terça-feira, 9 de setembro de 2008
Pedra Filosofal . António Gedeão
Pedra Filosofal
Poesia de António Gedeão
voz :Manuel Freire:
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam
como estas árvores que gritam
em bebedeiras de azul
eles não sabem que sonho
é vinho, é espuma, é fermento
bichinho alacre e sedento
de focinho pontiagudo
no perpétuo movimento
Eles não sabem que o sonho
é tela é cor é pincel
base, fuste ou capitel
arco em ogiva, vitral
Pináculo de catedral
contraponto, sinfonia
máscara grega, magia
que é retorta de alquimista
mapa do mundo distante
Rosa dos Ventos Infante
caravela quinhentista
que é cabo da Boa-Esperança
Ouro, canela, marfim
florete de espadachim
bastidor, passo de dança
Columbina e Arlequim
passarola voadora
pára-raios, locomotiva
barco de proa festiva
alto-forno, geradora
cisão do átomo, radar
ultra-som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar
Eles não sabem nem sonham
que o sonho comanda a vida
e que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (Lisboa, 24 de Novembro de 1906 — Lisboa, 19 de Fevereiro de 1997) foi professor, pedagogo, investigador de História da ciência em Portugal, divulgador da ciência e poeta, sob o pseudónimo de António Gedeão.
"Pedra Filosofal" e "Lágrima de Preta" são dois dos seus mais célebres poemas.
Académico efectivo da Academia das Ciências de Lisboa e Director do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa.
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