domingo, 31 de janeiro de 2010
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Dylan Volume 1 – O artista que é três, cinco, vários, alguns milhões
Publicado no Jornal da Tarde, 23 de maio de 1981. Texto de Sérgio Vaz
“Bob Dylan reescreveu a gramática do rock assim como James Joyce reescreveu as regras do romance. Ele é o único autor de rock a quem o termo poeta pode ser rigorosamente aplicado. É o maior e mais invulgar talento da música rock. O que os Beatles fizeram, em conjunto, pelo rock, ele fez sozinho.” (Jeremy Pascall, em The Illustrated History of Rock Music, Londres, 1977.)
Ele está fazendo 40 anos (no dia 24 de maio de 1981). Bob Dylan, o porta-voz de uma geração, o príncipe do protesto, o poeta da música pop, o profeta do rock, a grande maravilha branca, a fonte da inteligência do rock, o João Batista, o Messias, o Cristo.
(Todos esses apostos foram usados, sem qualquer parcimônia, por livros, jornais e revistas do mundo inteiro, ao lado do seu nome.)
Existe um Bob Dylan?
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
456 anos da Cidade de São Paulo
Em um simples passeio à noite pela cidade de São Paulo, o diretor de filmes Fernando Bianchi (Produtora 511 Filmes), com uma câmera Canon 5D mark 2 sobre o painel do carro, mostra a beleza do contraste entre a arquitetura antiga e a arquitetura moderna da metrópole. Edição: Tiago Gonzaga. A trilha musical é de Chris Rea "Driving Home for Christmas".
Parabéns São Paulo
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
SERGIO BITTENCOURT
Sérgio Bittencourt
* 1941 Rio de Janeiro, RJ + 9/7/1979 Rio de Janeiro, RJ
Compositor. Jornalista. Filho de Jacob do Bandolim, cresceu cercado pelas rodas de choro de seu pai e de seus grandes amigos chorões. Aos 18 anos, saiu da casa dos pais. Lutou desde a infância contra as seqüelas da hemofilia. Faleceu aos 38 anos de um enfarte.
Dados Artísticos:
Como jornalista, desenvolveu estilo de crítica duro e desaforado. Como pessoa, no entanto, era um sentimental. Trabalhou em vários órgãos de imprensa cariocas, os jornais Correio da Manhã, O Globo, e O Fluminense, e na Revista Amiga, em rádio, atuou nas Rádios Capital, Carioca, no Rio de Janeiro, e Mulher, de São Paulo.
Atuou também como jurado dos famosos programas de calouros da TV, "Um instante, Maestro!", "A Grande Chance" e "Programa Flávio Cavalcanti", todos apresentados por Flávio Cavalcanti. Apresentou na Rádio Nacional o programa "Fim de noite", posteriormente levado ao ar na Rádio Mauá.
Teve sua primeira composição gravada em 1965, "Estrelinha", na voz de Eliana Pitman. Em 1966, classificou-se em quarto lugar no II Festival da Música Brasileira, na TV Record, com a música "Canção de não cantar", interpretada pelo conjunto MPB4.
Em 1968, foi vencedor do festival "O Brasil canta o Rio", com a música "Modinha", interpretada pelo cantor Taiguara. Essa música seria ainda regravada por Nelson Gonçalves, Carlos José, Waleska, e Tito Madi, entre outros.
Nesse ano, Waleska regravou "Estrelinha". No I Festival Internacional da Canção, classificou a música "Canção a medo", na interpretação do MPB4 e do Quarteto em Cy. Em 1970, sua música "Acorda, Alice" foi proibida pela censura da ditadura militar devido ao verso "Acorda, Alice/Que o país das maravilhas acabou". Posteriormente, com a abertura política, foi gravada por Waleska. Em 1971, apresentou-se com Ataulpho Alves Junior e Walesca em show na boate Fossa, no Rio de Janeiro.
Entre os diversos shows que apresentou está "Vamos falar de muito amor", que contou com as participações de Ribamar, Waleska, Mano Rodrigues e Márcia de Windsor.
Seu grande sucesso foi "Naquela mesa", comovida homenagem póstuma ao seu pai Jacob, gravado por Elizeth Cardoso em seu LP "Preciso aprender a ser só", de 1972, pela Copacabana, música que ganharia não só outras gravações posteriores como seria incorporada ao repertório informal de seresteiros, boêmios e amantes da MPB. Entre os diversos interprétes que regravaram "Naquela mesa" estão Nelson Gonçalves e Paul Mauriat.
Outra de suas composições que recebeu várias regravações foi "Eu quero", registrada por Cláudio Faissal, Nelson Gonçalves, Carlos José, Waleska e Elymar Santos.
SERGIO BITTENCOURT - EU QUERO
Como jurado de TV, fazia questão de deixar clara sua proposta de defender a música brasileira, marcando publicamente uma linha nacionalista. Participou dos discos "Raízes do samba"; "A divina"; "Preciso aprender a ser só" e "Disco de ouro", todos da cantora Elizeth Cardoso. Sua principál interprete foi a cantora Waleska que registrou as músicas "Seja homem", "Por você", "Canção pra ninguém chorar", "Por Deus", "Nem marido nem amante", "Vim", "Acorda Alice", "Pretexto", "Que maldade" e "Amiga".
FONTE:
http://www.dicionariompb.com.br/verbe...
Discografia
1965 - Estrelinha - gravação da cantora Eliana Pitman
1966 - Canção a medo - com o conjunto voca MPB-4
1968 - Modinha com Taiguara
1968 - Peque canção para chegar - Moacyr Franco
1969 - Jambete - com o sambista Cyro Monteiro
1969 - Quem mandou - Wilson Simonal
1969 - Silêncio - Wilson Simonal
1969 - Vim - Taiguara
1972 - Naquela Mesa com Eliseth Cardoso
1972 - Desabafo - com a intérprete Nora Ney
1973 - Naquela Mesa - regravado por Paul Mauriat
1974 - Eu quero - cantor Carlos José
1974 - No meio da festa - cantora Maria Creuza
1974 - O amigo - Trio Ternura
1974 - Reza - Vanusa
1975 - O velho - com Antônio Marcos
1975 - Olha eu - conjunto Roupa Nova
1975 - Canção morrendo de saudade - na voz da cantora Célia
1980 - Para que - Ângela Maria
Em 1970, a canção Acorda, Alice de sua autoria foi proibida pela censura da ditadura militar brasileira, pelos versos: Acorda, Alice / que o país das maravilhas acabou.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Jornalistas não são pedras
Por Leticia Nunes, de Nova York em 19/1/2010
É enorme a chance de um jornalista que cobre um desastre como o do Haiti sentir-se impelido a ajudar as vítimas que agonizam à sua frente. Sua missão de testemunhar e reportar um fato com isenção, de ser uma figura neutra, de respeitar a ética da profissão, perde-se em questão de segundos diante da possibilidade concreta de ajudar o outro, e por um motivo óbvio: o jornalista é humano.
Na semana passada, o neurocirurgião Sanjay Gupta, correspondente médico da rede americana CNN, foi bastante criticado por examinar um bebê de 15 dias diante das câmeras. Gupta contou aos telespectadores, enquanto andava rapidamente por uma rua de Porto Príncipe, que haviam lhe chamado para ajudar a criança, atingida na cabeça no momento do terremoto de terça-feira (12/1). A mãe morreu, e o pai segurava o bebê com uma expressão confusa, como se ainda não tivesse lhe caído a ficha sobre o que acabara de passar. O médico pega a criança, examina seus movimentos, verifica a possibilidade de alguma fratura no crânio e faz um curativo na ferida da cabeça.
"Certamente há casos em que um jornalista qualificado pode e deve fornecer assistência médica quando a necessidade é imediata e séria", afirma o professor Bob Steele, do Instituto Poynter. "O problema no caso do doutor Gupta é que ele já fez isso em diversas ocasiões no Iraque e agora no Haiti. Se é imperativo que ele intervenha como médico, que saia de seu papel jornalístico e o faça. Não se pode é colocá-lo para cobrir as mesmas pautas das quais participa. Isso confunde a reportagem jornalística e embaça a lente da observação independente", defende Steele. Ele também acusou a CNN de fazer marketing com o vídeo, ao exibi-lo diversas vezes na TV e dar destaque a ele na internet. "Francamente, não é uma grande história", justifica.
Para Gupta, não há um conflito ético em usar seus conhecimentos médicos durante as pautas que cobre. Em 2003, ao acompanhar uma unidade médica da Marinha americana no Iraque, o correspondente realizou cinco cirurgias. Na semana passada, ele escreveu em seu perfil no Twitter que é um repórter, mas, em primeiro lugar, é um médico. "Muitos me perguntaram: é claro que, se preciso, irei ajudar as pessoas com meus conhecimentos de neurocirurgião", afirmou.
Resgate
No fim da semana passada, outro caso rompeu a neutralidade jornalística. Integrantes de duas equipes de TV australianas deixaram a rivalidade de lado para resgatar um bebê preso nos escombros. A menina estava deitada junto aos corpos dos pais, que morreram no terremoto, quando o cinegrafista Richard Moran, que trabalha para a emissora Nine Network, ouviu seu choro. Moran largou sua câmera e começou a retirar pedaços de concreto do caminho, enquanto o intérprete Deiby Celestino tentava encontrar a criança.
As imagens do resgate foram feitas pela maior concorrente da Nine, a emissora Seven. "Das ruínas, surgiu esta pequena menina, e eu nunca vou esquecer. Ela não chorou. Ela olhava assustada, como se estivesse vendo o mundo pela primeira vez", contou o repórter Robert Penfold, da Nine. As imagens, que rodaram o mundo, mostram ainda o correspondente da Seven, Mike Amor, segurando a criança e lhe dando água. "Naquele momento, era maior do que o jornalismo", disse Amor. "Eu não via nada tão extraordinário desde o nascimento de meu próprio filho. A emoção, para todos nós, foi inacreditável."
O caso do resgate feito pelos australianos é diferente da consulta médica realizada por Sanjay Gupta e talvez se encaixe na classificação de "aceitável" pelos críticos, já que se tratava de uma emergência. Ainda assim, eles poderiam questionar se não havia mais ninguém no local para socorrer a criança, se era realmente necessário que um cinegrafista largasse sua câmera, e mais um milhão de "ses". Fato é que o manual ético se perde em meio a uma situação extraordinária, e é muito difícil criticar uma decisão como a dos correspondentes envolvidos sem ver a destruição que viram de perto – desprotegidos do filtro da TV – com todos os seus odores nauseantes e sons desesperadores.
Os jornalistas tinham a obrigação, como jornalistas, de resgatar a menina dos escombros? Não. Mas o fizeram, e salvaram uma criança. Sanjay Gupta tinha a obrigação, em seu papel de correspondente, de examinar o recém-nascido e fazer um curativo limpo em sua cabeça? Não. Mas o fez, e um pai, que de outra maneira não teria ajuda médica, respirou aliviado. Esperar que não se viole normas éticas em situações como a do Haiti é acreditar que jornalistas são simples pedras, desprovidos de sentimentos ou emoções. Com informações da AFP [18/1/10] e do Los Angeles Times [14/1/10].
fonte Observatório da Imprensa
sábado, 16 de janeiro de 2010
domingo, 10 de janeiro de 2010
Years of Solitude / Años de Soledad - by Astor Piazzola & Gerry Mulligan
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Para o meu Pai e para a Mina irmã amada
A um ausente - Carlos Drummond de Andrad
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
O meu impossível - Florbela Espanca
Minh'alma ardente é uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!
Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito. É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!...
Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E não me compreenderam!... Vão e mudo
Foi tudo o que entendi e o que pressinto...
Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, não a chorava como agora,
Irmãos, não a sentia como a sinto!...
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Morte das casas de Ouro Preto, de Carlos Drummond de Andrade
Destroços da igreja matriz de São Luís do Paraitinga, após a enchente
A lembrança é do jornalista e escritor Humberto Werneck. O poema "Morte das casas de Ouro Preto", de Carlos Drummond de Andrade, guarda uma associação quase mágica com os desastres provocados pelas chuvas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Tragédias sempre postas na folha corrida da chuva. Drummond, no livro "Claro enigma" (1951): "Nem parecia, na serra,/ que as coisas sempre cambiam/ de si, em si. Hoje vão-se. (...) A chuva desce, às canadas./ Como chove, como pinga/ no país das remembranças!".
"Onde se lê Ouro Preto, leia-se São Luís do Paraitinga. Ou Cunha. Ou Angra. Qualquer dessas cidades que se desmilinguem sob as chuvas deste começo de ano", sugere Humberto Werneck, autor de "O desatino da rapaziada" (no qual Drummond é personagem assíduo), de "O santo sujo" e do recém-lançado "O pai dos burros".
Leia o poema.
Morte das casas de Ouro Preto
Carlos Drummond de Andrade
Sobre o tempo, sobre a taipa,
a chuva escorre. As paredes
que viram morrer os homens,
que viram fugir o ouro,
que viram finar-se o reino,
que viram, reviram, viram,
já não vêem. Também morrem.
Assim plantadas no outeiro,
menos rudes que orgulhosas
na sua pobreza branca,
azul e rosa e zarcão,
ai, pareciam eternas!
Não eram. E cai a chuva
sobre rótula e portão.
Vai-se a rótula crivando
como a renda consumida
de um vestido funerário.
E ruindo se vai a porta.
Só a chuva monorrítmica
sobre a noite, sobre a história
goteja. Morrem as casas.
Morrem, severas. É tempo
de fatigar-se a matéria
por muito servir ao homem,
e de o barro dissolver-se.
Nem parecia, na serra,
que as coisas sempre cambiam
de si, em si. Hoje vão-se.
O chão começa a chamar
as formas estruturadas
faz tanto tempo. Convoca-as
a serem terra outra vez.
Que se incorporem as árvores
hoje vigas! Volte o pó
a ser pó pelas estradas!
A chuva desce, às canadas.
Como chove, como pinga
no país das remembranças!
Como bate, como fere,
como traspassa a medula,
como punge, como lanha
o fino dardo da chuva
mineira, sobre as colinas!
Minhas casas fustigadas,
minhas paredes zurzidas,
minhas esteiras de forro,
meus cachorros de beiral,
meus paços de telha-vã
estão úmidos e humildes.
Lá vão, enxurrada abaixo
as velhas casas honradas
em que se amou e pariu,
em que se guardou moeda
e no frio se bebeu.
Vão no vento, na caliça,
no morcego, vão na geada,
enquanto se espalham outras
em polvorentas partículas,
sem as vermos fenecer.
Ai, como morrem as casas!
Como se deixam morrer!
E descascadas e secas,
ei-las sumindo-se no ar.
Sobre a cidade concentro
o olhar experimentado,
esse agudo olhar afiado
de quem é douto no assunto.
(Quantos perdi me ensinaram.)
Vejo a coisa pegajosa,
vai circunvoando na calma.
Não basta ver morte de homem
para conhecê-la bem.
Mil outras brotam em nós,
à nossa roda, no chão.
A morte baixou dos ermos,
gavião molhado. Seu bico
vai lavrando o paredão
e dissolvendo a cidade.
Sobre a ponte, sobre a pedra,
sobre a cambraia de Nize,
uma colcha de neblina
(já não é a chuva forte)
me conta por que mistério
o amor se banha na morte.
(em Claro Enigma)
Terra Magazine
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
De tudo fica um pouco?
Por Carlos E. Faraco*
Leio agora, no meio da minha insônia, no portal Terra:
“Coronel que comandou invasão da PUC na ditadura militar morre aos 85”.
Não posso deixar de pensar: tantas outras coisas terá feito esse homem... terá feito filhos, terá tido netos, terá plantado uma jabuticabeira, terá dado uma ajuda financeira a um primo distante, terá, quem sabe, evitado a morte de um cachorro. Terá até justificado, intimamente, atitudes truculentas em nome de uma ideologia que, por alguma razão, abraçava com convicção.
Ao morrer, no entanto, o que ficou foi apenas e tão-somente o fato de ter comandado a invasão à reitoria de uma universidade. Simplesmente isso.
Não morreu o pai de fulano e fulana; o avô de fulano e fulana; o homem que plantou aquela jabuticabeira ali; o primo que ajudou outro primo em dificuldade. Tudo isso desapareceu e ficou do homem apenas o título de coronel e sua “façanha” maior: invadir uma universidade em nome de um governo ditatorial.
Não, eu não lembro como foi o Natal daquele ano de 1977. Eu não me lembro de quem desejou feliz ano novo a quem. Provavelmente houve um hiato na eterna luta ideológica, provavelmente não cristãos desejaram feliz Natal a cristãos e vice-versa. Provavelmente foi o mesmo clima de final de ano de sempre: os espíritos mais radicais se flexibilizam e tendem a se deixar levar -- ainda que por um minuto – pela noção racionalmente estruturada ou meramente intuída de solidariedade, respeito, honra, ética.
E, sobretudo, pela alegria.
A alegria meio irresponsável que permite sair mais cedo do trabalho, que permite beber e comer um pouco mais, que permite dar uma piscadela pra vida como que dizendo “ei, vida, estou te levando na boa”.
Mesmo para quem carrega uma cruz mais pesada, é comum que essa vibração leve a repousar por alguns minutos o instrumento de trabalho e a cantar, a desejar felicidade ao próximo, a repetir um ritual de todo fundamental, pois necessitamos de algum luxo e esse luxo pode ser apenas uma cor ou uma nota, como já disse alguém.
Foi assim em 1977, ano em que o Coronel Erasmo Dias comandou a invasão à PUC, e foi assim também neste final de 2009. Para quase todo mundo, inclusive alguns garis que desejaram, pela televisão, um ano feliz para todos.
Eu me lembro da invasão da PUC. Eu me lembro do coronel Erasmo Dias. O tempo desbastou a imagem dele, reduzindo-a apenas a um invasor de universidades. Foi assim que a história o marcou.
Talvez eu não esteja aqui para lembrar, mas tenho certeza de que a morte do cidadão Bóris Casoy será noticiada como a de um ser cuja dignidade desmoronou de todo ao tripudiar sobre aqueles trabalhadores que ousaram desejar feliz ano novo ao público e mereceram jornalista Bóris Casoy este brinde de final de ano:
“-- Que merda! Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo da escala de trabalho!"
Mais do que as acusações de pertencer ao CCC, mais do que sua nítida vocação para a subserviência ao poder, mais do que seus olhinhos espertos de ratazana, a lembrança que ficará da existência inteira do sr. Casoy será, certamente, a do episódio dos garis.
E será uma lembrança que para sempre cheirará à mesma merda com que ele não hesitou em rotular a alegria legítima e a solidariedade espontânea do outro.
Que merda, não?
*Carlos E. Faraco
São Paulo, Brazil
Professor aposentado, portanto com muito tempo para lamber. Ou lixar. Educador. Ferino. Escorpiano. Coroa.
Fonte Blog A língua lambe e lixa http://lingualambe.blogspot.com/2010/01/leio-agora-no-meio-da-minha-insonia-no.html?zx=34dbe0c7869c1f48
O bicentenário que não teremos
por Emir Sader
2010 comemora o bicentenário das revoluções de independência na América Latina, que permitiram, em uma impressionante sucessão de movimentos, que a quase totalidade dos países do continente expulsasse os colonizadores ibéricos e decretasse sua independência política. Esses movimentos começaram em 1810 e se estenderam até 1822 – data do fim da colônia no Brasil -, só não conseguindo se estender a Cuba e Porto Rico que, não conseguindo conquistar sua independência no começo do século XIX, tiveram que enfrentar já não mais a combalida Espanha, mas ao já nascente império norteamericano, ficando amputados em sua independência, submetidos à condição de neocolônias dos EUA.
De tal forma foram importantes as revoluções de independência, que Cuba se tornou um país socialista, Porto Rico, quase uma estrela mais na bandeira dos EUA e o Brasil, o país mais desigual do continente mais desigual do mundo.
Os outros países – a maioria – protagonizaram revoluções de independência, que expulsaram os espanhóis, caracterizando o período colonial que se terminava, como uma invasão e saqueio dos nossos países, além do massacre dos povos indígenas e da escravidão. Essas revoluções foram feitas em coordenação por vários exércitos, liderados pelos próceres da independência de vários deles, entre outros Bolívar, San Martin, O´Higgins, Artigas, Sucre, que constituiram uma força latinoamericana contra o inimigo comum: o Exército espanhol. Ficava caracterizado assim que todos haviam sido explorados por um mesmo inimigo e que lutavam juntos contra ele. Por outro lado, no mesmo momento da independência, se instalavam repúblicas e se terminava com a escravidão. São essas revoluções de independência que são comemorados a partir deste ano em quase toda América Latina.
Essas independência foram possíveis também pela influência das revoluções americana e francesa, assim como enfraquecimento da coroa espanhola, pela invasão napoleônica, a que resistiram, mas terminaram derrotadas. Ao contrário, a coroa portuguesa não resistiu, entregou Portugal às tropas napoleônicas, e fugiu para o Brasil.
Chegando aqui, aparentemente tomou medidas liberais. Porém se não abrisse os portos “às nações amigas”, ficaria totalmente isolada do mundo, porque Portugal estava invadido. Além disso, brecou a possibilidade de que tivéssemos uma guerra de independência, expulsando a coroa portuguesa do Brasil, ao promover o primeiro grande pacto de elite da nossa história, ao colocar a coroa na cabeça do seu filho. Assim, ao invés de passarmos de colônia a república, passamos a monarquia, vinculada estreitamente à coroa portuguesa. Isto, mediante uma frase altamente ofensiva para nós, mas que repetimos tanto nas escolas: “Meu filho, ponha a coroa em tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça.” Os aventureiros éramos nós, brasileiros, fazia para que não surgisse um novo Tiradentes ou lideres como Boliviar, San Marti, Artigas, Sucre.
Pior ainda, não se terminou a escravidão, fazendo com fôssemos o país que mais tarde terminou com isso, deixando marcas muito mais profundas na nossa história. Durante quatro séculos trabalho foi atividade de “negros”, considerados raça inferior e tratados como escravos.
Nas décadas transcorridas entre o começo e o fim do século, foi promulgada a Lei de Terras, que legalizou a posse de todas as terras griladas pelos latifundiários. Assim, quando passaram a ser homens “livres”, os negros já não tinham possibilidade de acesso à terra. O negro se consolidou automaticamente como pobre. A questão colonial se desdobrou na questão negra e esta na questão fundiária, com a consolidação do poder dos grandes proprietários rurais, que tanto condicionou a formação da sociedade brasileira contemporânea, incluindo o poder do latifúndio e suas conseqüências, como a da não realização da reforma agrária, o êxodo para as cidades e a criação de grande quantidade de mega-metropolis urbanas, enquanto não produzimos os alimentos que necessitamos para a autosuficiencia alimentícia.
Em 2022 comemoraremos o bicentenário de um pacto de elite, que nos impediu de termos expulsado os colonizadores, terminado com a escravidão e passado de colônia a república.
Fonte Carta Maior http://www.cartamaior.com.br
AMOR,TRAIÇÃO, POLÍTICA, DINHEIRO, CORRUPÇÃO – Essa é a Vida!
foto Tuka Scaletti
Como é Bela a Humanidade!
Theófilo Silva
A frase acima pertence a Shakespeare e é dita pela boca de Miranda, uma jovem de apenas 15 anos. Miranda não conhece o mundo, seu pai, Próspero, outrora um rei, foi desterrado para uma ilha isolada quando ela tinha dois anos e ela pouco se lembra do passado. Próspero é agora um mágico poderoso e decidiu que está na hora de Miranda conhecer o mundo. Assim, ele faz um navio naufragar na praia com um grupo de pessoas oriundas de sua antiga cidade.
E o primeiro náufrago que Miranda contempla é o jovem Fernando, por quem ela se apaixonará. Vendo o resto do grupo, Miranda suspira e diz: “Oh! Maravilha! Quantas criaturas adoráveis estão aqui! Como é bela a humanidade! Oh! Admirável mundo novo em que vivem tais pessoas”. É Shakespeare celebrando o homem, esse ser de quem ele tanto falou em suas obras. A Tempestade, peça que contém essa célebre sentença, tão citada ao longo do tempo, é seu íntimo adeus ao Teatro e ao mundo.
Homens e mulheres, sonhando, amando, sorrindo, trabalhando, construindo, reinando, rezando, mentindo, traindo, destruindo, roubando, matando, enfim vivendo. Esse é o universo de Shakespeare! Ele pôs mais de mil tipos em cima do palco, fazendo com que cada um deles representasse um papel, um papel que é o mesmo de cada um de nós. Pois ele afirmou que “a função da arte é oferecer um espelho à natureza”. E ninguém, melhor do que ele refletiu em suas obras nossas naturezas tão imperfeitas. Shakespeare nos ofereceu um espelho para que pudéssemos ler-nos e entreouvir-nos
E ele sempre soube o que é o Bem e o que é o Mal, mostrando o quanto esses dois afetos podem se confundir, mas nunca se esqueceu da importância de se fazer Justiça. Nunca permitiu que seus personagens deixassem de pagar por seus erros. Os criminosos foram punidos pela justiça dos homens ou pela justiça dos céus. Alguma espécie de prestação de contas os transgressores tiveram que prestar.
