Pesquisa mostra que anões de uma aldeia são livres de doenças associadas à idade, como câncer e diabete
Pessoas que vivem em aldeias remotas do Equador têm uma mutação que pode jogar luz sobre a longevidade humana e as maneiras de aumentá-la. Os aldeões, geralmente com menos de 1 metro de altura, possuem uma rara condição conhecida como síndrome de Laron ou nanismo tipo Laron. E são livres de duas doenças associadas ao envelhecimento, câncer e diabete.
Um grupo de 99 aldeões com a síndrome foi estudado por 24 anos por Jaime Guevara-Aguirre, médico especializado em diabete. Ele os descobriu quando viajava a cavalo para uma aldeia montanhosa. A maioria dessas aldeias é habitada por índios, mas esses aldeões eram europeus, com sobrenomes espanhóis típicos de cristãos-novos.
À medida que Aguirre acumulava dados, notava um padrão notável: embora o câncer fosse frequente entre pessoas que não tinham a mutação de Laron, os que a tinham quase nunca contraíam a doença. E nunca desenvolviam diabete, apesar de muitos serem obesos.
Valter Longo, pesquisador do envelhecimento na Universidade do Sul da Califórnia, viu nesses pacientes uma oportunidade para explorar em pessoas as mutações genéticas que podem fazer animais de laboratório viverem mais que o normal.
Os pacientes de Laron têm uma mutação no gene que produz o receptor para o hormônio do crescimento, uma proteína na membrana de células. Sua região externa é reconhecida pelo hormônio do crescimento; a interna envia sinais pela célula quando o hormônio do crescimento aciona o receptor. A mutação dos pacientes de Laron faz com que seu receptor do hormônio do crescimento não tenha as últimas oito unidades da região exterior, por isso não alcança o hormônio do crescimento.
Em crianças normais, o hormônio do crescimento faz as células do fígado produzirem outro hormônio, o fator de crescimento semelhante à insulina, ou IGF-1, e esse hormônio faz as crianças crescerem. Se os pacientes de Laron receberem o IGF-1 antes da puberdade, eles podem crescer até uma altura bastante normal.
É aí que a fisiologia dos pacientes de Laron se associa a estudos de longevidade. O IGF-1 é parte de uma via de sinalização que existe tanto no nematódeo de laboratório como em pessoas. O gene que faz o receptor para o IGF-1 no nematódeo é chamado DAF2. E os nematódeos em que esse gene é eliminado vivem duas vezes mais que o normal. Os pacientes de Laron têm defeito equivalente.
Longo diz que ter níveis baixos de IGF-1 foi a característica decisiva para os pacientes de Laron se livrarem de doenças associadas à idade. Com Aguirre, ele expôs células humanas que cresciam numa placa de Petri ao soro de pacientes de Laron. As células foram então danificadas com um químico que rompe seu DNA. O soro de Laron protegeu as células contra danos genéticos e instigou as células danificadas a se autodestruírem. Os dois efeitos foram revertidos quando pequenas quantidades de IGF-1 foram adicionadas ao soro.
no THE NEW YORK TIMES
TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
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