, no lugar onde as palavras não chegam, onde só existe o silêncio. “A Palavra“, diz a Adélia, “é coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser calada.“

As gaiolas de pegar Deus têm muitos nomes: rezas, terços, novenas, orações, mantras, promessas, templos, Bíblia, Corão. Mas só os cegos não percebem que elas estão sempre vazias.

Se deixarmos as metáforas bíblicas e passarmos para as metáforas do Tao Te Ching seremos transformados de pássaros em peixes: sairemos do Vento e mergulharemos no Rio — do jeito mesmo como Escher viu e pintou, no intervalo (guarde esta palavra!) dos patos que voam estão os peixes que nadam! (A festa de Maria, pg. 21.)

Fonte: A Casa de Rubem Alves

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

FONTE PARA DISLÉXICOS




Os holandeses do StudioStudio desenharam uma fonte especialmente para pessoas que sofrem com a dyslexia, um distúrbio que dificulta a leitura, escrita e soletração.
Como os disléxicos tendem a rotacionar as letras e misturá-las, a fonte “Dyslexie” foi projetada com soluções como ser mais grossa na parte de baixo (para ajudar a diferenciar melhor as letras, que muitas vezes são parecidas). As diferenças entre aberturas, extensões e inclinação também são exageradas para que sejam melhor distinguidas.
O vídeo abaixo, em inglês, explica melhor o projeto.
dica do Blog da Ro

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O poder da fofoca




Fernando Reinach



A fofoca não tem boa fama, mas a informação transmitida por meio desse mecanismo de comunicação é considerado importante na formação e manutenção das relações entre humanos. Pela fofoca sabemos o que esperar de futuras interações com outros membros do grupo.
Claro que muitas vezes a informação é distorcida, mas a maioria dos estudos demonstra que ela pode ser muito útil. Cientistas que estudam macacos descobriram que esses animais, apesar de não possuírem a capacidade de comunicação verbal dos humanos, também fofocam. Eles obtêm informações sobre outros membros do grupo observando seu comportamento em atividades como a retirada de parasitas, o compartilhamento da comida e jogos corporais que simulam confrontos.
Na realidade, a fofoca altera nosso comportamento frente às pessoas sobre as quais fofocamos. Até agora se acreditava que essa modificação era mediada por nosso sistema cognitivo consciente ("Sei que ele é agressivo, portanto vou agir cuidadosamente"). Mas um experimento simples demonstrou que a natureza da informação que recebemos pela fofoca altera o funcionamento de nosso sistema visual independentemente de nossa vontade consciente.
O experimento usa uma característica muito estudada de nosso sistema visual. Quando cada um de nossos olhos é submetido a uma imagem distinta, nossa atenção se divide entre as duas imagens. Primeiro observamos uma das imagens e depois a outra - e assim sucessivamente, até satisfazermos nossa curiosidade. Isto ocorre porque nossa consciência não é capaz de se concentrar simultaneamente nas duas imagens e o sistema visual, operando sem controle da consciência, seleciona uma por vez.
Você pode repetir essa observação colocando dois objetos sobre uma mesa, separados por um pedaço vertical de papelão. Se você se debruçar sobre esses dois objetos de modo que o papelão garanta que cada olho só consiga observar um deles, você vai perceber que sua atenção flutua entre ambos.
O efeito é melhor se outra pessoa colocar em cada um de seus campos visuais objetos que você não havia observado com os dois olhos. Usando um sistema de duas teclas ligadas a dois cronômetros, você pode medir o tempo que seu cérebro se concentra em cada um dos objetos. Um aparato como esse foi usado para medir o efeito da fofoca sobre nosso sistema visual.
O experimento foi feito com grupos de cerca de 300 pessoas. Numa primeira fase, os voluntários observavam fotos de faces. Simultaneamente, era apresentada uma fofoca (por escrito) sobre esta pessoa. A frase poderia ter conotação social negativa ("atirou uma cadeira num colega"), positiva ("ajudou uma idosa a atravessar") ou neutra ("cruzou com uma pessoa na rua").
Imagem. Após observarem os pares de fotos e frases, essas pessoas eram colocadas em um aparelho capaz de projetar em cada olho uma imagem. Enquanto um dos olhos era submetido à foto de uma das faces, o outro via a foto de uma casa. O tempo que o cérebro dedicava a cada uma foi medido. Observou-se que o sistema visual divide o tempo que a imagem de cada olho ocupa na consciência. Mas se a face visualizada por um olho tivesse sido associada a uma fofoca negativa, o tempo gasto pelo cérebro examinando a imagem era muito maior que o tempo gasto caso a face tivesse sido associada a uma fofoca neutra ou positiva.
Será que bastava o fato ser negativo ou teria de ser socialmente negativo? Para testar esta possibilidade, outros voluntários se submeteram ao experimento, mas as frases foram trocadas de modo a prover informações negativas ("extraiu um dente"), positivas ("sentiu o calor do Sol na face") ou neutra ("fechou a cortina"), mas sem conotação social. Nesses casos, a informação não influenciava o tempo que o sistema visual apresentava a face à consciência.
Esse resultado demonstra que provavelmente estamos pré-programados a prestar atenção em pessoas que foram alvo de fofocas socialmente negativas. Não é sem razão que muitos políticos seguem à risca o mote "falem mal, mas falem de mim", uma maneira segura de garantir que, mesmo inconscientemente, daremos mais atenção a suas faces numa urna eletrônica.

