Então

terça-feira, 27 de julho de 2010

Nova edição de guia de saúde mental pode classificar quase todos com transtorno


Guia para diagnóstico será publicado em maio de 2013 e pode desvalorizar gravidade de doenças


Uma edição atualizada da "Bíblia" sobre saúde mental usada pelos médicos pode incluir diagnósticos de "transtornos" como birras da criança e compulsão alimentar, o que poderia significar que em breve ninguém mais vai ser classificado como normal.

Principais especialistas em saúde mental alertaram nesta terça-feira, 27, que uma nova edição do Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, que está sendo revisado agora para publicação em maio de 2013, poderia desvalorizar a gravidade de doenças mentais e rotular quase todas as pessoas com algum tipo de desordem.

Citando exemplos de novas atualizações, como "depressão com ansiedade suave", "síndrome com risco de psicose" e "transtorno do temperamento irregular", os especialistas disseram que muitas pessoas perfeitamente saudáveis poderiam no futuro ser informadas de que estão doentes.

"Fazer isso é reduzir de uma piscina para uma poça d'água o que é normal", disse Til Wykes, do Instituto de Psiquiatria do Kings College London.

O manual é publicado pela Associação Psiquiátrica Americana e contém descrições, sintomas e outros critérios para o diagnóstico de transtornos mentais. É visto como a Bíblia global para o campo da medicina de saúde mental.

Os critérios são estabelecidos para fornecer definições claras a profissionais que tratam pacientes com transtornos mentais e a pesquisadores e empresas da indústria farmacêutica que procuram desenvolver novas formas de tratamento.

Wykes e os colegas Felicity Callard, também do Instituto de Psiquiatria do Kings College, e Nick Craddock, do Departamento de Medicina Psicológica e Neurologia da Universidade de Cardiff, disseram que muitos na comunidade psiquiátrica estão preocupados com a expansão das orientações, pois o mais provável será que ninguém mais será classificado como normal.

"Tecnicamente, com a classificação de tantos novos transtornos, todos teremos disordens", disseram eles em declaração conjunta. "Isso pode levar a crer que muitos de nós também 'precisamos' de drogas para tratar nossas 'condições' - e muitas dessas drogas podem ter efeitos colaterais desagradáveis ou perigosos."

Os cientistas disseram que o diagnóstico da "síndrome do risco de psicose" é particularmente preocupante, pois poderia rotular falsamente jovens que podem ter apenas um pequeno risco de desenvolver a doença.

"É um pouco como dizer a 10 pessoas com um resfriado comum que elas estão "em risco de ter uma síndrome de pneumonia", quando apenas um tem a probabilidade de desenvolver a doença", disse Wykes.

A Associação Psiquiátrica Americana não respondeu a um pedido de comentário sobre o assunto.

Os cientistas deram exemplos usando a revisão anterior do manual, que foi chamada de DSM 4 e incluiu diagnósticos mais amplos e categorias para déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), autismo e transtorno bipolar na infância.

Isso, segundo eles, "contribuiu para três epidemias falsas", particularmente nos Estados Unidos. "Durante a última década, quantos médicos alarmaram pais a dar drogas como Ritalina para crianças sem elas realmente precisarem?", perguntou Wykes.

Milhões de pessoas em todo o mundo - muitas delas, crianças - tomam medicamentos para TDAH, incluindo Ritalina, que é conhecido genericamente como metilfenidato, e drogas afins, como Adderall e Vyvanse. Só nos Estados Unidos, as vendas desses medicamentos representavam cerca de US$ 4,8 bilhões em 2008.

Wykes e Callard publicaram comentário no Jornal de Saúde Mental expressando preocupação com a próxima revisão do manual e destacando 10 ou mais documentos de outros cientistas que também estão preocupados.

fonte:Reuters

terça-feira, 20 de julho de 2010

Para a Mina e para Joana


A saudade é um parafuso
que quando a rosca cai
só entra se for torcendo
porque batendo não vai.
Mas quando enferruja dentro
nem distorcendo não sai.

