Então

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Feliz Ano Novo





O grande barato da vida é olhar pra trás e sentir orgulho da sua história.

O grande lance é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o AQUI e AGORA!
Claro que a vida prega peças.É lógico que, por vezes, o bolo sola, o pneu fura, chove demais.
Mas... Pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia?

Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?
Tá certo, eu sei, Polyanna é personagem de ficção, hiena come porcaria e ri, eu sei.
Não quero ser cego, burro ou dissimulado. Quero viver bem. 2009 foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões... Normal. Às vezes se espera demais das pessoas... Normal. A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor que acabou...Normal.

2010 não vai ser diferente. Muda o século, o milênio muda, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja,mas e aí? Fazer o que? Acabar com o seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?O que eu desejo pra todos nós é sabedoria, é que todos nós saibamos transformar tudo em uma boa experiência! Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado. Ele passou na sua vida. Não pode ser responsável por um dia ruim. Entender o amigo que não merece nossa melhor parte.
Se ele decepcionou, passa pra categoria 3, a dos amigos. Ou muda de classe, vira colega. Além do mais, a gente,provavelmente, também já decepcionou alguém.
O nosso desejo não se realizou? Beleza, não tava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de uma frase que adoro: 'Cuidado com seus desejos, eles podem se tornar realidade'). Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano.Não adianta lutar contra isso.
Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes ...... Desejo pra todo mundo esse olhar especial......2010 pode ser um ano especial se nosso olhar for diferente.Pode ser muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos, e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro.
2010 pode ser o bicho, o máximo, maravilhoso, lindo, maneiro, especial... Pode ser puro orgulho.

Depende de mim! De você!

Pode ser. E que seja!!!

Que a virada do ano não seja somente uma data, mas um momento para repensar tudo o que fizemos e que desejamos, afinal sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizermos jus e acreditarmos neles!


desconheço o autor

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Feliz Natal



Obrigada a todos vocês, que me honraram com as suas visitas e comentários, fazendo com que o Então LengaLenga seja hoje um blog bem acima das minhas expectativas.

Desejo a todos um Feliz Natal

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Lampião e Maria Bonita - Xilogravura de José Lourenço



A xilogravura popular é uma permanência do traço medieval da cultura portuguesa transplantada para o Brasil e que se desenvolveu na literatura de cordel. Quase todos os xilogravadores de expressão em nosso país, principalmente no Nordeste, provêm do cordel. Entre os mais importantes presentes no acervo da Galeria Brasiliana estão Abraão Batista, José Costa Leite, Amaro Francisco e José Lourenço.



JOSÉ LOURENÇO GONZAGA
Nasceu em Juazeiro do Norte, a 10 de setembro de 1964.

Levado pelo avô, cortador de papel para tipografia São Francisco, onde iniciou-se nas artes gráficas, no final dos anos 70.

Teve uma experiência como agricultor e voltou ao antigo oficio, no inicio dos anos 80, na gráfica então rebatizada de Lira Nordestina.

Começou cortando capas de folhetos. Daí evoluiu para trabalhos de maiores formatos.



Retoma a xilogravura popular e revisita iconografia nordestina.

Fez um album sobre a vida de Padre Cícero, uma via sacra e vários trabalhos onde a realidade da região se faz presente e ganha uma expressão a partir de um artista enraizado autoditada e profundamente comprometido com a madeira e suas nuances. Atualiza uma tradição e abre caminhos para novas propostas.

É um homem vigoroso, com um trabalho consistente, elogiado pela critica e sem perder suas raízes do Juazeiro do Norte.



Exposições Realizadas:
Arte e Produções Populares - Centro de Humanidades da UFC, Pátio Interno, Área 2-20 a 22 de dezembro de 1989.
Xilogravuras de José Lourenço, MAUC 13 a 29 de setembro de 1990.

Banco do Brasil - Ag Juazeiro do Norte, 22 a 31 de outubro de 1990.
Centenário do Município de Pacajus, novembro de 1990.

Paixões de Cristo, MAUC, 26 de março a 14 de abril de 1991.

Impressões. Cordel / Xilogravura. Galeria Alliance Français (Brooklin, São Paulo), 1 a 25 de Outubro de 1991.

Xilogravura Utilitária do Ceará - Casa de Xilogravura, Campos do Jordão (SP), 4 de janeiro a 23 de fevereiro de 1992.

Premiação:
Premio Xilogravura no XIII Salão de Abril, promoção da Fundação Cultural de Fortaleza, 9 de Abril a 15 de maio de 1991.

Principais trabalhos
Capas de mais de 70 folhetos de Cordel
Rótulos de produtos do Cariri, matrizes usadas em Folderes, volantes, cartazes.


fonte Editora Coqueiro e Museu de Arte da UFC

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

estórias mínimas




A viagem do infeliz navegante
Para esquecer aquele amor, tornou-se marinheiro. Cruzou 7 mares, foi até o fim do mundo. Inútil: era sempre a mesma mulher em cada porto.

O homem que virou ração
Vista de longe, ao fim da viagem, a cidade grande pareceu-lhe inofensiva. Mas foi só descer do ônibus e ela começou mansamente a devorá-lo.

Laços de matilha
Adotou três vira-latas e quatro gatos de rua. Nenhum se envolveu com drogas. E todos cuidaram dele na velhice.

Divina Comédia (Inferno)
Já chegou no céu botando banca: "Sabem com quem estão falando?" Não sabiam. Descoberto o equívoco, foi mandado direto pro inferno.

Divina Comédia (Paraíso)
No inferno montou jornal, rádio e tv, financiou golpe de Estado, derrubou governo eleito pelos pobres diabos - e o resto todo mundo sabe.

A coisa
Há alguma coisa horrível rondando a escuridão do quarto. É perigoso abrir os olhos. Espero pelo amanhecer. Mas há três noites não amanhece.

Querido Papai Noel
Eu quero um sapatinho daí no outro natal o senhor me dá a janela pra botar o sapatinho e quando puder o senhor põe um brinquedo no sapatinho.

José Rezende Jr. publicou dois livros (de contos em "tamanho normal"): A Mulher-Gorila e Eu perguntei pro velho se ele queria morrer (e outras estórias de amor), ambos pela 7Letras. O primeiro, já esgotado, pode ser lido/baixado em www.joserezendejr.jor.br (jornalismo&literatura).

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

domingo, 6 de dezembro de 2009

João Goulart




João Belchior Marques Goulart nasceu em São Borja (RS), no dia 1º. de março de 1919, filho de Vicente Rodrigues Goulart e de Vicentina Marques Goulart. Desde criança recebeu o apelido de Jango, comum no sul do país. Formado em direito em 1939, não quis exercer a advocacia, regressando logo a São Borja para dedicar-se a atividades agropecuárias. Em 1943, com a morte do pai, assumiu definitivamente a responsabilidade de gerir os negócios da família.

Com o fim do Estado Novo em outubro de 1945, Getúlio Vargas, chefe do governo deposto, retornou a São Borja, sua cidade natal, e passou a viver em sua estância de Itu, onde fortaleceu os laços de amizade com Jango, seu assíduo visitante. Passadas as eleições, Getúlio começou a introduzir Jango na política, percebendo claramente seu potencial de liderança, expresso pela grande popularidade de que desfrutava no município e por sua facilidade de relacionamento com as pessoas humildes.

Jango intensificou sua militância política em 1946, ao ser lançado por Getúlio candidato a deputado estadual para as eleições de janeiro do ano seguinte. Em 1947, depois de freqüentar sem assiduidade a Assembléia Nacional Constituinte para a qual tinha sido eleito senador, Vargas regressou a São Borja, iniciando um longo retiro, do qual só sairia para candidatar-se a presidente em 1950.