BIÓLOGO

MAIS INFORMAÇÕES: THE VISUAL IMPACT OF GOSSIP. SCIENCE, VOL. 332, PÁG. 1.446, 2011
 
fonte: O Estado de S. Paulo

terça-feira, 9 de agosto de 2011

30 anos sem Glauber


Glauber Rocha, em 1979, no programa Abertura

André Setaro
De Salvador (BA)
Neste aziago mês de agosto, no vindouro dia 22, completa 30 anos (três décadas nada prodigiosas) da morte prematura do grande cineasta baiano Glauber Rocha. Nascido em Vitória da Conquista (interior da Bahia) em 14 de março de 1939, Glauber veio a falecer com apenas 42 anos de idade. Não vou, aqui, falar de sua obra, pois muitos já escreveram sobre ela, inclusive este que vos fala. Mas rememorar alguns encontros que tive com ele em Salvador, Bahia.
Não sou da geração de Glauber, porque vim ao mundo (sem ter sido consultado para isso) em outubro de 1950, 11 anos depois do nascimento do artista. O primeiro impacto glauberiano, por assim dizer, deu-se quando adentrei a sala do majestoso cinema Guarany (aos 14 anos) para ver Deus e o diabo na terra do sol, quando a estupefação tomou conta do adolescente que era. Considero esse filme o maior de toda a história do cinema brasileiro. No documentário O Guarany, de Cláudio Marques, há um depoimento de Orlando Senna sobre a exibição especial do filme para uma plateia de convidados. Terminada a exibição, um silêncio ensurdecedor tomou conta da sala para, minutos depois, desabar um choro convulsivo em quase todos os presentes. Deus e o diabo na terra do solconstituiu uma virada de página, um halo renovador, um sopro de esperança na construção de um cinema nacional autêntico e empenhado em suas raízes.
Colunista diário do jornal soteropolitano Tribuna da Bahia, num tempo em que não havia e-mail, levava, de dois em dois dias, as minhas colunas para entregá-las, em mãos, na redação. Corria o ano de 1976. Outubro. Glauber Rocha estava na Bahia para já ir adiantando a produção de A idade da terra. João Ubaldo Ribeiro, muito amigo de Glauber, era o redator-chefe da Tribuna. Quando ia pegar o elevador, eis que encontro Ubaldo e Glauber também a esperar o ascensor. De repente, Ubaldo me apresenta a Glauber: "Glauber, conhece o nosso crítico de cinema?" Subimos, e, na redação, Ubaldo foi para o seu aquário, enquanto Glauber, em pé, ficou a conversar comigo, a querer saber o motivo deOs condenados, de Zelito Viana, baseado em Oswald de Andrade, não ter, ainda, sido lançado em Salvador. Depois a conversa versou sobre diversos assuntos relacionados ao cinema. Glauber se queixou da crítica que cobrava dele um filme superior a Deus e o diabo. Segundo o cineasta, e aplico aqui a minha memória, um filme é como uma relação amorosa sexual: cada um tem um momento de êxtase diferente.
Enquanto conversava com Glauber na redação da Tribuna da Bahia, João Ubaldo Ribeiro saiu do seu aquário para saber se Glauber tinha comprado um tênis, porque o que usava estava muito gasto. O cineasta de Terra em transe apontou para o pé e mostrou o seu luzidio tênis ao autor de Viva o povo brasileiro. "Comprei na Baixa do Sapateiro" (um comércio, naquela época, considerado de segunda classe).
Dia seguinte, o jornalista Carlos Borges me disse que à tarde, na sala da diretoria da Tribuna, iria fazer uma entrevista com Glauber, e me convidou para participar juntamente com João Ubaldo Ribeiro. Glauber passou a tarde toda falando, e soltava o verbo por confiança em seu amigo Ubaldo. A fita cassete, depois de transcrita para a publicação no dia seguinte, foi-me dada por Borges. É um depoimento impressionante e Glauber, inclusive, faz uma antecipação da morte (da sua?). A fita, emprestei-a para um extra do DVD de Barravento, e o vento sabiamente a levou embora.
Corria o ano de 1978. Junho. Época de Copa do Mundo. Em Salvador, por todo canto da cidade, baianas, em trajes típicos, com seus tabuleiros armados nas ruas e avenidas e praças vendem acarajé, abará, bolinhos de estudante, entre outros quitutes da culinária baiana. Estava na Avenida Sete, perto da Praça da Piedade, comprando um acarajé, quando uma pessoa me pegou pelas costas. "Como vai, rapaz?" Era Glauber Rocha. Perto de onde me encontrava existia, no Largo Dois de julho, o cine Capri, que incendiou em 1980. Ele me perguntou se a sala exibidora estava aberta, porque nos horários dos jogos da Copa geralmente os cinemas fecham. Não soube responder, e ele me disse que ia começar um jogo e queria entrar numa sala para ver qualquer filme. Depois, conversando mais alguma coisa, que não me lembro, avistei sua esposa colombiana que, já adiante, chamava Glauber para sair daquele ponto de acarajé.
Bem, apesar de não ver neste depoimento nada de relevante para contar, considerei, no entanto, os meus encontros com Glauber um acontecimento extraordinário. Embora morando na Bahia, não fui ver as filmagens de A idade da terra. Há um documentário, de Roque Araújo, que tem um arquivo precioso dos bastidores das filmagens do filme, principalmente a briga de Glauber com Valentin Calderon de La Barca, diretor do Museu de Arte Sacra, onde Glauber filmou atrizes e figurantes vestidos de freiras dentro do museu. Quando soube, Calderon foi impedir a continuação da rodagem, e Glauber, enfurecido, o ameaçou.
Glauber Rocha como pessoa não era um homem arrogante, mas um temperamento agitado, que, por vezes, dava a impressão de um adolescente com a febre natural da juventude, apesar de já um indivíduo com quase quarenta anos, quando o conheci. Explosivo, algumas vezes, contudo, revela-se meio sentimental e, noutras, com aquele espírito de lutador indomável. Na conversa, ainda que atencioso, falava o tempo todo e, na sua ânsia oratória, não ouvia bem as perguntas nem deixava ninguém falar.
Um dos melhores livros sobre o autor de O dragão da maldade contra o santo guerreiro é "Glauber, esse vulcão", do jornalista João Carlos Teixeira Gomes, amigo dele desde a juventude e mais conhecido como Joca, o Pena de Aço. Além da biografia, Joca faz também uma análise de seus principais filmes.
Em 1986, na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, coordenei um seminário que se chamou "5 anos sem Glauber", com a participação de Luiz Carlos Maciel, Joca, Dona Lúcia Rocha, Fernando da Rocha Peres, Racquel Gerber, Jommard Muniz de Britto, Fernando Rocha, Antonio Guerra, entre outros. Naquela época, achava-se que o Brasil estava há muito tempo - vejam só: apenas 5 anos - sem a presença daquele que gostava de jogar vatapá no ventilador. Glauber Rocha, sobre ser um artista como realizador cinematográfico, era, antes de tudo, um agitador, um animador cultural. Que faz muita falta ao Brasil de hoje.
André Setaro é crítico de cinema e professor de comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba)