Raul Seixas

domingo, 18 de julho de 2010

Jabulani, a bola mais criticada

Ninguém recebeu mais críticas durante a Copa do Mundo de futebol do que Jabulani, a bola oficial do torneio. Ela foi chamada pelos jogadores de "bola de supermercado" (Julio César), "bola sobrenatural" (Luis Fabiano) e até de "bola patricinha" (Felipe Melo).

A história moderna da bola de futebol remonta à Copa de 70, ocasião em que o mundo foi apresentado a uma bola de futebol cuja forma se mostrou tão conveniente que permaneceu em uso até o recente aparecimento da Jabulani.

A concepção da bola consagrada em 70 foi inspirada em um conhecido poliedro convexo, descoberto por Arquimedes, denominado de icosaedro truncado. O icosaedro regular é um poliedro convexo de 20 faces triangulares, e o icosaedro truncado, um poliedro convexo obtido após fazermos "cortes" nos vértices do icosaedro regular.

Por serem poliedros, tanto o icosaedro regular como o truncado atendem à seguinte relação, conhecida como teorema de Euler: o número de vértices (V) mais o de faces (F) excede em 2 a quantidade de arestas (A), ou seja, V+F = A+2.

No caso do icosaedro regular, suas 20 faces são triângulos equiláteros, sendo que cada vértice do sólido é formado pela junção de quatro triângulos, o que concede a ele 12 vértices e 30 arestas. As 32 faces do icosaedro truncado são formadas por 12 pentágonos regulares e 20 hexágonos regulares. Cada um dos 60 vértices do icosaedro truncado é formado pela junção de 1 pentágono e 2 hexágonos, o que resulta ao sólido o total de 90 arestas. Poliedros cujas faces regulares são de mais de um tipo, como o icosaedro truncado, que possui faces pentagonais e hexagonais, recebem o nome de sólidos de Arquimedes.

Desde os anos 70, portanto, a fabricação da bola tradicional de futebol é feita inflando-se um icosaedro truncado de faces flexíveis até se obter um sólido "suavemente" esférico. A novidade introduzida pela Jabulani é o fato de que o poliedro de material flexível inflável nela utilizado é composto apenas por pentágonos regulares, como se vê no vídeo da sua fabricação.

Para entendermos por que uma bola como a Jabulani implica uma trajetória mais irregular do que a da bola tradicional, é razoável olhar para a planificação das faces a partir de um dos vértices do poliedro e compará-la com a da bola tradicional.

Observe que o "ângulo de folga" com relação a 360 é menor na bola tradicional do que na Jabulani, o que, em última análise, implica dizer que, quando inflada, a bola clássica irá gerar uma superfície mais suave -e menos suscetível à trajetória irregular- do que a Jabulani.

Não só nossos jogadores estão "matematicamente" corretos em reclamar da Jabulani, como também podemos dar um novo apelido a ela: Jabulani, a "bola não arquimediana".

JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO é graduado e mestre pela USP e professor de matemática do Colégio Santa Cruz.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Os ratos dão razão a Kant - Fernando Reinach


Fernando Reinach

Você sabe exatamente onde está ? provavelmente sentado, lendo jornal. Uma das funções importantes do nosso cérebro é coletar as informações originadas nos órgãos dos sentidos, como visão e tato, processar essa informação e nos manter informados sobre nossa localização.

Apesar de o sistema de localização utilizado pelo cérebro ser muito estudado, havia uma polêmica entre os cientistas. Alguns acreditavam que esse sistema era resultado do aprendizado, sendo desenvolvido durante a infância. Isso sugeria que o cérebro de um recém-nascido se assemelha a uma página em branco, que é preenchida ao longo do desenvolvimento ? uma ideia associada ao pensamento de Descartes. Outros acreditavam que nascemos com um cérebro capaz de determinar nossa localização no espaço ? uma ideia associada a Kant, que acreditava que a noção de espaço e tempo é uma pré-condição para o aprendizado. A novidade é que estudos com ratos recém-nascidos demonstram que, ao abrirem os olhos, eles já possuem o aparato cerebral capaz de localizá-los no espaço.

Dificilmente encontraremos um rato em uma cadeira lendo jornal, mas foi no cérebro desse animal que o sistema de localização foi mais estudado. O rato utiliza a informação espacial para se orientar quando procura alimentos, parceiros sexuais ou quando volta para o ninho.

