Então

sexta-feira, 4 de março de 2011

Sobre enguiços - Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa




Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa 
Há frases tão perfeitas, redondinhas, bem acabadinhas, explicam tanto em tão poucas palavras, que deveriam ser gravadas em mármore. Exemplo: “O passado é prólogo”.
Para confirmar a justeza e eterna atualidade dessa expressão de Shakespeare, basta ler a Bíblia e as obras do inglês. Está tudo lá... nada de novo sob o sol!
E não há mesmo. Desde sempre soubemos que mulheres e homens reagem de modo diferente às mesmas situações e que essa diversidade faz parte do sal da vida. No entanto, ao ler noutro dia “É... mulher enguiça!...”, frase de Tom Jobim citada por Arnaldo Jabor, parei, de chofre, para reler o parágrafo.
É frase perfeita, redondinha, muito bem acabadinha e, sobretudo, da tal eterna atualidade. Enguiçamos mesmo tal qual carro de repente enguiça, como lembrou Jabor.
Não duvidei dela nem por um segundo, reconhecendo logo quantas vezes enguicei e enguiço... Numa relação de amor – e amor no sentido lato, todos os amores que o amor contém - o enguiço é geralmente passageiro, basta o empurrão de um carinho ou uma palavra doce que a máquina volta a funcionar.
Mas atenção: como disse uma amiga, há ocasiões em que é preciso chamar o reboque... Geralmente isso se deve à falta de manutenção e enguiços repetidos podem danificar seriamente a máquina.
Um exemplo? Amo meu país. É meu lar, minha casa, aqui pertenço. Nada a ver com patriotismo ou xenofobia. Viajar é não só preciso, como enorme prazer. Mas amor a ponto de enguiçar, é pelo Brasil.
E isso vem ocorrendo ultimamente com muita freqüência. Ando enguiçando com o Brasil, enguiços repetidos, acho que o Brasil se esqueceu de manter aceso o nosso amor...
Como continuar devotada a um país que permite que suas leis sejam tão incongruentes que a injustiça acabe sendo rotina e não exceção? Não choca ver assumirem comissões da maior importância em nosso Congresso, que refletem nossa dignidade como povo, pessoas indiciadas por crimes gravíssimos ou inteiramente desprovidas de qualificação para o cargo?
Mas pense: essas pessoas foram eleitas ou tomaram o Congresso de assalto? Pois é, foram eleitas, não é? E por que puderam se candidatar e concorrer e ganharam? Porque foram indiciadas e não julgadas.
Dizem que nossas leis são muito bem redigidas. Então foram redigidas de modo a favorecer a lentidão da Justiça? É isso?
Como vamos sair desse enguiço? Quem vai ser o político inteligente que vai se lembrar que eleitor, por amar seu país, também enguiça e que então não basta um empurrão, nem chamar o reboque?
Aí só trocando a máquina?

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