Fonte Terra Magazine.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Eduardo Galeano • Sangue Latino (2009)




Eduardo Galeano • Sangue Latino (2009) from La verdad Sin Tapujos on Vimeo.


Talvez es el episodio mas profundo de la serie.
Filmado en Uruguay en noviembre de 2009.

Diretor: Felipe Nepomuceno
Dir. de Fotografia: Breno Cunha
© 2010 Urca Filmes

sábado, 6 de agosto de 2011

Fundação Casa de Jorge Amado guarda rico acervo do escritor baiano





A fundação, que está situada no Centro Histórico de Salvador, abriga cerca de 250 mil documentos e livros traduzidos para 49 idiomas e publicados em 55 países. Amigos e familiares comentam a influência do povo e da cultura baiana na vida do escritor.


fonte: Espaço Aberto Salvador Globo News G1

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Como as nuvens são - Lázaro Ramos




Miguel é um menino que sente as coisas. E passa toda a vida tentando aprende com a dureza da vida, como se constrói uma identidade. Criado num ambiente pobre de afeto, ele aprende a enxergar nos detalhes, o segredo das coisas. E é nas nuvens que ele se vê espelhado, com todas as dificuldades e arestas da relação pais e filhos. Direção de Lázaro Ramos, roteiro de Elísio Lopes JR. Com Flavio Bauraqui, Clementino Kelé, entre outros.

Direção: Lázaro Ramos
Roteiro: Elisio Lopes
Produção Tânia Rocha

Elenco:

Flávio Bauraqui
Clementino Kelé
Tatiana Tiburco
Kaiky Bonifácio

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Cancion con todos


De fondo Canción con todos de Cesar Isella y Armando Tejada Gómez.
Interpretada por: Cesar Isella, Cuarteto Zupay, Pablo Milanés, Piero, Antonio Tarragó Ros , Silvio Rodríguez y Víctor Heredia