Há muitos anos foi descoberto que existem diversos tipos de neurônios envolvidos no processamento de informações espaciais. Esses neurônios foram descobertos quando cientistas implantaram minúsculos eletrodos no cérebro de ratos. Esses eletrodos são capazes de detectar a atividade de cada neurônio e enviar essa informação a um computador. Quando os ratos monitorados foram soltos em suas gaiolas e a atividade dos neurônios foi monitorada, os cientistas descobriram que existem diversas classes de neurônios.

Uma das classes, a dos neurônios "localizadores", dispara sinais elétricos quando o rato passa em um determinado local da gaiola. Para cada local da gaiola foi possível detectar vários desses neurônios. Existem neurônios para o canto esquerdo, o canto direito e assim por diante. Toda vez que o rato passa por esse local, independentemente de onde ele vinha ou para onde ia, esses neurônios disparam.

Um segundo tipo de neurônio, chamado de "direcional", dispara sempre que o rato está orientado em uma direção. Assim, por exemplo, um neurônio "direcional norte" dispara sempre que o corpo do rato está orientado em direção ao norte, independentemente de onde ele está na gaiola. Um neurônio "direcional sul" dispara quando o nariz do rato está apontado para o sul e assim por diante.

Habilidade inata. No novo experimento, os cientistas, usando técnicas de microcirurgia, foram capazes de implantar os eletrodos em dezenas de ratos recém-nascidos, que nunca haviam saído do ninho ou sequer aberto os olhos.

Os ratos foram colocados de volta no ninho e, dias depois, assim que saíram pela primeira vez para passear pela gaiola, seus neurônios já estavam sendo monitorados. A descoberta é que nesses ratos foi possível detectar a existência de neurônios "localizadores" e neurônios "direcionais" com características idênticas às existentes nos ratos adultos.

O fato de esses neurônios existirem antes de haver qualquer aprendizado sobre o ambiente sugere que os ratos nascem com a capacidade de se localizar. Portanto, ela deve estar codificada diretamente no seu genoma não dependendo do aprendizado. É mais uma demonstração de que nascemos com o cérebro parcialmente pré-configurado. Se Kant estivesse vivo, provavelmente ficaria feliz com essa descoberta.

BIÓLOGO

MAIS INFORMAÇÕES: DEVELOPMENT OF THE SPACIAL REPRESENTATION SYSTEM IN THE RAT. SCIENCE, VOL. 328

fonte 
- O Estado de S.Paulo

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Revolução Constitucionalista


Em 1932, elite paulista reage à ditadura


No dia 9 de julho, o estado de São Paulo comemora o aniversário do Movimento Constitucionalista de 1932. A data representa um marco importante na história do estado e do Brasil. O movimento exigiu que o país tivesse uma Constituição e fosse mais democrático.

Na época,
Getúlio Vargasocupava a presidência da República devido a um golpe de Estado, aplicado após sua derrota para o paulista Julio Prestes nas eleições presidenciais de 1930. O período ficou conhecido como "A Era Vargas". A Revolução Constitucionalista de 1932 representa o inconformismo de São Paulo em relação à ditadura de Getúlio Vargas. Podemos dizer que o Brasil teve quase uma guerra civil.

Uma das principais causas do conflito foi a ruptura da
política do café-com-leite - alternância de poder entre as elites de Minas Gerais e São Paulo, que caracterizou a República Velha (1889-1930). Alijada do poder, a classe dominante de São Paulo passou a exigir do governo federal maior participação.

Como resposta, Getúlio Vargas não apenas se negou a dividir poder com os paulistas como ameaçou reduzir seu poder dentro do próprio estado de São Paulo, com a nomeação de um interventor não paulista para governar o estado. Os paulistas não aceitaram as arbitrariedades de Getúlio Vargas, o que levou ao conflito que opôs São Paulo ao resto do país.

Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, o MMDC

Vários jovens morreram na luta pela constituição. Entre eles, destacam-se quatro estudantes que representam a participação da juventude no conflito: Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, o célebre MMDC. O movimento marcou a vida de outros milhares de paulistanos e brasileiros.

