Então

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Capitães da Areia - Jorge Amado



Ler...Ler...Ler é importante, para mim é indispensável. Há sempre um tempinho que se arranja para ler, apenas...ler por ler...
Adoro ler, de dia, á noite antes de adormecer, quando o sono não é mais forte que o meu desejo da leitura.



Os Capitães da Areia é um grupo de meninos de rua.
O livro é dividido em três partes. Antes delas, no entanto, via uma seqüência de reportagens e depoimentos, explicando que os Capitães da Areia é um grupo de menores abandonados e marginalizados, que aterrorizam Salvador.
Os únicos que se relacionam com eles são Padre José Pedro e uma mãe-de-santo, Don'Aninha.
O Reformatório é um antro de crueldades, e a polícia os caça como adultos antes de se tornarem um.
A primeira parte em si, "Sob a lua, num velho trapiche abandonado" conta algumas histórias quase independentes sobre alguns dos principais Capitães da Areia (o grupo chegava a quase cem, morando num trapiche abandonado, mas tinha líderes).
Pedro Bala, o líder, de longos cabelos loiros e uma cicatriz no rosto, uma espécie de pai para os garotos, mesmo sendo tão jovem quanto os outros, que depois descobre ser filho de um líder sindical morto durante uma greve;
Volta Seca, afilhado de Lampião, que tem ódio das autoridades e o desejo de se tornar cangaceiro;
Professor, que lê e desenha vorazmente, sendo muito talentoso;
Gato, que com seu jeito malandro acaba conquistando uma prostituta,
Dalva; Sem- Pernas, o garoto coxo que serve de espião se fingindo de órfão desamparado (e numa das casas que vai é bem acolhido, mas trai a família ainda assim, mesmo sem querer fazê-lo de verdade);
João Grande, o "negro bom" como diz Pedro Bala, segundo em comando;
Querido- de- Deus, um capoeirista amigo do grupo, que dá algumas aulas de capoeira para Pedro Bala, João Grande e Gato; e Pirulito, que tem grande fervor religioso.
O apogeu da primeira parte é dividido em, quando os meninos se envolvem com um carrossel mambembe que chegou na cidade, e exercendo sua meninez; e quando a varíola ataca a cidade, matando um deles, mesmo com Padre José Pedro tentando ajudá-los e se indo contra a lei por isso.



A segunda parte, "Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus olhos", surge uma história de amor quando a menina Dora torna-se a primeira "Capitã da Areia", e mesmo que inicialmente os garotos tentem tomá-la a força, ela se torna como mãe e irmã para todos. (O homossexualismo é comum no grupo, mesmo que em dado momento Pedro Bala tente impedi-lo de continuar, e todos eles costumam "derrubar negrinhas" na orla.) Professor e Pedro bala se apaixonam por ela, e Dora se apaixona por Pedro Bala. Quando Pedro e ela são capturados (ela em pouco tempo passa a roubar como um dos meninos), eles são muito castigados, respectivamente no Reformatório e no Orfanato.
Quando escapam, muito enfraquecidos, se amam pela primeira vez na praia e ela morre, marcando o começo do fim para os principais membros do grupo.



"Canção da Bahia, Canção da Liberdade", a terceira parte, vai nos mostrando a desintegração dos líderes.
Sem-Pernas se mata antes de ser capturado pela polícia que odeia;
Professor parte para o Rio de Janeiro para se tornar um pintor de sucesso, entristecido com a morte de Dora;
Gato se torna uma malandro de verdade, abandonando eventualmente sua amante Dalva, e passando por ilhéus; Pirulito se torna frade; Padre José Pedro finalmente consegue uma paróquia no interior, e vai para lá ajudar os desgarrados do rebanho do Sertão; Volta Seca se torna um cangaceiro do grupo de Lampião e mata mais de 60 soldados antes de ser capturado e condenado;
João Grande torna-se marinheiro;
Querido-de-Deus continua sua vida de capoeirista e malandro;
Pedro Bala, cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, vai se envolvendo com os doqueiros e finalmente os Capitães de Areia ajudam numa greve. Pedro Bala abandona a liderança do grupo, mas antes os transforma numa espécie de grupo de choque. Assim Pedro Bala deixa de ser o líder dos Capitães de Areia e se torna um líder revolucionário comunista.



Este livro foi escrito na primeira fase da carreira de Jorge Amado, e nota-se grandes preocupações sociais. As autoridades e o clero são sempre retratados como opressores (Padre José Pedro é uma exceção mas nem tanto; antes de ser um bom padre foi um operário), cruéis e responsáveis pelos males.
Os Capitães da Areia são tachados como heróis no estilo Robin Hood. No geral, as preocupações sociais dominam, mas os problemas existenciais dos garotos os transforma em personagens únicos e corajosos, corajosos Capitães de Areia de Salvador.



Pois é, os capitães da areia continuam por aí.


Discover Luiz Tatit!

Um comentário:

Anônimo disse...

O livro "Capitães da Areia", mesmo sendo escrito na primeira fase da carreira de Jorge Amado continua atualíssimo,
essas crianças continuam no abandono,
temos que lutar para integrá-las na sociedade dando a elas noções de cidadania e reincerção social.