Empossado em fevereiro de 1951, Jango licenciou-se logo da Câmara para assumir a Secretaria do Interior e Justiça. Em março de 1952 foi reeleito presidente da comissão executiva estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) para o biênio 1952-1954 e, dois meses depois, assumiu a presidência do diretório nacional do partido.

Transferiu-se para o Rio em maio de 1952, onde reassumiu sua cadeira na Câmara dos Deputados. Tendo desempenhado a contento as tarefas a ele atribuídas nesse primeiro estágio político, Jango cresceu em prestígio, ampliando cada vez mais suas bases sindicais. Porém, a auréola de grande líder de massas só o envolveria a partir de junho de 1953, com sua nomeação para o Ministério do Trabalho, cargo que assumiu em junho de 1953.

A despeito de todo empenho de Goulart e de suas incessantes negociações com as diversas categorias profissionais de forma a manter as reivindicações trabalhistas sob controle, a questão salarial ainda suscitava grandes preocupações devido ao aumento constante do custo de vida. Em janeiro de 1954 Goulart começou a preparar os estudos necessários para a apresentação no Congresso de um projeto de duplicação do salário mínimo. Já prevendo a oposição que o projeto sofreria, foi exonerado.

Em janeiro de 1956 foi empossada a chapa vencedora do pleito presidencial, cabendo a Jango, por força de dispositivo constitucional, além da vice-presidência da República, a presidência do Senado. Além disto, o acordo entre o PTB e o Partido Social Democrático (PSD) previa que o presidente nacional do PTB – no caso, o próprio Goulart – seria o responsável pela indicação do ministro do Trabalho, dos presidentes das autarquias ligadas à pasta e do primeiro escalão da Previdência Social, além de controlar a política sindical em geral.



A despeito do acordo, Kubitschek não estava conformado em depender de Goulart para relacionar-se com as questões trabalhistas, procurando construir desde logo sua própria alternativa para os sindicatos, com os quais estabeleceu uma aliança direta sob a alegação de que os trabalhadores não precisavam de intérpretes. Para diminuir a intermediação de Goulart nas questões sindicais, Juscelino não abriu mão de negociar nomes de sua própria confiança para ocupar o Ministério do Trabalho. Buscava fazer prevalecer sua própria política, mas não deixava de consultar Goulart, que só viria a adquirir pleno controle sobre o ministério durante a gestão de João Batista Ramos, o último dos três ministros do período.

Ainda assim, a posição de Juscelino não era fácil na área sindical. Sua aproximação com os sindicatos era demasiadamente recente, além de não contar com nenhuma equipe política ou sindical que lhe permitisse enfrentar a competição inevitável de Goulart, tido como o continuador de Vargas e possuidor de uma ascendência sobre as massas que ultrapassava o poder dos ministros.

Nessas circunstâncias, era inevitável que o vice-presidente desempenhasse um papel crucial nesta área.

Com o início do novo governo, em 31 de janeiro de 1961, o ministério recém-nomeado por Jânio Quadros caracterizou-se pelo antigetulismo e pela orientação ortodoxa em matéria econômica, lançando-se imediatamente à execução de um programa antiinflacionário que atendesse às indicações do Fundo Monetário Internacional (FMI). Diante dessa orientação, Jango constatou a impossibilidade de construir um bom relacionamento com o presidente.

Em 5 de julho, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que autorizava a viagem de Goulart na delegação econômica que seria enviada ao Leste Europeu e ao Oriente. Em Paris, ele se juntou aos demais integrantes da missão. Em 25 de agosto chegaram a Cingapura, onde receberam um telegrama informando sobre a renúncia do presidente Jânio Quadros na manhã daquele dia e solicitando a volta do vice-presidente ao Brasil.

Entretanto, a perspectiva da volta de Goulart abriu uma profunda crise no país, pois os ministros militares formaram uma junta e, contando com o apoio de importante parcela das forças armadas e de um grupo de civis visceralmente antigetulistas, vetaram a posse do vice-presidente sob a alegação de que ela significaria grande ameaça à ordem e às instituições, colocando o país no rumo de uma guerra civil.

No dia 29 de agosto o Congresso Nacional rejeitou o pedido de impedimento apresentado contra a posse do vice-presidente e começou a discutir uma solução conciliatória. Em 1º. de setembro Jango desembarcou em Porto Alegre, sendo recebido com enorme manifestação popular. No dia seguinte, o Congresso aprovou a Emenda Constitucional que instalou o parlamentarismo, limitando os poderes presidenciais. Nesse mesmo dia Goulart embarcou para a capital federal, cercado de um rigoroso esquema de segurança. Finalmente, no dia 7 de setembro de 1961 foi empossado na presidência da República.

Ao assumir o cargo, procurou desarmar seus opositores ampliando a base política do novo governo, buscando o apoio do centro sem abrir mão da sua relação com setores de esquerda, de maneira a realizar uma política de conciliação marcada pelo diálogo com os diversos partidos representados no Congresso.

As primeiras semanas do novo governo foram dedicadas à formulação de seu programa, que colocava como pontos centrais a defesa de reajustes salariais periódicos compatíveis com os índices inflacionários, da política externa independente, a nacionalização de algumas subsidiárias estrangeiras e as chamadas reformas de base. Dentre essas propostas de Goulart, ganhava destaque a questão agrária. Entretanto, a defesa deste ponto de vista não era partilhada pelos nomes mais significativos que compunham o ministério.


foto: CPDOC FGV

O novo governo recebera uma herança econômica difícil, marcada por uma grave crise financeira, levando Goulart a procurar convencer os Estados Unidos e as autoridades do FMI da seriedade de suas intenções saneadoras nesta esfera. Para isto, viajou em abril de 1962 a Washington a fim de buscar recursos financeiros e discutir os temas que vinham dificultando as relações entre os dois países.

De regresso ao Brasil, Jango viu a situação agravar-se. A não obtenção de recursos no exterior e o aumento dos índices inflacionários aprofundaram a crise econômica e as insatisfações sociais. Ao mesmo tempo, ocorreu também um afastamento entre o presidente do conselho de ministros que não partilhava das suas iniciativas. Nesse contexto de agravamento de contradições, o gabinete Tancredo, que se caracterizava por uma prática política de compromisso e de tentativa de união nacional, perdia a razão de ser. Sob o pretexto de atenderem a exigência legal de desincompatibilização a fim de concorrer às eleições de outubro de 1962, todos os membros do gabinete pediram demissão no dia 26 de junho deste ano.


foto Copa de 1962 Zito, Pelé e Gilmar com o presidente João Goulart

Com a instalação do novo gabinete, o governo Goulart afirmou seu compromisso com a adoção de um programa de emergência visando combater a inflação e antecipar para dezembro seguinte o plebiscito destinado a decidir sobre a continuidade do regime parlamentarista, previsto anteriormente para o início de 1965.


Ainda em agosto de 1962, os ministros militares lançaram manifesto pedindo a antecipação do plebiscito, cuja convocação imediata foi defendida por Brochado da Rocha em discurso na Câmara. Nessas circunstâncias, o Congresso determinou o prazo de até 30 de abril de 1963 para a realização da consulta popular, contrariando o desejo da bancada udenista, que acusava o governo de estar comprometido com os comunistas e não desejar a volta ao presidencialismo.

Devido à pressão exercida pelos líderes sindicais e os setores nacionalistas do Exército, no dia 13 de setembro Brochado da Rocha enviou ao Congresso um novo pedido de delegação de poderes e propôs a fixação da data do plebiscito para o dia 7 de outubro de 1962. A segunda negativa do Congresso ao pedido de delegação de poderes especiais abriu um confronto entre o Executivo e o Legislativo e provocou a renúncia de todo o gabinete no dia 14 de setembro.

A queda do gabinete Brochado, na concepção das principais correntes de esquerda, representou uma derrota para o governo. Com a aprovação do projeto que autorizava a realização do plebiscito, Goulart obteve permissão para constituir imediatamente um conselho de ministros provisório, sem necessitar de autorização prévia do Congresso, o que significava a restauração informal do presidencialismo. Nessa nova fase, Goulart encarregou Hermes Lima de organizar como primeiro-ministro o gabinete provisório que vigoraria até 6 de janeiro de 1963.



Organizado o ministério, Goulart lançou-se na campanha pelo retorno ao presidencialismo, tema principal dessa fase de seu governo. Com essa perspectiva partiu para a mobilização dos principais setores sociais, tentando demonstrar que, naquela conjuntura, era de fundamental importância a existência de um poder executivo forte no Brasil. Paralelamente à campanha do plebiscito desenrolavam-se os preparativos para as eleições previstas para outubro de 1962, quando seriam renovados parte do Congresso, as assembléias estaduais, as câmaras municipais, e parte dos executivos estaduais e municipais.

Nesse período, apesar do desenvolvimento das campanhas eleitorais e da perspectiva de deixar em suspenso as principais questões até a realização do plebiscito, Jango viu-se forçado a enfrentar alguns problemas graves.

No dia 6 de janeiro de 1963, cerca de 11.500.000 dos 18 milhões de brasileiros aptos a votar compareceram às urnas para decidir sobre o tipo de regime político que o país deveria adotar. O resultado favoreceu o presidencialismo por larga margem. Investido dos poderes atribuídos ao presidente pela Constituição de 1946, Goulart nomeou um novo ministério.

Nessa nova conjuntura, procurou contornar a onda de radicalização. Para solucionar a crise econômico-financeira que se abatia sobre o país acarretando um acentuado declínio da taxa de crescimento econômico e uma elevação desenfreada dos índices de inflação, o governo Goulart tentou pôr em prática uma política econômica baseada no Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico, executado sob a direção de San Tiago Dantas e Celso Furtado.

Desde o início de 1963 o governo tomou uma série de medidas para estabilizar a moeda.

Objetivando buscar respaldo para a concretização desse programa, San Tiago Dantas viajou a Washington em março deste ano para discutir um plano de ajuda do governo norte-americano ao Brasil e a renegociação das dívidas do país. Paralelamente, a política salarial imposta a partir das diretrizes antiinflacionárias do Plano Trienal vinha provocando novas áreas de atrito para o Executivo. Nesta ocasião, Jango também começou a enfrentar a oposição do seu ministro do Trabalho.

Nessas circunstâncias, a concordância plena de Jango com as diretrizes do Plano Trienal apresentava grandes dificuldades. Compromissado com a classe operária e com os assalariados em geral, que representavam sua base política e sua força eleitoral, o governo não podia ir às últimas conseqüências em sua política antiinflacionária.

Com o fracasso do Plano Trienal e o esgotamento do projeto de reforma agrária constitucional, Jango perdeu importante terreno político. Tentando buscar uma nova base de entendimento com os partidos optou, pela quarta vez, por mudar o ministério.

A despeito dessa nova tentativa de apaziguamento, a reestruturação governamental encontrou sérias dificuldades para obter êxito. Goulart via-se novamente premido, de um lado, pelos trabalhadores, sua principal base política e, de outro, pelas pressões econômicas internacionais.

Enquanto o governo enfrentava todas essas dificuldades na área econômica, ganhava corpo o movimento conspiratório que, desde a posse de Goulart, tramava a sua deposição.

Jango, procurando manter uma atitude de neutralidade, recusando-se a atacar ou defender os rebeldes, aumentou as crescentes suspeitas existentes no seio da oficialidade sobre a sua pessoa. Nessa altura, a conspiração já caminhava a passos largos. Em outubro, novos acontecimentos iriam acirrar as contradições que envolviam o governo.

Sentindo-se isolado, Jango começou a perder o controle político e militar da situação. Muitos oficiais graduados do Exército que até então haviam-se negado a engrossar a rede de conspirações visando a sua derrubada, passaram a aderir a seus companheiros radicais. Ao lado de todas as ameaças vindas dos setores conservadores, Goulart também enfrentava a deterioração de suas relações com as forças de esquerda.

Goulart percebeu que sua política de conciliação entre o centro e a esquerda não apresentava os resultados esperados, e começou uma lenta e hesitante caminhada em direção a esta última corrente. Empenhado em reconquistar o apoio dos setores representados pelos sindicatos, ligas camponesas, entidades estudantis e partidos de esquerda como o PTB, PCB e Partido Socialista Brasileiro (PSB), únicos segmentos com os quais poderia contar naquele momento, Jango tentou nova ofensiva rumo ao seu projeto nacional reformista.

Nessas circunstâncias, a conspiração contra o governo se expandia e Goulart tinha plena consciência dela. Combatido pela direita, que se preparava para derrubá-lo, e sem o respaldo do PSD para a implementação das reformas que desejava, só podia contar com as forças de esquerda para se manter fiel à política em que baseara toda sua carreira.


foto O célebre comício da Central do Brasil de João Goulart, ao lado da charmosa mulher Maria Tereza, em que o presidente ataca as forças conservadoras do país. [Retirado do livro de José Maria Rabêlo e Thereza Rabêlo. Diáspora – Os longos caminhos do exílio. São Paulo: Geração Editorial, 2001]


Cada vez mais temerosos das atitudes de Goulart, os militares, liderados pelo chefe do Estado-Maior do Exército, general Castelo Branco, implementaram no final do mês de janeiro, à revelia do presidente, um Acordo Militar com os Estados Unidos. Esse acordo, sob a forma de um ajuste pormenorizado, previa a necessidade de assistência ao Brasil para enfrentar ameaças, atos de agressão ou quaisquer outros perigos à paz e à segurança, conforme os compromissos assinalados na carta da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Em seu discurso em 19 de fevereiro, Jango demonstrou novo entusiasmo. As negociações com o FMI haviam sido restabelecidas, as conversações com credores europeus estavam programadas para março e havia perspectivas de novos investimentos europeus e japoneses. Mas os resultados não foram os esperados. Esses acordos isolados não representaram um alívio da crise dos pagamentos ao exterior.

Vendo suas últimas tentativas de controle financeiro tornarem-se infrutíferas, Jango voltou-se para uma ofensiva política a fim de consolidar a formação e unidade de uma frente de apoio às reformas de base. Deveria comparecer a uma série de comícios monstros nas principais cidades do país, a fim de mobilizar a maioria da população brasileira em favor das reformas. Desde então a agitação contra Goulart recrudesceu, unificando contra seu governo proprietários de terras, interesses norte-americanos que conspiravam através da embaixada, e a maioria das forças armadas.

Na segunda quinzena de março, o general Artur da Costa e Silva reuniu-se no Rio de Janeiro com os generais Castelo Branco e Cordeiro de Farias para fazer um balanço da situação nos quartéis de todo o país, revisar os códigos destinados ao uso dos insurretos e dividir entre si tarefas.

No dia 20 de março Castelo Branco lançou uma circular reservada aos oficiais do estado-maior e das suas organizações dependentes, alertando a oficialidade para as ameaças que as recentes medidas de Goulart traziam. Na madrugada de 31 de março o general Olímpio Mourão Filho , comandante da 4ª. Região Militar, sediada em Juiz de Fora (MG), iniciou a movimentação de tropas em direção ao Rio de Janeiro.


foto Manhã de 1º de abril de 1964. Tanques do 1oRecMec guardam o portão do Palácio das Laranjeiras onde está João Goulart. Simbolizam o apoio de um setor do Exército ao presidente.

Assim, na noite do dia 1º. de abril, Jango viajou para o Rio Grande do Sul com o objetivo de organizar a resistência e defender o poder legal. Contudo, em Porto Alegre, decidiu-se por deixar o país, ao reconhecer que lutar para manter o governo significaria desencadear uma guerra civil. No dia 4 de março de 1964 desembarcou no Uruguai em busca de asilo político.

Após os primeiros tempos na capital uruguaia, comprou uma propriedade agrícola próxima à fronteira do Brasil, onde se dedicou à criação de gado. Em 1966, tomou parte na Frente Ampla, movimento político que tinha como objetivo lutar pela pacificação política do Brasil com a plena restauração do regime democrático.

Com o fim da Frente, foram suspensas as atividades políticas de Jango, que a partir de então, radicado em Montevidéu, dedicou-se a administrar suas propriedades localizadas no Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil.

Em fins de 1973, o então presidente da Argentina, Juan Domingo Perón, convidou-o a morar em Buenos Aires e pediu-lhe que elaborasse um plano de expansão das exportações argentinas de carne para a Europa e outros mercados não tradicionalmente compradores do produto argentino. Entretanto, o então ministro do Bem-Estar Social e secretário particular de Perón, José Lopez Rega, opôs-se à sua designação. Ainda assim, Goulart decidiu permanecer em Buenos Aires.

Em março de 1976 o Exército argentino desbaratou na cidade de La Plata, um grupo de terroristas de extrema direita que tinha como plano seqüestrar o filho do ex-presidente João Vicente Goulart para exigir um alto resgate-em dinheiro. Com sua segurança comprometida, o ex-presidente afastou-se de Buenos Aires. Essas circunstâncias levaram ao encaminhamento de novas gestões para a sua volta ao Brasil. Os resultados a esse respeito foram retardados em virtude da proximidade do pleito eleitoral de novembro daquele ano.

Contudo, em dezembro de 1976, João Goulart faleceu em sua fazenda La Villa, no município argentino de Mercedes, sem ter conseguido regressar ao Brasil. Sua morte teve grande repercussão tanto no Uruguai como no Brasil. Foi sepultado em sua cidade natal, São Borja, na presença de 30.000 pessoas, entre as quais políticos oposicionistas e antigos colaboradores de seu governo.

Casou-se com Maria Teresa Fontela Goulart, com quem teve dois filhos.

[Fonte: Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001]

video
ENTREVISTA COM JOÃO GOULART EM 1961


João Goulart - Jango - O último Presidente Trabalhista


Google livro - João Goulart: entre a memória e a história - Por Marieta de Moraes Ferreira http://books.google.com.br/books?id=XJutYRSQ05oC&dq=João+Goulart&printsec=frontcover&source=bl&ots=qii9LOFP3-&sig=UjaxLpS9UtwCnCqtvypb32WYHjo&hl=pt-BR&ei=azgbS7XnNsORlAfl48nyCQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=16&ved=0CDsQ6AEwDw#v=onepage&q=&f=false

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Para as queridas amigas twitteras



Ela tem nome de mulher guerreira
E se veste de um jeito que só ela
Ela vive entre o aqui e o alheio
As meninas não gostam muito dela
Ela tem um tribal no tornozelo
E na nuca adormece uma serpente
O que faz ela ser quase um segredo
É ser ela assim tão transparente

Ela é livre e ser livre a faz brilhar
Ela é filha da terra, céu e mar
Dandara

Ela faz mechas claras nos cabelos
E caminha na areia pelo raso
Eu procuro saber os seus roteiros
Pra fingir que a encontro por acaso
Ela fala num celular vermelho
Com amigos e com seu namorado
Ela tem perto dela o mundo inteiro
E à volta outro mundo admirado

Ela é livre e ser livre a faz brilhar
Ela é filha da terra, céu e mar
Dandara

-Dandara-
Compositor(es): Ivan Lins/Francisco Bosco

4 de Dezembro é comemorado, em todo o mundo, o dia de Santa Bárbara.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Isadora Duncan



ISADORA DUNCAN

Isadora Duncan tornou-se uma personalidade marcante do século XX. Precursora da Dança Moderna, repudiou as técnicas do Balé clássico, deixando-se levar por movimentos expontâneos, criando vigoroso e livre estilo pessoal. Correndo como uma bacante, com túnicas vaporosas, os pés descalços e os cabelos semi-soltos, libertou a arte suspensa há séculos nos vasos gregos do Louvre, que lhe serviram de fonte de inspiração e evocação do espírito dionísiaco.



Norte-americana, nascida em São Francisco em 1877, Isadora partiu para a Europa em 1899 buscando afirmar-se como dançarina. Arrebatada pelas obras de Beethoven e Wagner e pelas imagens da Grécia Antiga, alcançou grande sucesso em Paris em 1902, ao apresentar-se no Teatro Sarah Bernhardt, iniciando uma série de triunfos que lhe dariam notabilidade mundial. Em agosto de 1916, aos 38 anos de idade, Isadora Duncan apresentou-se no Brasil no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
O desastre e afogamento de seus dois filhos em 1913 e o suicídio de seu ex-marido, o poeta russo Sergei Esenin (1895-1925), martirizaram Isadora até sua morte em Nice a 14 de setembro de 1927, quando sua longa echarpe, durante um passeio de automóvel, terminou por se enrolar em uma das rodas do conversível, sufocando inesperadamente sua trágica e gloriosa existência. "Está de luto a graça do mundo! Isadora Duncan (...) desapareceu com as linhas predestinadas do seu corpo e o abençoado condão de sua arte" - Revista da Semana, Rio, 1927.

Tamara Rojo - Isadora - part 1

ISADORA DUNCAN

Isadora Duncan became a remarkable personality of the XXth. Century. A forerunner of modern dance, she repudiated the techniques of classifical ballet allowing herself to be led by spontaneous movements, thus creating a free and vigorous personal style. Running around like a bacchant, dressed in vaporous tunics, her feet bare and her hair semi-lose, she freed the art that had been frozen for centuries on the Greek vases at the Louvre, which were the fountain of inspiration and evocation of the Dionysian spirit.
Born in San Francisco in 1877, the North American Isadora left for Europe, trying to assert herself as a dancer. Enraptured by the works of Beethoven and Wagner as well as by the images of ancient Greece, she reached enormous success during her performances at the Sarah Bernhardt Theatre in Paris in 1902, thus initiating a series of successes that would grant her world notoriety. In August 1916, aged 38, Isadora Duncan gave a series of performances in Brasil at the Municipal Theatre of Rio de Janeiro.

Tamara Rojo - Isadora - part 2


The accident and drowing of her two sons in 1913 as well as her ex-husband's, the Russian poet Sergei Esenin (1895-1925), suicide, tormented Isadora until her death in Nice on September 14, 1927, when her long scarf was caught in on of the wheels of the convertible car she was riding in, unexpectedly suffocating her tragic and glorius existence. "The grade of the world is in mourning! Isadora Duncan with the predestined lines of her body and the blessed wand of her art has disappeared" - Revista da Semana, Rio, 1927.

veja também http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=152

fontes Cultura e conhecimento - YouTube - foto net

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Augusto dos Santos



QUERENÇA

Eu queria te ter
Não muito.
Só um pouquinho.
Para me acompanhar no caminho;
Sinuoso e Sombrio,
Que se compõe este Labirinto.

"Augusto dos Santos"

sábado, 21 de novembro de 2009

Simone de Beauvoir e o seu pensamento revolucionário



A mais velha de duas filhas de Georges de Beauvoir, um advogado, e Françoise Brasseur, Simone mais tarde optou por se livrar de suas origens burguesas. Sua primeira moradia em Paris foi no boulevar Raspail. Filha exemplar e aluna brilhante no Curso Désir, teve uma infância tranqüila e marcada pela dedicação aos estudos.

Na escola, estava sempre em primeiro lugar, junto com a amiga Elizabeth Mabille ("Zaza"), com quem teve uma relação de muitos anos que foi abruptamente rompida com a morte precoce de Zaza. Simone narrou esse episódio de sua vida, posteriormente, em seu primeiro livro autobiográfico, Memórias de Uma Moça bem-comportada, em que critica os valores burgueses.

Conheceu Jean-Paul Sartre na Sorbonne, no ano de 1929, e logo uniu-se estreitamente ao filósofo e a seu círculo, criando entre eles uma relação polêmica e fecunda, que lhes permitiu compatibilizar suas liberdades individuais com sua vida em conjunto. Na verdade, é difícil caracterizá-los como casal, porque viveram longas relações amorosas cada um com outras pessoas; Beauvoir, por exemplo, teve uma forte relação com o escritor norte-americano Nelson Algren logo após a guerra, e na década de 1950 manteve outra relação duradoura com Claude Lanzmann. No verão, era comum Beauvoir e Lanzmann viajarem com Sartre e sua amante Michelle Vian, ex-esposa do escritor Boris Vian.

Foi professora de filosofia até 1943 em escolas de diferentes localidades francesas, como Ruão e Marselha.

Morreu de pneumonia em Paris, aos 78 anos.

As suas obras oferecem uma visão sumamente reveladora de sua vida e de seu tempo.


Em seu primeiro romance, A convidada (1943), explorou os dilemas existencialistas da liberdade, da ação e da responsabilidade individual, temas que abordou igualmente em romances posteriores como O sangue dos outros (1944) e Os mandarins (1954), obra pela qual recebeu o Prêmio Goncourt e que é considerada a sua obra-prima.

As teses existencialistas, segundo as quais cada pessoa é responsável por si própria, introduzem-se também em uma série de quatro obras autobiográficas, além de Memórias de uma moça bem-comportada (1958), destacam-se A força das coisas (1963) e Tudo dito e feito (1972).


Simone de Beauvoir , Sartre e Che

Entre seus ensaios críticos cabe destacar O Segundo Sexo (1949), uma profunda análise sobre o papel das mulheres na sociedade; A velhice (1970), sobre o processo de envelhecimento, onde teceu críticas apaixonadas sobre a atitude da sociedade para com os anciãos; e A cerimônia do adeus (1981), onde evocou a figura de seu companheiro de tantos anos, Sartre.

http://www.simonebeauvoir.kit.net/

Documentário Robert Burks, Uma Vida no Cinema



Alfred Hitchcock Presents - Robert Burks Documentary:

Robert Burks, Uma Vida no Cinema

Roteiro, Direção e Montagem: Rafael Ruzene
Narrado por: Caetano Cotrim
Realizado durante o 6º período do curso de Cinema Digital, Universidade Metodista SP, 2008/2009

Robert Burks foi o fotógrafo de praticamente todos os filmes da fase áurea de Alfred Hitchcock, tendo iniciado sua carreira nos filmes preto e branco dos anos 30.

Filmografia Hitchcock-Burks:
Pacto Sinistro
A tortura do silêncio
Disque M para matar
Janela Indiscreta
Ladrão de Casaca
O Terceiro Tiro
O Homem Errado
O homem que Sabia Demais
Um Corpo que Cai
Os Pássaros
Marnie

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Camille Claudel



Camille Claudel - Arte, paixão e loucura

Com apenas 17 anos, Camille chegou a Paris, onde conheceu um dos maiores artistas de seu tempo, Auguste Rodin, de quem se tornou assistente, musa e amante. A partir daí, seus destinos estariam para sempre entrelaçados
por Bia Baldim
Camille Claudel morreu em 1943, aos 79 anos de idade, pobre, sozinha numa cama de hospício, onde ficou por mais de 30 anos. Em vida, ela foi atormentada por um amor impossível, pelos preconceitos da sociedade francesa do século 19 e pela doença que a levou ao isolamento. A própria família a renegou. A sobrinha-neta de Camille, Reine-Marie Paris, autora de uma tese sobre a vida da artista (Camille Claudel, de 1984), conta que brincava entre as esculturas guardadas na casa do avô, Paul, irmão de Camille. “Até pouco tempo atrás, a família tinha vergonha da escultora e o nome de Camille sequer era pronunciado”, diz. Mas o que essa artista brilhante fez de tão grave? Por que suas obras ficaram escondidas e esquecidas por tanto anos?

Para entender a vida de Camille é preciso voltar à sua infância, na discretíssima Villeneuve-sur-Fère, na região de Champanhe, no sul da França. Ali, entre brincadeiras e pequenas aventuras ao lado de Paul, Camille foi uma criança fora dos padrões e alheia ao que se esperava de uma menina no século 19. Numa época em que as mulheres eram criadas para afazeres domésticos, ela estava sempre suja de barro e descabelada. Ela e o irmão caçula fugiam de casa para se aventurar nas montanhas que cercavam a aldeia. Paul Claudel, que mais tarde se tornaria um dos grandes escritores da França, descreveu o cenário de sua infância no livro Mémoires Improvisés (“Memórias Improvisadas”, sem versão em português), de 1954: “Vivíamos em terra agreste e selvagem, uma paisagem extremamente austera, com ventos e chuvas freqüentes”.



Para o desespero da mãe e orgulho do pai, Camille descobriu cedo o gosto pela escultura. Começou moldando argila, quase como uma brincadeira. Eram figuras inspiradas em Napoleão, Davi e Golias, além de membros da família. Na adolescência, um de seus professores foi o escultor Alfred Boucher. Foi ele que sugeriu ao pai de Camille, Luis-Prosper Claudel, que levasse a menina a Paris, onde ela poderia participar de grandes salões de arte e conhecer a nata intelectual e artística da época.

O pai de Camille acreditava na vocação da filha. E, apesar dos gastos que isso representava, em 1881 levou toda a família para Paris. Eles chegaram em uma charrete emprestada por um vizinho. “Todos estavam exaustos, apenas Camille, então com 17 anos, e a empregada Eugènie irradiavam alegria”, escreveu a francesa Anne Delbée, no livro Camille Claudel, Uma Mulher, biografia publicada na França em 1982.

Mas em Paris as dificuldades eram enormes para uma jovem artista. A escultura, além de ser uma atividade prioritariamente masculina, exigia materiais caríssimos como o mármore e o bronze. E mais: era preciso pagar um espaço relativamente amplo – os aluguéis em Paris, já naquela época estavam entre os mais caros do mundo – e o salário do trabalho de fundidores, auxiliares e modelos. Camille alugou um ateliê com mais três jovens artistas, todas inglesas. Uma delas, Jessie Lipscomb, tornou-se sua amiga para o resto da vida e uma das poucas pessoas que a visitariam no hospício. Elas dividiam também os pagamentos para o professor Alfred Boucher, que as orientava de vez em quando. Foi numa dessas visitas que Boucher apresentou o trabalho de Camille para Paul Dubois, diretor da Escola Nacional de Belas-Artes. Dubois notou a semelhança da obra da jovem com a de outro artista, que começava a despontar para a fama. “A senhorita já teve aulas com Auguste Rodin?” Camille nunca tinha ouvido falar no sujeito.



O encontro

“Na época, Rodin ainda não era famoso, mas já iniciara a experimentação conceitual e estilística que viria a caracterizar sua forma inusual de esculpir. Por isso, era odiado pelos críticos e amado pela vanguarda de Paris, ou seja, os impressionistas”, diz Jacques Vilain, historiador do Museu Rodin e co-autor de Rodin: A Magnificent Obsession (“Rodin: Uma Magnífica Obsessão”, inédito no Brasil). Se Camille ficou curiosa para conhecer o tal que esculpia igual a ela, esse sentimento durou pouco. “Apenas algumas semanas depois, Boucher viajou à Itália e pediu para um amigo assumir suas aulas particulares. Assim, numa tarde de maio de 1883, Rodin batia às portas das jovens escultoras”, diz Vilain.

Camille tinha 19 anos. Rodin, 45. Segudo Reine-Marie, Rodin teria entrado cheio de si no ateliê e não fez um só elogio sobre as obras expostas. Muito pelo contrário: apontou defeitos.

Mas ele gostou do que viu. Tanto que passou a freqüentar o local e, depois de dois anos, chamou Camille para trabalhar com ele. O convite coincidiu com um momento particularmente importante na carreira de Rodin. “Ele acabara de receber uma encomenda do governo francês para fazer As Portas do Inferno e Os Burgueses de Calais, obras de grande porte que precisariam de ajudantes para ser feitas”, afirma Vilain. “Camille era uma artesã habilidosa e por isso ficou incumbida de fazer os pés e as mãos das estátuas. Além disso dava opiniões e discutia idéias sobre as obras com Rodin.” Não se sabe quando a convivência entre o mestre e a aluna se tornou um caso de amor, mas as cartas que trocavam em 1886 são reveladoras da paixão e do ciúme que Camille, desde o início, já sentia. “Minha Camille, esteja segura de que não tenho nenhuma outra amiga e toda minha alma lhe pertence”, escreve Rodin. Camille responde: “Deito-me nua para imaginar que está ao meu lado, mas quando acordo já não é a mesma coisa”.

Rodin não estava sendo sincero. Nessa época, ele já vivia com Rose Beuret, com quem tinha um filho. Além disso, ostentava a fama de mulherengo. Mas Camille estava apaixonada e, em 1888, deixou a casa dos pais e passou a viver numa casa alugada por Rodin, que eles chamavam de “retiro pagão”. “Eles passam a freqüentar lugares públicos, tornando-se amantes assumidos. O que era um escândalo para a época”, afirma Liliana Wahba, psicóloga brasileira autora de Camille Claudel: Criação e Locura. Essa fase da vida de ambos é marcada por obras de intensa sensualidade.



No entanto, com o tempo (ah, o tempo, esse eterno vilão dos casos de amor!), Camille passou a se sentir sozinha. Vivia à espera de Rodin, que nem sempre aparecia. O relacionamento começou a deixá-la deprimida. Ela queria que Rodin se casasse com ela. Mas ele nunca chegou a deixar Rose. Jurava amor a Camille, mas dizia que não podia abandonar a mulher que havia estado ao seu lado nos momentos difíceis. Para a historiadora Monique Laurent, ex-diretora do Museu Rodin, em Paris, no entanto, isso não passava de uma desculpa. “Ele tinha medo de Camille. Sua inteligência e talento faziam dela uma artista que poderia suplantá-lo.”

Em 1892, Camille sofreu um aborto. Não se sabe se foi natural, mas o drama certamente a abalou. Ela abandonou o “retiro pagão” e decidiu se afastar de Rodin. Para recuperar o tempo perdido, se concentrou no trabalho para desvincular sua arte da do amante. É sua fase mais produtiva. Ela estuda a arte japonesa e dessa influência surgem algumas das suas mais belas obras, como As Bisbilhoteiras e A Onda. Apesar das críticas favoráveis, sua arte não era apreciada pelo grande público. “Em parte pelo preconceito por ser mulher. E, em parte, porque diziam que ela copiava Rodin”, afirma Liliana Wahba.

Rodin e Camille continuaram a se encontrar até 1898, quando romperam definitivamente. Camille passou então a viver trancada em seu estúdio, cercada por seus gatos. Ela estava com sérios problemas financeiros. Usava roupas e sapatos velhos, não comia direito e começou a beber. Depois que A Idade Madura, considerada sua obra mais autobiográfica, foi recusada pela Exposição Universal de 1900, Camille, com 36 anos, passou a achar que havia um complô de Rodin contra ela. Mas, apesar das suspeitas, ele continuava a intervir por ela, assegurando-lhe novas encomendas. Mas Camille foge de todos. Prefere viver sozinha, no silêncio e na escuridão. Sua última escultura é de 1906. Depois desse ano, destrói tudo o que esculpe. Os moldes de gesso ela joga no rio Sena ou os enterra, e proíbe que vejam o que faz. “A partir de então, suas angústias se tornam idéias fixas, até instalar-se a psicose”, diz Liliana.

Seu irmão estava longe, em missão diplomática na China. Seu pai estava velho, doente. Ela não tinha mais ninguém, nem dinheiro, nem saúde, nem inspiração. Restava-lhe o abandono e o medo. No dia 10 de março de 1913, uma semana após a morte do pai, a pedido da família, que arranjou uma certidão médica (ela foi diagnosticada como portadora de delírio paranóico), Camille foi levada à força para um hospício. Ela não sairia do hospital até o dia de sua morte, 30 anos depois, e jamais voltou a esculpir.

Liste exhaustive des sculptures de Camille Claudel http://www.camilleclaudel.asso.fr/pageweb/sculptures.html


Camille Claudel y el espíritu romántico por Víctor Sosa http://www.revista.agulha.nom.br/ag21claudel.htm

Filme
Camille Claudel, Bruno Nuytten, 1989, Baseado na biografia escrita por Raine-Marie, sobrinha-neta de Camille, o filme foi o responsável pelo “renascimento” das obras da escultora.
fonte: aventuras na história
Livros
Camille Claudel: Criação e Loucura, Liliana Liviano Wahba, 1998, O livro fala da família, de Rodin e da personalidade de Camille para avaliar a doença que a acometeu.
Camille Claudel, uma Mulher, Anne Delbée,1988, Traz trechos de cartas da escultora para o irmão.
Rodin, Monique Laurent, 1988, A historiadora francesa, ex-diretora do Museu Rodin, comenta a relação entre as obras de Camille e Rodin.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

PLANO COHEN - Estado Novo 10 / 11/ 1937



PLANO COHEN


Documento divulgado pelo governo brasileiro em setembro de 1937, atribuído à Internacional Comunista, contendo um suposto plano para a tomada do poder pelos comunistas. Anos mais tarde, ficaria comprovado que o documento foi forjado com a intenção de justificar a instauração da ditadura do Estado Novo, em novembro de 1937.



O panorama político no Brasil durante o ano de 1937 foi dominado pela expectativa da eleição do sucessor de Vargas, prevista para janeiro do ano seguinte. O presidente, contudo, alimentava pretensões continuístas e nos bastidores articulava o cancelamento do pleito. O pretexto para isso seria a iminência de uma revolução preparada pelos comunistas, conforme informações obtidas pelas autoridades militares.



Em setembro, realizou-se uma reunião da alta cúpula militar do país, na qual foi apresentado o Plano Cohen, supostamente apreendido pelas Forças Armadas.
Participaram dessa reunião, entre outros, o general Eurico Dutra, ministro da Guerra; o general Góes Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército (EME); e Filinto Müller, chefe de Polícia do Distrito Federal. A autenticidade do documento não foi questionada por nenhum dos presentes, e dias depois o Plano Cohen seria divulgado publicamente, alcançando enorme repercussão na imprensa e na sociedade ao mesmo tempo em que era desencadeada uma forte campanha anticomunista. O plano previa a mobilização dos trabalhadores para a realização de uma greve geral, o incêndio de prédios públicos, a promoção de manisfestações populares que terminariam em saques e depredações e até a eliminação física das autoridades civis e militares que se opusessem à insurreição.


Queima de bandeiras no Rio de Janeiro, durante o Estado Novo


Vargas aproveitou-se em seguida para fazer com que o Congresso decretasse mais uma vez o estado de guerrae, usando dos poderes que esse instrumento lhe atribuía, afastou o governador gaúcho Flores da Cunha, último grande obstáculo ao seu projeto autoritário. No dia 10 de novembro, a ditadura do Estado Novo foi implantada.



O "Nascer da Nova Era" (O Início da Ditadura)
O Congresso foi fechado e Getúlio fez um pronunciamento pelo rádio, anunciando o "nascer da nova era" e outorgando uma nova Constituição, previamente elaborada e de cunho nitidamente autoritário e fascista. Era, na verdade, o início da ditadura, que perdurou até 1945, período intitulado de Estado Novo, com um regime de governo que funcionou sem qualquer instituição parlamentar em atividade.




Em março de 1945, com o Estado Novo já em crise, o general Góes Monteiro denunciou a fraude produzida oito anos antes, isentando-se de qualquer culpa no caso. Segundo Góes, o plano fora entregue ao Estado-Maior do Exército pelo capitão Olímpio Mourão Filho, então chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB) Mourão Filho, por sua vez, admitiu que elaborara o documento, afirmando porém tratar-se de uma simulação de insurreição comunista para ser utilizada estritamente no âmbito interno da AIB. Ainda segundo Mourão, Góes Monteiro, que havia tido acesso ao documento através do general Álvaro Mariante, havia-se dele apropriado indevidamente. Mourão justificou seu silêncio diante da fraude em virtude da disciplina militar a que estava obrigado. Já o líder maior da AIB, Plínio Salgado, que participara ativamente dos preparativos do golpe de 1937 e que, inclusive, retirara sua candidatura presidencial para apoiar a decretação do Estado Novo, afirmaria mais tarde que não denunciou a fraude pelo receio de desmoralizar as Forças Armadas, única instituição, segundo ele, capaz de fazer frente à ameaça comunista.




Fonte: www.senado.gov.br
Fonte: www.cpdoc.fgv.br
Fotos: net

domingo, 8 de novembro de 2009

Mark Ryden

Em 2008 postei Mark Rayden, então mais um pouquinho deste pintor genial.





Mark Ryden norte – americano. Um dos mais respeitados artistas plásticos underground de todos os tempos.
Respeitado porque suas obras além de incomuns, fazem do artista o ícone do Pop e o Surreal.
Com sofisticação, consegue expressar no mesmo plano a inocência das 'história do imaginário infantil' com o religioso, o sinistro, bizarro, amável e grotesco: brinquedos, mundo encantado, rostos redondos angelicais, animais encantadores com muita doçura, junto com carne, símbolos alquimistas, sangue, demônios, Jesus Cristo e delírio total, fazem parte da mente do desenhista com intuito espantar tais idéias que nos deixam encabulados.





E não é atoa que Ryden foi convidado por algumas bandas a criar trabalhos gráficos em seus discos. Uma delas é a capa do Album "On Hot Minute", do Red Hot Chilli Peppers (1995).
Das obras de Ryden, foi usado um quadro pela banda épica Screaming Trees, no disco "Uncle Anesthesia" (1991) entre outros.
A identificação com seus quadros é fácil, mesmo porque, antes de achar algo estranho nos detalhes, lhe parecerá singelo e irônico na primeira vista. As percepções são vagarosas até se dar conta que no fundo, tudo é simplesmente tosco.




Um dos seus trabalhos mais famosos, com certeza foi "Rose #47". - a garotinha das lágrimas de sangue.





A música é de The Gathering, de seu álbum IF THEN ELSE, e é faixa 11: "Pathfinder".

Se quiser saber mais das Obras de Mark Ryden, entre neste site: http://www.markryden.com e divirtam-se...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

EpÍlogos - Gregório de Matos


Foto: Luciana Dias


EpÍlogos
Que falta nesta cidade?...................................Verdade
Que mais por sua desonra ..............................Honra
Falta mais que se lhe ponha ...........................Vergonha.

O demo a viver se exponha,
por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?.............................. Negócio
Quem causa tal perdição? ................................ Ambição
E o maior desta loucura?.................................. Usura.

Notável desaventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.

Quais são os seus doces objetos?....................... Pretos
Tem outros bens mais maciços?........................ Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos?...................... Mulatos.

Dou ao demo os insensatos,
dou ao demo a gente asnal,
que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos?......................... Meirinhos
Quem faz as farinhas tardas? ...............................Guardas
Quem as tem nos aposentos? ............................. Sargentos.

Os círios lá vêm aos centos,
e a terra fica esfaimando,
porque os vão atravessando
Meirinhos, Guardas, Sargentos.

E que justiça a resguarda? ................................ Bastarda
É grátis distribuída? ......................................... Vendida
Que tem, que a todos assusta?............................ Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa,
o que El-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.

Que vai pela clerezia? ........................................ Simonia
E pelos membros da Igreja? ............................. Inveja
Cuidei, que mais se lhe punha?......................... Unha.

Sazonada caramunha!
enfim que na Santa Sé
o que se pratica, é
Simonia, Inveja, Unha.

E nos Frades há manqueiras?........................... Freiras
Em que ocupam os serões? .............................. Sermões
Não se ocupam em disputas?............................ Putas.

Com palavras dissolutas
me concluis na verdade,
que as lidas todas de um Frade
são Freiras, Sermões, e Putas.

O açúcar já se acabou?..................................... Baixou
E o dinheiro se extinguiu?............................... Subiu
Logo já convalesceu? .......................................... Morreu.

À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.

A Câmara não acode?........................................ Não pode
Pois não tem todo o poder?.............................. Não quer
É que o governo a convence? .............,............. Não vence.

Quem haverá que tal pense,
que uma Câmara tão nobre
por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence.


"A cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, durante milênios, capacitou o homem a ser menos escravizado."
- La culture [...] en elle, de toutes les formes d´art, d´amour, de grandeur et de pensée qui, au cours des millénaires, ont sucessivement permis à l´homme d´être moins esclave
- André Malraux (Ministro de Estado dos Assuntos Culturais), discurso em Brasília, em 25 de agosto de 1959

Em 15 de maio de 1970, a lei nº 5.579 instituiu o "Dia da Cultura e da Ciência", comemorado a 5 de novembro de cada ano, como homenagem a data natalícia de figuras exponenciais das letras e das ciências, no Brasil e no mundo. A data teve como inspiração o Conselheiro Rui Barbosa, nascido a 5 de novembro de 1849.


Foto:Juliana Camargo Macedo

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Dia 4 de novembro faz 40 anos que assassinaram Carlos Marighella

A história da América Latina é uma história de injustiça e exploração. Mas é também,e sobretudo,a saga da resistência de homens e mulheres que, ao longo de cinco séculos, deram suas vidas no combate aos usurpadores das riquezas do continente



Quatro de novembro de 1969, São Paulo. Em uma operação que envolveu um total de 29 homens, a equipe do DOPS chefiada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury mataria Carlos Marighella, o líder comunista mais procurado do Brasil, em uma emboscada na Alameda Casa Branca. As ordens eram claras: Marighella não deveria ser preso. Na disputa pelo mérito de ter eliminado o fundador e comandante da Ação Libertadora Nacional (ALN), uma investigadora foi morta e um delegado foi ferido.



Carlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911. Era filho de imigrante italiano com uma negra descendente dos haussás, conhecidos pela combatividade nas sublevações contra a escravidão.

De origem humilde, ainda adolescente despertou para as lutas sociais. Aos 18 anos iniciou curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia e tornou-se militante do Partido Comunista, dedicando sua vida à causa dos trabalhadores, da independência nacional e do socialismo.

Conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor Juracy Magalhães.

Libertado, prosseguiria na militância política, interrompendo os estudos universitários no 3o ano, em 1932, quando deslocou-se para o Rio de Janeiro.
Em 1o de maio de 1936 Marighella foi novamente preso e enfrentou, durante 23 dias, as terríveis torturas da polícia de Filinto Müller. Permaneceu encarcerado por um ano e, quando solto pela “macedada” – nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação -- deixou o exemplo de uma tenacidade impressionante.



Transferindo-se para São Paulo, Marighella passou a agir em torno de dois eixos: a reorganização dos revolucionários comunistas, duramente atingidos pela repressão, e o combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio Vargas.

Voltaria aos cárceres em 1939, sendo mais uma vez torturado de forma brutal na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, mas se negando a fornecer qualquer informação à polícia. Na CPI que investigaria os crimes do Estado Novo o médico Dr. Nilo Rodrigues deporia que, com referência a Marighella, nunca vira tamanha resistência a maus tratos nem tanta bravura.

Recolhido aos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande pelo seis anos seguintes, ele dirigiria sua energia revolucionária ao trabalho de educação cultural e política dos companheiros de cadeia.

Anistiado em abril de 1945, participou do processo de redemocratização do país e da reorganização do Partido Comunista na legalidade. Deposto o ditador Vargas e convocadas eleições gerais, foi eleito deputado federal constituinte pelo estado da Bahia. Seria apontado como um dos mais aguerridos parlamentares de todas as bancadas, proferindo, em menos de dois anos, cerca de duzentos discursos em que tomou, invariavelmente, a defesa das aspirações operárias, denunciando as péssimas condições de vida do povo brasileiro e a crescente penetração imperialista no país.



Com o mandato cassado pela repressão que o governo Dutra desencadeou contra o comunistas, Marighella foi obrigado a retornar à clandestinidade em 1948, condição em que permaneceria por mais de duas décadas, até seu assassinato.

Nos anos 50, exercendo novamente a militância em São Paulo, tomaria parte ativa nas lutas populares do período, em defesa do monopólio estatal do petróleo e contra o envio de soldados brasileiros à Coréia e a desnacionalização da economia. Cada vez mais, Carlos Marighella voltaria suas reflexões em direção do problema agrário, redigindo, em 1958, o ensaio “Alguns aspectos da renda da terra no Brasil”, o primeiro de uma série de análises teórico-políticas que elaborou até 1969. Nesta fase visitaria a China Popular e a União Soviética, e anos depois, conheceria Cuba. Em suas viagens pôde examinar de perto as experiências revolucionárias vitoriosas daqueles países.



Após o golpe militar de 1964, Marighella foi localizado por agentes do DOPS carioca em 9 de maio num cinema do bairro da Tijuca.

Enfrentou os policiais que o cercavam com socos e gritos de

“Abaixo a ditadura militar fascista” e “Viva a democracia”, recebendo um tiro a queima-roupa no peito. Descrevendo o episódio no livro “Por que resisti à prisão”, ele afirmaria: “Minha força vinha mesmo era da convicção política, da certeza (...) de que a liberdade não se defende senão resistindo”.

Repetindo a postura de altivez das prisões anteriores, Marighella fez de sua defesa um ataque aos crimes e ao obscurantismo que imperava desde 1o de abril. Conseguiu, com isso, catalisar um movimento de solidariedade que forçou os militares a aceitar um habeas-corpus e sua libertação imediata. Desse momento em diante, intensificou o combate à ditadura utilizando todos os meios de luta na tentativa de impedir a consolidação de um regime ilegal e ilegítimo. Mas, mantendo o país sob terror policial, o governo sufocou os sindicatos e suspendeu as garantias constitucionais dos cidadãos, enquanto estrangulava o parlamento. Na ocasião,
Carlos Marighella aprofundou as divergências com o Partido Comunista, criticando seu imobilismo.



Em dezembro de 1966, em carta à Comissão Executiva do PCB, requereu seu desligamento da mesma, explicitando a disposição de lutar revolucionariamente junto às massas, em vez de ficar à espera das regras do jogo político e burocrático convencional que, segundo entendia, imperava na liderança. E quando já não havia outra solução, conforme suas próprias palavras, fundou a ALN –

Ação Libertadora Nacional para, de armas em punho, enfrentar a ditadura.

O endurecimento do regime militar, a partir do final de 1968, culminou numa repressão sem precedentes. Marighella passou a ser apontado como Inimigo Público Número Um, transformando-se em alvo de uma caçada que envolveu, a nível nacional, toda a estrutura da polícia política.

Na noite de 4 de novembro de 1969 – há exatos 40 anos -- surpreendido por uma emboscada na alameda Casa Branca, na capital paulista, Carlos Marighella tombou varado pelas balas dos agentes do DOPS sob a chefia do delegado Sérgio Paranhos Fleury.

LIBERDADE
Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.
Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.
Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.
E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome”
São Paulo, Presídio Especial, 1939.


Em novembro de 1969, quando Carlos Marighella foi assassinado, seu corpo foi sepultado às pressas pelos militares, que temiam pudessem ocorrer manifestações populares de apoio ao líder assassinado. Na ocasião, como recorda seu filho Carlos Augusto, a família chegou a receber ameaças à sua segurança, caso tentasse remover o corpo de São Paulo.
Somente em 1979, quando a Anistia acabava de ser efetivada, Clara Charf, companheira de Marighella, e o filho Carlos Augusto, puderam realizar o traslado dos restos mortais para Salvador. A data escolhida pela família foi 10 de dezembro, que já era instituído internacionalmente como o Dia dos Direitos Humanos. A data aproxima-se também do aniversário de nascimento de Marighella, 5 de dezembro.





Fonte: www.CamiloCapiberibeOrg - www.carlosmarighellanombr - www.emilianojosé.com.br

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

The sound Of Silence Lyrics

Simon And Garfunkel



No ciclo eterno das mudáveis coisas

No ciclo eterno das mudáveis coisas
Novo inverno após novo outono volve
À diferente terra
Com a mesma maneira.
Porém a mim nem me acha diferente
Nem diferente deixa-me, fechado
Na clausura maligna
Da índole indecisa.
Presa da pálida fatalidade
De não mudar-me, me fiel renovo
Aos propósitos mudos
Morituros e infindos.

Fernando Pessoa / Ricardo Reis