Mesmo que a cúpula ecológica não tenha avançado; ainda que Gilmar I tenha concedido “habeas corpus” a um estuprador; ainda que Sarney continue presidente do Congresso e Arruda Governador de Brasília; com toda pilantragem da política… Chegamos ao salário mínimo de 300 dólares; a reforma do sistema de saúde americano; a Copa do mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Temos mais de dois bilhões de crianças sorrindo e de adultos trabalhando. A humanidade avança. A injustiça campeia, o sofrimento existe, mas o número de pessoas felizes é muito maior. Vale a pena viver!
Quando Shakespeare escreveu A Tempestade, em 1611, o admirável mundo novo, a América, o nosso continente desconhecido, se apresentava para a Europa. Hoje, metade da América é admirada pelo mundo e a outra metade patina. Algumas luzes já assomam no horizonte. Chegou a hora de levantar do berço esplêndido.
Somos todos iguais! Não posso deixar de citar o príncipe dinamarquês em sua exaltação a nós, seres humanos: “Que obra prima é o homem! Como é nobre pela razão! Como é infinito em faculdades! Em forma e movimentos, como é expressivo e maravilhoso! Nas ações como se parece com um anjo! Na inteligência, como se parece com um deus! A maravilha do mundo! Paradigma dos animais”!
Começa um novo ano e é assim que devemos nos ver, como uma obra prima!
Theófilo Silva é autor do livro, A Paixão Segundo Shakespeare .
FONTE : Do blog — Washington Barbosa 31/12/2009
domingo, 3 de janeiro de 2010
Começar o ano com solidariedade
Com certeza você já sabe da tragédia que a chuva fez nesse fim de ano em Angra dos Reis, Ilha Grande, São Luiz do Paraitinga e Cataguáses. Muitos mortos e há centenas de desabrigados precisando reconstruir a vida, literalmente, em 2010.
Nessas horas que a gente tem que por em prática aquilo que tanto apregoa. Solidariedade!!
Em todos os locais atingidos as famílias que estão desabrigadas precisam muito de várias coisas, como por exemplo:
- Água potável
- Alimentos prontos (bolachas, biscoitos, barras de cereais, latas de sardinha, salsicha, milho, atum, ervilha e outros mantimentos de fácil manuseio e não perecíveis)
- Latas de leite em pó
- Material de higiene pessoal, como escovas e pasta de dente, sabonetes, absorventes femininos e fraldas descartáveis
- Produtos de limpeza
- Colchões, travesseiros, cobertores, lençois, toalhas de banho
- Roupas para crianças e adultos
- Medicamentos como antitérmico infantil, analgésicos, soro fisiológico, antiácido, xarope para tosse
- Eletrodomésticos em geral
Uma rápida lista dos locais onde podem ser feitas doações pessoalmente ou remetidas pelo correio para os locais mais atingidos. E assim que tiver mais informações vou atualizando aqui:
Angra e Ilha Grande
Colégio Estadual Dr. Artur Vargas – CEAV
Rua Coronel Carvalho 230 Centro
Angra dos Reis_RJ
Mais info: 24 3367 7518
São Luiz do Paraitinga
Postos de coleta emergencial
Rua Marquês de Rabicó, 33
Rua José Dantas, 266 Rua
Monsenhor Miguel Martins, 361
Das 9h às 18h
Taubaté_SP
Quem não puder ir levar doações pode ligar para 12 8119-5612 ou 12 3633-4544 que voluntários buscam as doações na cidade de Taubaté e região.
Cataguáses
Entregas pessoalmente no posto provisório da Defesa Civil
Avenida Tereza Cristina 10.495
Belo Horizonte_MG
Das 8h às 17h
Entregas pessoalmente ou remetidas via correio no posto da Cruz Vermelha
Alameda Ezequiel Dias, nº 427
Belo Horizonte_MG
Das 7h às 18h