Governistas X constitucionalistas

No dia 9 de julho, o Brasil assistiu ao início de seu maior conflito armado, e também a maior mobilização popular de sua história. Homens e mulheres - estudantes, políticos, industriais- participaram da revolta contra Getúlio e o governo provisório de São Paulo.

O desequilíbrio entre as forças governistas e constitucionalistas era grande. O governo federal tinha o poder militar e os rebeldes contavam apenas com a mobilização civil. As tropas paulistas lutaram praticamente sozinhas contra o resto do país. As armas e alimentos eram fornecidos pelo próprio estado, que mais tarde conseguiu o apoio do Mato Grosso.

Cerca de 135 mil homens aderiram à luta, que durou três meses e deixou quase 900 soldados mortos no lado paulista - quase o dobro das perdas da Força Expedicionária Brasileira durante a
Segunda Guerra Mundial.

Embora o movimento tenha nascido de reivindicações da elite paulista, ele teve ampla participação popular. Um dos motivos foi a utilização dos meios de comunicação de massa para mobilizar a população. Os jornais de São Paulo faziam campanha pela revolução, assim como as emissoras de rádio, que artingiam audiência bem maior.

Até hoje, a história da Revolução de 32 é mal contada. Ou, pelo menos, é contada de duas formas. Há a versão dos governistas (getulistas) e a dos revolucionários (constitucionalistas). Durante muito tempo, a versão dos getulistas foi a mais disseminada nos livros escolares do país, mas hoje, com uma maior participação dos professores na escolha do material didático, a história também já é contada sob a ótica dos rebeldes.

A importância do movimento é incontestável. Seu principal resultado foi a convocação da
Assembléia Nacional Constituinte, dois anos mais tarde. Mesmo assim, a Revolução de 32 continua como um dos fatos históricos do país menos analisados, tanto no tocante às causas quanto em relação às suas conseqüências. Os livros didáticos ainda trazem pouco sobre o tema.
Fonte: uol

segunda-feira, 5 de julho de 2010

'Google equivale à chegada da televisão'


Principal executivo da empresa considera Google peça-chave na democratização da informação e se prepara para futuro em que celular será essencial


Jemima Kiss

Com um sucesso fenomenal, mas também imitado, invejado e temido, o Google é o ícone tecnológico da nossa era. Mas sua onipresença e influência vão durar para sempre?

O diretor-executivo Eric Schmidt não tem dúvidas. Ele considera que o Google foi crucial para a democratização da informação. "Apenas durante o meu tempo de vida, nós vamos passar de uma situação em que um pequeno número de pessoas tem acesso a todas as informações do mundo para outra em que virtualmente todos os indivíduos em todo o mundo terão acesso a elas", acredita. "E isso por causa das buscas na internet, dos telefones baratos e da tradução simultânea. É uma realização impressionante ? e o Google é parte dela."

O principal executivo do Google deixa claro que a sua companhia, que hoje tem atuação em campos tão diversos como compras, vídeos e música, está se preparando para um futuro em que o celular será essencial, desenvolvendo seu sistema Android e os subsequentes aparelhos com a marca Google.

Atualmente, a batalha no campo dos aparelhos celulares é travada entre as três maiores empresas de tecnologia: Google, Apple e Microsoft. Mas a empresa de análise Gartner já colocou o Android como o quarto mais popular sistema operacional feito para smartphone no primeiro trimestre de 2010. Apesar de o Google ter entrado nesse mercado há menos de dois anos, o sistema da empresa aparece em melhor posição, por exemplo, que a Microsoft ? ainda que fique atrás do Symbian (da Nokia), Research in Motion (Blackberry) e Apple.

"Acredito que o melhor da engenharia agora está sendo aplicado nos celulares ? os maiores problemas e as soluções mais inteligentes", diz Schmidt. Os 50 mil aplicativos criados para o Android, na maior parte por empresas terceirizadas, cobrem praticamente todos os assuntos.

