Então

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Beatriz Milhazes



"Não tem jeito, a pintura desfruta de uma posição meio imaculada no universo das artes. Existe de tudo, a arte contemporânea faz de tudo, pode tudo, mas na hora de entrar para os acervos dos museus mais importantes do mundo, a história não é bem essa. Há critérios conservadores. Agora, a minha vantagem com relação a outros pintores talvez esteja na minha insistência em introduzir questões fundamentais para a pintura sem ter medo dos estereótipos do Brasil... Nunca faço um desenho antes. Trabalho direto na tela. Porque, quando fica difícil avançar em uma obra, quando o processo emperra, surge então a minha chance de criar algo excepcional, de me superar. E não desisto até conseguir. Invisto na pintura que desandou, deixo-a pendurada no ateliê até resolver o problema. De lá, não sai nada que eu não aprove...me dou esse direito de ficar empacada. Esse tempo é fundamental para a qualidade do que apresento."

Beatriz Milhazes,
Revista Bravo! Dezembro/2007.



Beatriz Ferreira Milhazes (Rio de Janeiro RJ 1960). Pintora, gravadora, ilustradora, professora.
Beatriz produz uma mistura única e invulgar de técnica inovadora, sensibilidade, conteúdo e prazer estético; de erudição em História da Arte e referências populares. 'É uma das pintoras mais importantes de sua geração em plano mundial', afirma Herkenhoff. 'E não sou apenas eu quem diz isso. É consenso geral.' A turma de Beatriz surgiu na exposição Como Vai Você, Geração 80?, realizada há 20 anos no Parque Lage, no Rio de Janeiro. A mostra conectou-a com artistas como Leonilson, Leda Catunda, Daniel Senise e Nelson Felix - mas depois a pintora tomou um rumo completamente diverso de seus contemporâneos, principalmente no que diz respeito à cor. 'A pintura brasileira, em geral, não é muito colorida', assevera ela.



Em 1989, depois de algum tempo fazendo colagens geométricas com cortes de tecido, Beatriz fez a descoberta que provocou um desvio definitivo em sua obra. Experimentando em seu ateliê, encontrou uma maneira de fazer uma espécie de colagem com tinta. A técnica consiste em pintar cada figura que vai compor o quadro não diretamente na tela, e sim em placas de plástico. A placa é 'grudada' à tela, esperam-se algumas horas e, depois, retira-se a chapa plástica. A tinta que ali estava fica então aplicada ao quadro, como um decalque. É assim que Beatriz espalha seus mandalas, suas flores, frutas e corolas, seus pingentes, corações e pontos de crochê ao quadro vazio. 'As possibilidades são infinitas', explica. Beatriz tem milhares de desenhos, recortes e formatos que vai transformando em pintura e que usa conforme o caminho que quer dar para determinada obra. 'Sou uma colecionadora de imagens', define-se. 'Vou combinando ou confrontando, transformando e sobrepondo desenhos e formas a cada trabalho.'



Diante do vasto universo de referências que compõem sua arte, o maior desafio é organizar tantos elementos nos quadros. Há muita ordem no que pode, à primeira vista, parecer aleatório. 'É um processo quase matemático de disposição', diz. Na complexa engenharia de suas telas, as cores são a fundação. 'Eu jamais conseguiria fazer um trabalho em branco-e-preto. Fico paralisada sem as cores, não sei para onde conduzir a pintura.' Beatriz é movida, também, por um valor freqüentemente menosprezado por artistas contemporâneos: o simples prazer da beleza estética.



Sua técnica e os resultados únicos que surgem consomem horas de dedicação e disciplina. Ela passa sete horas diárias no ateliê, e um quadro leva cerca de um mês para ficar pronto. 'A sorte é que sempre fui muito organizada. Sou meio bancária, sabe?', brinca, explicando que segue à risca seus horários rigorosos. Ela, como muitos colegas e críticos, enxerga uma crise geral na pintura. 'É uma técnica estranha ao mundo contemporâneo, requer uma demora e uma concentração que o nosso tempo não favorece', explica. Para a própria Beatriz, no entanto, não há crise - basta olhar uma de suas telas para ter certeza disso.



















2 comentários:

Unknown disse...

Logo que me mudei para Londres a estaçao de Glaucester Road, perto de onde eu morava, estava decorada por ela. Liiiiinda, para espantar um pouco do cinza da cidade...

Anônimo disse...

Nossa muito bom seu blog,parabéns ele é muito interessante,estou fazendo um trabalho de artes e estou procurando grandes coisas sobre ela para surpreender ao meu trabalho a mim mesma!
Obrigada por postar sobre ela apoio muito a cultura e e vejo ela como uma das coisas mais importantes do mundo!
Muito obrigada novamente por postar sobre ela e peguei um paragrafo para acrescentar.
=)