Então

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Origem da Páscoa




Quando era pequena, Páscoa era uma festa doce. Lá estava eu, a caçula da família em busca do ninho escondido, e nele um imperdivel ovo de chocolate, às vezes até mais que um, quando me comportava bem. Já maior, a festa era salgada. Os doces aconteciam na forma de bolos e tortas. E os meus queridos ovos de chocolates ficavam no esquecimento. Hoje, quando falo de Páscoa, falo de peixes e vinhos, na maioria das vezes. Mas e os Ovos de chocolates foram mesmo esquecidos? Como foi que eles entraram nesta festa?




A Páscoa aparece na história como um rito de passagem. Era comemorada entre povos europeus há milhares de anos, durante o mês de março, para celebrar a mudança da estação: do inverno para a primavera. Outro aspecto da data festiva é o da prosperidade, da fertilidade. O começo da primavera tinha uma importância especial para as populações antigas que habitavam regiões de inverno rigoroso, pois representava maiores chances de sobrevivência e de produção de alimentos.





Como os índices de mortalidade durante o período frio do ano eram altíssimos na Europa antiga, os símbolos que hoje adotamos, como o coelhinho e os ovos doces, surgiam como representantes de vida nova. O coelho lembra a fertilidade, pela sua ampla e rápida capacidade de reprodução, e os ovos são a própria vida que surge.
Fazia parte dos hábitos dos persas, romanos, judeus e armênios oferecer ovos coloridos nessa época.





Segundo a Enciclopédia Britanica, o nome Páscoa, assim como o de outras festas como Natal, mostra que os cristãos se apoderaram de feriados e nomes pagãos para suas festividades – o que, como lembra a publicação, parece ser um fato dúbio, já que os cristãos costumavam combater com veemência as tradições pagãs. Para justificar sua afirmação, a enciclopédia cita como uma das versões para a denominação Páscoa a aproximação da versão em inglês da palavra – Easter – com Eostre ou Eostrae, a deusa anglo-saxônica da primavera e da fertilidade. Existe ainda a hipótese de os termos Easter (do inglês) e Ostern (do alemão) terem se originado do nome antigo de um mês germânico – Eostremonat.

O vocábulo Páscoa, no português, teria vindo do nome em hebraico da festa judaica à qual está intimamente ligado, e que representa passagem: Pessach. Enquanto os pagãos celebravam a transição do inverno para a primavera, o motivo de comemoração para os judeus era a superação da escravatura no Egito, com a conquista da liberdade da terra prometida, que foi feita com a travessia do Mar Vermelho liderada por Moisés. Até hoje a Páscoa para a comunidade judaica dura oito dias e atrai grande fluxo de visitantes em Jerusalém e na Cisjordânia.





Para os cristãos a Páscoa representa a Ressurreição de Jesus Cristo depois da sua morte por crucificação, que teria ocorrido nesta época do ano em 30 ou 33 d.C. A maneira como é calculada a data do feriado cristão, no entanto, é mais um aspecto que remete às tradições pagãs, já que se relaciona com a lua cheia. O domingo de Páscoa é o primeiro após a primeira lua cheia a partir do equinócio vernal.

O equinócio vernal, o primeiro dia da Primavera no hemisfério Norte, é sempre em 20 ou 21 de março. Essa data apresenta variação devido aos anos bissextos, que deslocam o calendário das estações em um dia. No equinócio acontece um fenômeno: o dia e a noite têm a mesma duração, de 12 horas cada um. Acontecendo a primeira lua cheia em seguida, o próximo domingo é o de Páscoa. Como o ciclo da lua é de 28 dias, a data da Páscoa e como consequência a do Carnaval que é ligado a ela, pode variar bastante.


Ovos de Páscoa

A tradição de dar um ovo na Páscoa tem milênios. Anteriormente, o ovo era de galinha mesmo. O hábito de dar ovos de verdade vem da tradição pagã! Agradeça aos confeiteiros franceses o ovo que você come na Páscoa hoje ser feito de chocolate. Caso contrário, você ganharia um belíssimo ovo de galinha para celebrar a data.





A tradição de presentear com ovos - de verdade mesmo - é muito, muito antiga. Na Ucrânia, por exemplo, centenas de anos antes de era cristã já se trocavam ovos pintados com motivos de natureza - lá eles têm até nome, pêssanka - em celebração à chegada da primavera.





Os chineses e os povos do Mediterrâneo também tinham como hábito dar ovos uns aos outros para comemorar a estação do ano. Para deixá-los coloridos, cozinhavam-nos com beterrabas.





Mas os ovos não eram para ser comidos. Eram apenas um presente que simbolizava o início da vida. A tradição de homenagear essa estação do ano continuou durante a Idade Média entre os povos pagãos da Europa.

Eles celebravam Ostera, a deusa da primavera, simbolizada por uma mulher que segurava um ovo em sua mão e observava um coelho, representante da fertilidade, pulando alegremente ao redor de seus pés.



Os cristãos se apropriaram da imagem do ovo para festejar a Páscoa, que celebra a ressurreição de Jesus - o Concílio de Nicéia, realizado em 325, estabeleceu o culto à data. Na época, pintavam os ovos (geralmente de galinha, gansa ou codorna) com imagens de figuras religiosas, como o próprio Jesus e sua mãe, Maria.





Na Inglaterra do século X, os ovos ficaram ainda mais sofisticados. O rei Eduardo I (900-924) costumava presentear a realeza e seus súditos com ovos banhados em ouro ou decorados com pedras preciosas na Páscoa. Não é difícil imaginar por que esse hábito não teve muito futuro.





Foram necessários mais 800 anos para que, no século XVIII, confeiteiros franceses tivessem a idéia de fazer os ovos com chocolate - iguaria que aparecera apenas dois séculos antes na Europa, vinda da então recém descoberta América.





Surgido por volta de 1500 a.C., na região do golfo do México, o chocolate era considerado sagrado pelas civilizações Maias e Astecas. A imagem do coelho apareceu na mesma época, associada à criação por causa de sua grande prole.

2 comentários:

Edson Luiz Vieira disse...

Que texto belissimo.
Feliz Páscoa, Tuca...
Bjss a todos

Enzo disse...

É por este excelente texto que sou um seguidor do teu blog, sempre com novidades e coisas que podemos aprender.A cultura se faz presente sempre, parabéns está cada dia melhor e VC está escrevendo ótimamente bem, leitura fácil e gostosa.