Schmidt descreve como hoje a vida online é mais pessoal, social e móvel. "Quando as pessoas se levantam já estão online e isso tem muitas implicações para a sociedade e para o Google", diz ele. O segredo do Google, afirma Schmidt (embora não seja mais exatamente um segredo), é que ele consegue manipular mais dados do que suas rivais porque tem redes e centros de dados maiores.

Contornado a censura. Além de incomodar os concorrentes, no entanto, a estratégia agressiva do Google também causa alguns problemas. No começo deste ano, o Google acabou transferindo as operações da China para Hong Kong para contornar a censura. A companhia, cujo lema é "não fazer o mau", tinha sido vigorosamente criticada pela decisão de operar na China, mas a reavaliação da medida foi bem acolhida pela indústria.

"O Google não faz necessariamente as coisas que outras companhias fazem. Temos nossos próprios princípios, que elaboramos com empenho. No caso da China, a decisão não foi tomada por causa de receitas ? tinha a ver mais com o que estávamos dispostos a negociar. Desejamos ser bons cidadãos globais e acreditamos firmemente na abertura da informação", diz o diretor-executivo.

Outro passo importante do Google tem sido encorajar os governos a abrir suas informações para o público. Uma vitória recente dos que defendem a divulgação dos dados na Grã-Bretanha foi a abertura, pelo departamento dos Transportes de Londres, dos seus dados a respeito de viagens para uso comercial. A medida levou o próprio governo de coalizão britânico a indicar que poderá aprovar uma política de "direito a dados" ainda mais ampla para o público.

"Não é mais aceitável num mundo online que pesquisadores do governo publiquem documentos que são lidos por apenas 500 pessoas na forma impressa", diz Schmidt. "Eles têm que estar, primeiro, na internet. Quando isso ocorrer, muita coisa interessante pode ser feita para correlacionar a informação em tempo real, se isso for necessário, ou colocá-la num mapa. Fundamentalmente, serviços públicos servem para se saber onde as pessoas estão e o que está acontecendo na minha cidade ou na minha escola." Com sede na Califórnia, o Google tem equipes auxiliando a preparação de arquivos e bases de dados para a internet.

Em desenvolvimento. Projetos como esses se mostram importantes também para países em desenvolvimento, onde a introdução de telefones mais baratos e mais inteligentes criou uma rede de comunicação poderosa. "As fabricantes de hardware estão sendo incentivadas a produzir mais celulares baratos, e os preços têm caído dramaticamente. Hoje um jovem em qualquer país do mundo, se possui um celular, consegue ter acesso a todas as informações do mundo traduzidas para a sua própria língua", resume Schmidt.

Tendo chegado ao Google em 2001, depois de uma carreira feita no Vale do Silício, Schmidt ainda se entusiasma com as possibilidades da empresa. "Ela é a grande novidade ? é equivalente à chegada da televisão".

Fonte: THE GUARDIAN no Estadão - tradução:TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Dois de julho: Independência do Brasil (na Bahia)


Paulo Costa Lima

Nasce o sol a dois de julho Brilha mais que no primeiro É sinal que neste dia Até o sol, até o sol é brasileiro...

Nunca mais, nunca mais o despotismo Regerá, regerá nossas ações

Poucas pessoas fora da Bahia conhecem a força do 2 de julho. É uma falha enorme de informação histórica, pois trata-se do processo de independência do Brasil, e não da independência da Bahia, como até hoje muita gente fala. Uma coisa é dar o grito do Ipiranga, outra coisa é garantir pleno domínio sobre o território nacional.

Entre as duas pontas, uma guerra. A guerra da Bahia, onde brilhou o heroísmo popular, além de lideranças como Labatut, Lima e Silva, João das Botas, Maria Quitéria, entre tantos outros. Em carta a José Bonifácio, Labatut registra: "Nenhum filho de dono de engenho se alistou para lutar". A consciência da possibilidade de uma nação surgiu de baixo.

Foram meses de luta, batalhas em diversos pontos do Recôncavo Baiano, sendo a mais famosa a de Pirajá, onde segundo consta, o corneteiro Lopes decidiu a vitória tocando 'avançar' quando havia sido instruído para fazer o contrário. Vitória brasileira.

Que espécie de sol é esse - 'brilha mais que no primeiro'? Que espécie de chamado convoca e reúne cerca de 500.000 pessoas em Salvador a cada 2 de julho, há 184 anos, em torno de um cortejo, que na verdade é espelho vivo de nós mesmos, uma construção existencial baiana, encontro e pororoca de atitudes culturais as mais distintas?

Na verdade, basta olhar o carro do caboclo para exemplificar o que é mesmo diversidade: tem lança de madeira apontada para um dragão, cocar, muitas penas, armadura de ferro em estilo medieval, baionetas, anjinhos barrocos, placas com nomes de heróis, colares diversos, alforjes, bandeiras, folhas e mais folhas, entre outras tantas coisas.

Não é uma festa para se ver pela televisão ou para entender através da mídia. Não adianta focalizar em momentos, mesmo que solenes e oficiais, reunindo poderes constituídos e povo. É uma festa para participar. Só sabe do que se trata quem vai lá, quem sente a emoção fluindo, quem vê o interesse do povo em festejar e manter a tradição, desde a alvorada no largo da Lapinha até o Campo Grande.

No meio de tudo isso a figura inesquecível de Maria Quitéria, uma mulher que se fez soldado, e que foi oficialmente aceita por D. Pedro I como membro do Exército Nacional, com direito a ostentar sua insígnia pelo resto da vida. Lutou bravamente, desafiou a todos, inclusive ao pai, que a queria longe da luta.

Segundo a historiadora inglesa Maria Graham, que deixou registrado um perfil da heroína, a moça era bastante feminina, ninguém duvidava de sua virtude mesmo depois de meses de acampamento com os homens. Gostava de comer ovo ao meio dia e peixe com farinha no jantar. Fumava um cigarro de palha após as refeições. Entendia as coisas com rapidez e naturalidade. Depois da guerra voltou para sua terra, casou-se e teve uma filha. Entrou em Salvador acompanhando o General Lima e Silva e foi agraciada com uma coroa de flores no Convento da Soledade.

É mesmo impressionante verificar que o espírito de 1823, da entrada triunfante de nossos combatentes e da visão libertadora compartilhada por Recôncavo e Cidade da Bahia, tenha sido preservado durante todo esse tempo, e que ainda continuará dessa forma por muitos e muitos anos. Qual o segredo da longevidade?

Não existe segredo. Enquanto a população sentir que o 2 de julho lhe pertence, haverá 2 de julho. E portanto, para falar disso que emana da festa, devemos esquecer os chavões do civismo, aquela noção de bandeirantes fardados e perfilados, pois o território do nosso civismo é outro - é mais caboclo. E não é território de exclusão, celebra caboclo e cabocla. Portanto, entre folhas, armadura, dragão e celebração o que emerge é o próprio território cultural da Bahia. Território matriz que não está interessado em meros separatismos, e sim na invenção de uma nova idéia de coletivo.

Na verdade esse civismo de pertencimento, que não depende de efígies gregas, máximas latinas ou princípios positivistas (mas que também não os rejeita), se realimenta a cada ano com a própria participação dos atores e autores populares, os quais garantem permanência à celebração, simplesmente por se sentirem parte dela.

Muito antes do atual discurso sobre inclusão, lá estava o símbolo pronto de um País, o qual só lentamente vai se aproximando da densidade da construção simbólica de origem. Coisas que eram apenas vetores em 1822-23 foram aos poucos virando realidade - abolição, república, protagonismo feminino...

Na verdade, na verdade, o mais bonito é pensar que o 2 de Julho é o nosso destino, e que certamente um dia estaremos plenamente à altura da força e dignidade que evoca e constitui.

Paulo Costa Lima é compositor, professor da Escola de Música da UFBA

fonte: Terra Magazine

28 de junho de 2007

quinta-feira, 1 de julho de 2010

É um pássaro? É o Super-Homem?


