
Os monges peregrinos do mar da Irlanda
Para alguns irlandeses, vejam só, o Brasil teria sido descoberto por um dos seus, por São Brandão, um abade do mosteiro de Cluain-Ferta que no século 6, em companhia de 14 ou 16 outros monges, ao tentar atravessar da Irlanda para a Escócia , saiu-se a vagar pelo Oceano por seis meses, ou seis anos, seguidos. Aconteceu de tudo com aquele Ulisses de hábito e capucho. Em cada praia desembarcada nos remotos arquipélagos que encontravam, registrou a The Norse Sagas, eram ciclopes ou as inevitáveis sereias quem os atormentavam. Certa vez, durante essa inesperada aventura marinha, concentrada a maior parte no Atlântico Norte, São Brandão, assaltado por incrível distração, celebrara uma missa de Páscoa nas costas de uma imenso cetáceo, sem ter-se dado conta disso. Pois foi esse rei dos desatentos quem teria vindo parar no Brasil, não no nosso Brasil, esclareça-se, mas no que os antigos irlandeses chamavam de ilha Brasil.
O significado do brasil gaélico: as lendas gaélicas desde idades remotíssimas, faziam referência a existência dessa tal ilha que seria o equivalente irlandês das Ilhas Afortunadas da mitologia greco-romana. Terra de leite e de mel que localizava-se num ponto indeterminado dentro do Grande Oceano, mas seguramente bem mais abaixo da Irlanda. Filólogos, essa gente de tanta imaginação, asseguram que "brasil" em gaélico, a língua primitiva dos povos da Irlanda, derivaria de "brés", significando "nobre" ou "afortunado", mas que também pode ser entendido como "feliz" e "encantador". Seja como for descreviam-na como um paraíso na terra. Desta forma a palavra "brasil" preexistia à descoberta de 1500 e não a associavam ao pau-brasil, conhecido então como verzino, um pau-de-tinta cujo comércio era praticado pelos italianos com os indianos desde o século 13. Varnhagem no passado, e Luís Weckmann no presente, asseveram que esse nome já aparecia numa Carta Anônima de 1324 e que desde aquela data até 1500, ela esta assinalada mais 28 vezes nos mapas, portulanos, e outros registros cartográficos conhecidos.
Brasil, terra de encantamentos: bem antes dos portugueses e espanhóis porem seus pés nas praias do nosso litoral ou arribarem nas margens dos rios, a palavra Brasil pois já lhes alimentava a extravagância como uma praça de encantamentos, morada de seres fabulosos criados por Deus para assombrar os cristãos. Havia pois uma predisposição deles em maravilharem-se com tudo a ser visto por aqui, mesmo que preliminarmente não chamassem assim a terra desvelada.
Os europeus e os nativos

As fantasias dos descobridores

A celebração das Amazonas
Mesmo o sóbrio Gabriel Soares de Souza, o homem do Tratado Descritivo do Brasil de 1587, rendeu-se às aparições monstruosas quando reiterou que volta e meia nas cercanias da sua propriedade no Recôncavo baiano, surgia do fundo da água um Upupiara, um homem-marinho de pele escamosa, com mais de três metros de cumprimento, que num salto, num repente, devorava-lhe um escravo. Mas isso não impediu dele admirar-se com a terra.
A terra do diabo para os jesuítas: quem nunca acreditou que o Brasil fosse uma espécie de paraíso terreal foram justamente os padres, os jesuítas. Não que não se deliciassem com beleza das coisas, pelo céu azulcíssimo, a brisa gostosa da beira-mar, e pela ausência daquele vento cortante, gelado das Europas. É que para eles, homens de Deus, a safadeza aqui reinante era excessiva. A gente avermelhada sempre nua, com as impudências à mostra, o sorriso convidativo das nativas, "cevando as queixadas bestiais em corpos humanos", como disse Anchieta, exalava à pecado e não à santidade. Bastava-lhes ver o olho lúbrico do português, casanova nos trópicos, ávido de índias, descalçando-se, jogando-se nos riachos e nas ribeiras atrás delas na hora do banho, para perceberem que além de "quebrantarem as leis santas da mãe natureza e os divinos preceitos do Pai onipotente", nem toda a água-benta do mundo purificaria a perdição e a sem-vergonhice do chão recém descoberto. Paraíso coisa nenhuma. Era, isso sim, a Terra do Diabo!

O jesuíta chocado com a liberalidade e a selvajaria
Na íntegra do Terra
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/index_brasil.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário