“Se os povos não se ilustram, se não vulgarizam seus direitos, se cada homem não conhece o que vale e o que pode e o que se lhe deve, novas ilusões sucederão as antigas...’
Mariano Moreno- 1810.
Quando o vice-rei do Prata Baltazar Hidalgo de Cisneros desembarcou no trapiche de Buenos Aires, no ano de 1809, saltou em meio a um vespeiro. Ainda que os portenhos o acolhessem bem, a cidade inquieta acompanhava tensa o que ocorria na metrópole. A Espanha estava ocupada pelas tropas de Napoleão e somente a região da Andaluzia ainda resistia ao invasor. Mais um tanto, e o que restava da autoridade espanhola - o Conselho da Regência - reduzia-se à cidade de Cádiz e a uma pequena ilha de Léon. Por tudo predominava o caos e o horror que Goya denunciou.
Cabildo aberto de Buenos Aires (tela de Pedro Subercaseaux)
O trono de Madri estava ocupado por José I, irmão de Napoleão, enquanto Fernando VII, herdeiro legítimo dos Bourbon, cativo do francês, conclama os súditos a se rebelarem contra o usurpador. Além disto, a princesa Carlota Joaquina, esposa de Dom João VI exilada no Rio de Janeiro, e irmã de Fernando, igualmente reivindicava a soberania sobre o vice-reino.
Na beira do rio da Prata acirravam-se as desavenças entre espanhóis e crioulos e entre republicanos favoráveis à independência em disputa contra monárquicos fiéis ao velho manto ibérico, e também entre mercantilistas e livre-cambistas. Tudo estava prestes a explodir.
O grande império
O império espanhol das Índias era um colosso: sua cabeça estava sob sol a pino seus pés quase no pólo sul. Do deserto do Colorado ao norte, seu poder estendia-se por mais de dez mil quilômetros até a Terra do Fogo, no extremo sul, próximo à Antártida. Era duas vezes maior do que o antigo império romano e fora construído sobre as ruínas dos grandes impérios indígenas da América pré-colombiana: o asteca, o maia e o inca. Agora era a vez dele vir abaixo.
A coroa real disputada entre bonapartistas e bourbons numa Espanha em frangalhos estimulou a que os povos coloniais almejassem sua independência. Cisneros foi o ultimo dos representantes daquela imensa máquina burocrática ibérica que por três séculos controlava tudo deste lado de cá do Atlântico. Desterram-no em 25 de maio de 1810
Um novo contrato
Mariano Moreno, um patriota argentino tradutor de Rousseau ( falecido precocemente aos 32 anos em seguida a ter aberto a primeira biblioteca do país), secretário da Primeira Junta presidida por Cornélio Saavedra, concluíra que rompido o contrato colonial (das colônias com a Metrópole) estabelecia-se no seu lugar um contrato social no qual o povo local, rejeitando qualquer soberania sobre si, assumia-se como autônomo senhor do seu próprio destino.
Todavia, se a ascensão dos criolos portenhos ao poder não foi traumática, se a Revolução de Maio não derramou sangue de imediato, os tempos seguintes seriam terríveis. Durante ainda mais 15 anos, patriotas (San Martin, Simon Bolívar, Gervásio Artigas, Bernardo O´Higgins, Antonio Sucre, etc.) e realistas (a mando de Fernando VII) se enfrentaram pelo império inteiro em combates memoráveis (Chacabuco, Maipu, Boyacá, Carabobo, Ayacucho) até que a Espanha exausta teve que concordar com a independência das suas ex-colônias. Foi uma das maiores revoluções políticas do Ocidente e precursora da libertação dos povos colonizados do Terceiro Mundo.
Bibliografia
Bethel, Leslie (org.) – História da América Latina: da independência até 1870. Vol. III.São Paulo. EDUSP. 2001.
Busaniche, José Luis – Historia Argentina. Buenos Aires: Solar-Hachette, 1975.
Feimann, José Pablo – Filosofia y Nación. Estúdios sobre el pensamiento argentino. Buenos Aires: Ariel, 1996.
Floria, Carlos Alberto – Belsunce, César A. Garcia – Historia de los argentinos. Buenos Aires: Ediciones Larousse Argentina, 1992. 2 v.
Pigna, Filipe – 1810 – La outra historia de nuestra revolucion fundadora. Buenos Aires: Planeta, 2009.
Ramos, José Abelardo – Lãs masas y las lanzas [1810-1862]. Buenos Aires. Editorial Plus Ultra, 1973.
Vives, J.Vicent (Dir.)– Historia Social y Económica de España y America. Vol. V- Los siglos XIX e XX. America Independiente. Barcelona: Editorial Vicent Vives, 1974.
fonte: Terra
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