É o Twitter, paraíso de gafes e confissões irrefletidas e que já provocou crises políticas e demissões

ÀS VEZES me perguntam sobre o Twitter: o que é, como funciona, pra que serve. Ele serve para escrever e/ ou ler frases de até 140 caracteres que os outros escrevem. São mais de 10 milhões de brasileiros que usam o site desse microblog, diz o Ibope, fora os que usam pelo celular. Então me lembrei da propaganda de um velho seriado de TV.
Os mais velhos vão sentir nostalgia. Era assim: "Mais rápido que uma bala. Mais poderoso que uma locomotiva. Capaz de transpor altos prédios de um pulo só. Olhe lá no céu! É um pássaro? É um avião? É o Super-Homem!
Um estranho visitante de um outro planeta que veio à Terra com poderes e habilidades muito além das conhecidas pelo homem. O Super-Homem! Que pode mudar o curso dos rios caudalosos, vergar o aço com as próprias mãos e se disfarça de Clark Kent, o melhor repórter de um grande jornal da cidade. Enfrenta uma luta infindável pela verdade, justiça e bem-estar de todos!".
O logotipo do Twitter é um pássaro. Ele é rápido como uma bala; e perigoso. Como a publicação é instantânea e os usuários recebem sempre o mais recente primeiro, a leitura é imediata.
Por isso essa "engenhoca dos pensamentos ligeiros", conforme descreveu aqui na Folha Fernando Barros e Silva, é o paraíso das ratas, gafes, exibições e confissões irrefletidas. Já provocou crises políticas e demissões, muito comentadas no próprio Twitter, porque ele se retroalimenta, com a mania de republicação constante de seus usuários. Daí o surgimento do novo ditado popular: "Se beber, não tuíte!".
Daí também a discussão se o Twitter pertence à esfera privada ou à profissional do autor. Claro que a ambas. KremlinRussia segue WhiteHouse no Twitter, o que evoca a capacidade de transpor altos prédios de um pulo só. Candidatos à eleição estão lá. E, se espiarmos os endereços
twitter.com/eikebatista,twitter.com/paulocoelho ou twitter.com/aherchcovitch, leremos o homem mais rico do Brasil, o autor de best-sellers ou o estilista. Em tese, eles também vão ler o que qualquer um escrever para eles. Se amarem ou odiarem, talvez respondam.
O Twitter é de outro planeta, diferente daquele planeta do Orkut, do Facebook ou do Sonic, em que a lei impõe a reciprocidade para a comunicação se estabelecer.
Nas outras redes, eu só posso "ser" seu amigo se você me "aceitar" como seu amigo. No Twitter, sigo quem bem entender. Quem quiser me seguir que siga. Nem é preciso saber quem são os seguidores, como, aliás, na vida real. Pesquisa acadêmica recente mostrou que reciprocidade não passa de 22,1% no Twitter.
O Twitter pode mudar o curso dos rios caudalosos da comunicação pessoal. Há muitos que preferem o Twitter ao e-mail. Outros usam o canal para falar cobras e lagartos de empresas; e muitas empresas nem sabem. Com o agravante de que qualquer coisa escrita ali poderá aparecer em buscas do tipo Google.
Quando seguimos o Twitter de um veículo de comunicação, recebemos suas manchetes. E o Twitter se traveste de Clark Kent, como rede global de informação em tempo real, descentralizada, espontânea, incontrolável, utilíssima em situações de riscos e conflitos. Serve perfeitamente ao ativismo, inclusive o fictício, como a campanha para salvar o Galvão, que seria um pássaro da Amazônia ameaçado de extinção pelo uso de suas penas nas fantasias do Carnaval.
Esse ativismo piadista seguiu-se a outra brincadeira, que foi o uso intensivo da expressão #calabocagalvão, zoeira com o narrador esportivo que chegou ao topo do ranking mundial de menções no Twitter.
O Twitter é como um microfone aberto 24 horas por dia na boca de milhões de pessoas, inclusive falsas, dizendo banalidades ou coisas importantes, numa linha do tempo organizada do agora para o antes, sendo que o antes raramente é lido, pois, enquanto lemos o agora, o depois se superpõe.
Nesse rio caudaloso, o usuário pode desenvolver ansiedade e perder muito tempo para ver o que andam falando, mesmo que seja muita bobagem. Ou não. Essa é a questão.

MÁRION STRECKER, 49, jornalista, é diretora de conteúdo do UOL.